Hoje o CINEMATOGRAFIA QUEER traz sua primeira entrevista. A página falou com Lucas Drummond, ator, roteirista, produtor e realizador. Fundador da Gaulia Produções Artísticas, Lucas está completamente imerso na dramaturgia, já tendo atuado em Chacrinha o Musical dirigido por Andrucha Waddington e Online (2018), ao lado de Paulo Gustavo e sob direção de João Fonseca.
Atualmente está em cartaz com a peça Órfãos, dirigida por Fernando Philbert, projeto que lhe rendeu uma indicação ao prêmio APTR na categoria Melhor Ator Protagonista. Além de atuar ao lado de Ernani Moraes e Rafael Queiroz, Drummond também assina a idealização e coordenação do projeto.
Lucas Drummond: Eu acredito que tudo o que a gente escreve, de alguma forma tem a ver com a
C.Q.: Como você descreve a sua evolução como artista entre a filmagem de um e de outro?
L.D.: Caio e eu somos muito amigos. Ele é um artista muito sensível, inteligente. Sabe conduzir o set de uma maneira doce, tranquila. E isso faz toda diferença. Desenvolvemos uma relação de tanta cumplicidade e confiança, que eu me liberto completamente de qualquer ideia pré concebida que eu tenha sobre roteiro e personagens e entrego nas mãos dele. Ele consegue fazer eu me surpreender
muitas vezes comigo mesmo e isso é incrível para qualquer ator.
C.Q.: Você é uma das estrelas de Seguindo Todos os Protocolos(2022), de Fabio Leal. Como nasceu essa relação? O papel foi pensado para você?
L.D.: Fábio e eu nos conhecemos durante a pandemia, quando participamos juntos de uma live conduzida pelo André Fischer, diretor do Festival Mix Brasil, sobre uma mostra de filmes promovida pelo festival, na qual o Depois Daquela Festa e o Reforma, curta do Fábio, iam ser exibidos. Trocamos uma ideia depois da live e trocamos também os links dos nossos filmes. E foi isso.
Alguns meses depois, o Fábio me escreveu, perguntando se eu tinha um “reel”(material de vídeo de ator). Disse que ia dirigir um longa e queria me testar para um dos personagens. Eu mandei o reel e logo em seguida ele me retornou com a cena do Vinícius, personagem que eu faço no Seguindo Todos Os Protocolos (STOP), marcando um teste. Me preparei e, no dia do teste (que era virtual), foi tudo uma cagada. Meu teste não foi bom, a proposta que eu tinha trazido não era bem o que o Fábio queria. Mas ele me pediu umas alterações e marcou um novo encontro uma semana depois. E aí foi
incrível. Super rolou. Duas semanas depois, ele me ligou e disse que eu tinha pego o papel. E foi um dos projetos mais incríveis que fiz até hoje. Tenho muito orgulho deste filme.
C.Q.: Estar em um filme que esteve em circuito nacional e também em festivais internacionais te abriu portas?
C.Q.: Em relação a projetos futuros, você pode adiantar o que vem por aí? Quando te veremos em um novo longa?
L.D.: Desde outubro de 2022, eu estou em cartaz com uma peça, Órfãos. É um texto norte-americano, que eu comprei os direitos, levantei, produzi e protagonizo, ao lado do Ernani Moraes e do Rafael Queiroz. Nós acabamos de encerrar uma temporada e voltamos em cartaz novamente, em junho, no Teatro da Laura Alvim, no Rio de Janeiro. É um projeto do qual eu tenho um orgulho imenso e que inclusive me rendeu uma indicação ao Prêmio APTR, que é um dos prêmios de teatro mais
importantes do Brasil. Além disso, eu acabei de fazer um personagem no novo longa do Felipe Sholl,
Ruas da Glória, produzido pela Syndrome Films. O filme tem previsão de lançamento para 2024. Eu tô muito curioso para assistir, o roteiro é foda, rs! E eu já era fã do Sholl desde Tá, que foi o primeiro curta gay que eu vi na vida. Tinha muita vontade de trabalhar com ele e foi uma experiência maravilhosa. Fun fact: A filmografia do Sholl, em especial o Tá, está tão presente no meu imaginário, que o Todos Os Prêmios também é sobre um casal, gay, e também se passa inteiro dentro
de um banheiro.
