sábado, 4 de outubro de 2025

Monstro: A História de Ed Gein (Monster: The Ed Gein Story, EUA, 2005)

A nova temporada de “Monster”  transforma Ed Gein (Charlie Hunnam) em uma criatura quase mítica,  um homem que atravessa o século XX com um corpo delicado, um olhar perturbado e uma mente esquizofrênica que nunca soube distinguir o que estava vivo ou morto. Ryan Murphy entrega um espetáculo estilizado: Ed se masturba de lingerie, veste máscaras de pele humana e vagueia por uma casa onde a mãe Augusta (Laurie Metcalf) continua ditando regras mesmo depois da morte.

Murphy não tem medo de expor a morbidez com seu glamour habitual. O corpo nu de Charlie Hunnam é filmado, enquanto músicas suaves da época contrastam com o horror em tela. Há um ritmo necro-pop na crueldade, um desfile de fetiches, cordas, crânios, lingerie e cadáveres que se tornam peças de coleção. A fascinação de Ed por revistas nazistas e por Ilse Koch (Vicky Krieps), “A Cadela de Buchenwald”, insere o mal como espetáculo: ela aparece como uma espécie de mentora do caos, conduzindo Eddie a uma estética da violência.

Mas se a história real já é suficiente para provocar, Murphy e Ian Brennan a expandem para o terreno da cultura pop. Alfred Hitchcock (Tom Hollander, que trabalhou com criador em Capote vs the Swans) estuda a vida de Gein para criar “Psicose", enquanto Anthony Perkins (Joey Polari) vive um conflito que ecoa os desejos de Norman Bates. Nos bastidores, vemos Perkins, num caso com Tab Hunter (Jackie Kay). É nessa linguagem meta que Murphy encontra sua assinatura: o horror não é só o do porão de Wisconsin, mas também o de Hollywood transformando psicopatas em entretenimento.

Com o desenrolar da temporada, o espetáculo se torna cada vez mais consciente de si mesmo. Adicionando camadas POP, Ryan Murphy transforma a cantora Addison Rae em Evelyn, uma das vítimas. Adeline (Suzanna Son), figura ambígua, acompanha os crimes de Gein com conivência. O encontro com Bernice Worden (Lesley Manville), dona de uma loja, revela outro aspecto, o desejo de possuir seios, o fascínio por usar a calcinha dela, além da presença necrófila que fará dele um violador de túmulos


A atração, também é uma homenagem aos filmes de terror e recria diretamente imagens de “O Massacre da Serra Elétrica". Em paralelo, a narrativa corta para 1968, onde Tobe Hooper (Will Brill), com baseado na mão e ideias na cabeça, começa a conceber seu filme. O nascimento de Leatherface se entrelaça com o próprio Ed vestindo corpos femininos. E Ryan Murphy, claro, não resiste: costura referências pop, cultura queer, música, de Patti Page e Iron Butterfly, até desembocar nas filmagens icônicas do terror texano.

Quando a polícia invade a casa de Gein, revelando abajures de pele, vulvas mumificadas e vísceras penduradas, a cena não é apenas registro de morbidez, mas um show montado para o olhar da mídia. A “Casa dos Horrores” rapidamente se transforma em atração pública, e Murphy denuncia como o sensacionalismo devora cadáveres com o mesmo apetite do próprio assassino. Ao som de Doris Day ou Jody Reynolds, o macabro ganha um verniz de jukebox, e a cultura pop se torna canibal.

O resultado é uma temporada que encanta mais pelos visuais do que choca. Do grotesco ao camp, das silhuetas de Hitchcock às serras elétricas, de Buffalo Bill à números musicais camp, Murphy faz do horror  um espelho distorcido. Se “Dahmer" era puro fedor, e os Menendez exibiam um homoerotismo envernizado, “Monster: The Ed Gein Story” se destaca pela metalinguagem, pelo diálogo com a cultura pop e com o fanatismo por sensacionalismo. É uma dança mórbida entre serial killers da história.

sexta-feira, 3 de outubro de 2025

Twinless (EUA, 2025)


 “Twinless", de James Sweeney, é uma espécie de romance funerário, um filme sobre perda, identidade e sobre como reconstruir o que nos restou. Roman (Dylan O’Brien) vive marcado pela morte do irmão gêmeo Rocky, figura viva em flashbacks, cuja ausência ainda molda quem ele é. Ao entrar num grupo de apoio para pessoas que perderam seus gêmeos, Roman conhece Dennis (James Sweeney), homem gay cuja própria dor espelha, em formas diferentes, a de Roman. Entre amizade, segredos e desejo de pertencimento, nasce algo inesperado, nem só conforto, nem só conflito, mas uma teia de afetos instáveis.

O enredo de “Twinless" evita o maniqueísmo. Dennis não é “o amigo coitado” nem “o vilão queer”; ele convive com sua excentricidade, suas falhas, sua manipulação e sua necessidade de apego. Roman, por sua vez, alterna entre viver sob a sombra de Rocky e buscar uma vida própria. A presença de Marcie (Aisling Franciosi), colega de Dennis, adiciona outra camada: quando Roman começa a namorá-la, a dinâmica entre os dois homens é sacudida, revelando ciúmes, desejos soterrados e a ambiguidade da amizade íntima. O filme explora como o luto pode se transformar em dependência emocional, e como o desejo pode emergir ali onde menos se espera.

“Twinless” tem momentos de pura beleza e estilo. A fotografia de Greg Cotten capta o vazio, a arquitetura de Portland, o espaço dos apartamentos, o uso de reflexos, de espelhos, de divisões visuais, como a tela dividida que aparece em instantes significativos. Há também cortes de som silenciosos que amplificam a tensão, e a música de Jung Jae-il (sim, o mesmo de “Parasita") ajuda a dar textura emocional: notas suaves, pausas, uma melancolia que parece respirar.

O que torna “Twinless” especialmente interessante é como ele mexe com gêneros de vínculo masculino, de identidade homoafetiva, sexo, desejo e ambivalência entre mensurabilidade emocional e performance pública de masculinidade. Dennis é gay e expressa isso, Rocky era um irmão abertamente gay; Roman carrega essa herança também. Há cenas de nudez parcial, de momentos de desejo explícito, e sexo quente que viralizou na internet. O filme não se envergonha de mostrar os corpos, o toque, a atração, mas nunca abre mão do humor.

“Twinless” é uma obra profunda e incômoda.  É um filme que pergunta, mais do que responde, sobre como o passado ainda está presente, sobre como o amor nem sempre alivia, mas também sobre como a amizade pode ser perigosa, bela, dolorosa. James Sweeney entrega não só um retrato de luto, mas uma reflexão sobre identidade, pertencimento e o peso de “ser o que resta” de alguém.

Love Kills (Brasil, 2025)

“Love Kills”, de Luiza Shelling Tubaldini, inspirado na graphic novel de Danilo Beyruth, chega como uma obra rara e necessária: um terror brasileiro urbano que ousa beber da fonte dos vampiros não como clichê, mas como metáfora pungente para exclusão social, desejo e sobrevivência. 

São Paulo, filmada por Jacob Solitrenick com uma câmera que oscila entre a podridão da Cracolândia e a sedução dos néons, torna-se a morada perfeita para vampiros. Entre arranha-céus que nunca dormem e esquinas onde a noite não termina, “Love Kills” constrói sua atmosfera: uma metrópole insone, marginalizada e, portanto, propícia para criaturas das trevas. O contraste entre degradação urbana e estética estilizada remete a ecos de “Blade” e “A Rainha dos Condenados”, mas com identidade profundamente brasileira.

No centro da narrativa está Helena (Thais Lago), uma vampira negra cuja presença magnética vai muito além da mitologia clássica. Sua relação com Marcos (Gabriel Stauffer), um garçom ingênuo atraído para o submundo noturno, é tanto um jogo de sedução quanto um mergulho em relações de poder. Ao redor deles, corpos masculinos são filmados com atenção ao desejo, corpos femininos reivindicam espaço, e surge Victor (Flow Kontouriotis), criatura que rompe códigos de gênero e se afirma como “veade”, tensionando binarismos e trazendo ao filme uma dimensão queer explícita que faz brilhar o olhar do espectador LGBTQIA+, diante a presença do “vampire”.

Tubaldini, que já vinha se dedicando a narrativas fantásticas, entende os vampiros como metáfora atualíssima. Em “Love Kills", eles representam mulheres marginalizadas, vítimas de violência, corpos que carregam feridas de exclusão, mas também desejo de vingança e poder. O subtexto queer é trabalhado não apenas nos diálogos, mas na própria maneira como o filme filma corpos e relações, sugerindo que o monstro é, muitas vezes, a sociedade que expulsa, nega e condena.

As sequências de ação iluminadas por neon trazem dinamismo e estilo, mas é no ritmo das relações que “Love Kills” encontra sua sede por sangue. A diretora escolhe não suavizar os arquétipos, mas tensioná-los: a vampira não é apenas predadora, é sobrevivente; o humano não é apenas vítima, é cúmplice do fascínio. A estilização nunca apaga a camada social, a cidade devastada pelo crack, os espaços de exclusão e violência, a metáfora latente do vampiro que rompe normas.