C.Q.: Como você analisa produzir cinema hoje no Brasil?
que ninguém te diz.
C.Q.: É mais árduo quando as obras estão destinadas ao público LGBTQIA+?
C.Q.: Fale um pouco sobre a experiência na série Todxs nós(2020), da HBO, dirigida por Daniel Ribeiro, de Hoje eu quero Voltar Sozinho e Vera Egito?
L.D.: Essa pergunta é interessante! Eu acho que, independente de ser musical ou não, o processo no teatro é muito diferente do processo no cinema. No teatro, você tem muito mais tempo para estudar, experimentar e explorar o personagem. E você também passa muito mais tempo “sendo” o personagem, sabe? Se a peça tem 1h30, durante essa 1h30 você é aquele personagem. Já no cinema, embora também haja um processo de ensaios e preparação, são muitas coisas acontecendo
ao mesmo tempo em um set, as cenas são gravadas uma a uma, divididas em planos, quase sempre mais de um take por plano, então, o seu tempo “sendo” o personagem é menor. Além disso, você tem uma câmera ali que capta tudo o que está acontecendo dentro de você, então você pode explorar uma construção mais intimista, menor.
C.Q.: Quais suas referências cinematográficas e literárias? Cite algumas obras.
L.D.: Vixe... eu tenho muitas, rs. Mas eu me inspiro muito em artistas que se produzem. O Xavier Dolan, por exemplo, é uma forte referência. Escreve, produz, dirige e atua nos próprios filmes. Eu acho isso fantástico! O Josh Thomas e o Kit Williamson, roteiristas, produtores e protagonistas de Please Like Me e Eastsiders, respectivamente, são outros dois grandes exemplos. Paulo Gustavo também, com quem tive o prazer de trabalhar no último espetáculo que ele fez, Online, também
foi um cara que enfrentou o mercado e se fez. Essa galera me inspira muito.
C.Q.: Há mais algo que você gostaria de acrescentar?
DEPOIS DAQUELA FESTA(2019)
Escrito por Lucas Drummond e Mel Carvalho e dirigido por Caio Scot, Depois Daquela Festa foi realizado inteiramente com financiamento coletivo. Estreou no REELING: The Chicago LGBTQ International Film Festival, em setembro de 2019, e desde então foi selecionado para 62 festivais em 26 países. O filme segue Leo, que fica espantado ao ver seu pai beijando outro homem em uma festa. Reflexivo e contando com a ajuda de Carol, sua melhor amiga, ele precisa encontrar a forma perfeita de contar a ele que descobriu seu segredo. Desde que encerrou sua carreira em festivais, o curta foi licenciado para diversos canais de televisão e plataformas de streaming como Telecine, Megapix, Spcine play, MyDekkoo, Globoplay e SESC Digital.
TODOS OS PRÊMIOS QUE EU NUNCA TE DEI(2022)
Todos Os Prêmios Que Eu Nunca Te Dei renovou a parceria entre os atores e roteiristas Lucas Drummond e Mel Carvalho e o diretor Caio Scot. O filme estreou em abril de 2022, em Varsóvia, no LGBT Festival Poland, um dos maiores festivais de filmes LGBT da Europa. Selecionado para 24 festivais, venceu o prêmio do júri de Melhor Curta no Fargo-Moorhead LGBT Film Festival, nos Estados Unidos. Delicadamente dirigido e atuado, o filme narra um encontro inesperado entre dois jovens atores, no banheiro de uma premiação, trazendo à tona sentimentos mal resolvidos e uma história de amor que talvez ainda não tenha tido o seu ponto final.
TODXS NÓS(2020)
A série criada por Daniel Ribeiro, Heitor Dahlia e Vera Egito tem no cerne de sua trama Rafa, uma jovem pansexual de 18 anos, que se identifica como não-binária. Quando deixa a casa de seus pais no interior e se muda para a cidade de São Paulo seus horizontes se ampliam.
SEGUINDO TODOS OS PROTOCOLOS(2022)
“Seja Kinky” diz Francisco, o protagonista interpretado pelo diretor Fábio Leal, ao tentar formas seguras de fazer sexo. Usando de criatividade, e uma paranoia com higiene, o personagem começa a marcar encontros, e então experimentar novas formas de prazer, sempre com o uso de máscara. Lucas Drummond surge como Vinícius para iluminar a tela com beleza, ternura e esperança.
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