“Love Kills” é um filme que reimagina o mito do vampiro dentro do Brasil contemporâneo, entre ruínas urbanas e corpos dissidentes, entre desejo e perigo. Luiza Shelling Tubaldini prova que terror e fantasia, quando levados a sério, podem se tornar ferramentas políticas e sensuais de reinvenção do nosso olhar.


Agua Salá (Colômbia, 2025)


 “Agua Salá”, estreia do colombiano Steven Morales Pineda, se inscreve no mapa do cinema queer latino-americano como um drama íntimo, árduo e perturbador. O reencontro entre Jacobo (Luis Mario Jiménez), um homem de 33 anos marcado por rachaduras invisíveis, e José Luis (Óscar Salazar), padre em processo de afastamento do clero após acusações de abuso, é a base de um filme que foge ao binarismo do vilão e da vítima. Mais do que confronto, Morales Pineda aposta em silêncios, olhares e tensões para explorar os nós entre trauma, paixões proibidas e afeto residual.

Filmado em Puerto ,Colômbia, o cenário costeiro se torna metáfora do estado interno de Jacobo: a oscilação entre calmaria e tormenta, a densidade da água salgada que envolve e sufoca. A fotografia de Andrés Sotomayor privilegia planos contemplativos, onde a ausência de diálogo força o espectador a habitar o desconforto. Cada pausa, cada respiração suspensa, revela mais do que as palavras poderiam.

O grande mérito de “Agua Salá” é não se satisfazer com a narrativa do trauma como ferida linear. Jacobo, adulto, sente não apenas ressentimento, mas também luxúria e um resquício de afeto pelo homem que o marcou na infância. Esse desejo contraditório, impregnado de culpa e repulsa, dialoga com a repressão religiosa e com a violência estrutural de uma sociedade católica. O filme se afasta do didatismo: em vez de apontar respostas, expõe as zonas cinzentas onde eros e dor se confundem.

Luis Mario Jiménez carrega o filme com uma performance de contenção magnética. Seu Jacobo é feito de gestos interrompidos, olhares que evitam e retornam, silêncios que pesam como monólogos. Já Óscar Salazar entrega um José Luis que não é pura monstruosidade, mas uma figura humana em ruína, entre vergonha, desejo e fragilidade. Juntos, os dois compõem um duelo íntimo que se desenrola menos em palavras do que na linguagem dos corpos.

Há coragem em “Agua Salá” ao tratar do abuso e do desejo queer de forma entrelaçada, recusando o conforto das soluções fáceis. Nesse sentido,se aproxima de obras como “Mysterious Skin”, de Gregg Araki, mas traz uma especificidade latino-americana: o peso da fé católica e a atmosfera litorânea da Colômbia. O caráter autobiográfico do projeto, Morales Pineda investiu suas próprias economias para realizá-lo e buscou inspiração em experiências pessoais, reforça a urgência e a verdade que perpassam cada cena.

Não há catarse em “Agua Salá”. O que resta é a inquietação: um filme que exige paciência e entrega, e que não teme colocar o espectador diante da contradição entre desejo e trauma. É uma obra que incomoda e resiste, marcada pela coragem de não oferecer respostas definitivas. 

quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Apenas Coisas Boas (Brasil, 2025)

“Apenas Coisas Boas”, dirigido e escrito por Daniel Nolasco, chega como um romance homoerótico rural intenso. Em 1984, o filme narra o encontro entre Antônio (Lucas Drummond), que vive isolado cuidando de sua pequena fazenda na região campestre de Goiás, e Marcelo (Liev Carlos), um motociclista solitário que sofre um acidente ao atravessar a região, e nas reverberações desse amor ao longo de décadas. Fernando Libonati aparece como Antônio na maturidade.

Munido de uma espingarda e um farto bigode sedutor, Lucas Drummond, em seu primeiro papel protagônico no cinema domina a tela: isolado, rústico, sensível ao toque, ao desejo e ao silêncio. Liev Carlos como Marcelo é o contraponto. No segundo ato, Fernando Libonati retorna como Antônio mais velho, marcado pela vida. Porém mais urbano e trazendo uma bem-vinda representatividade a corpos maduros. Renata Carvalho enriquece com Helga, uma funcionária, que introduz arbitrariedades de poder e presença feminina forte no interior desse amor de testosterona.

A cinematografia de Larry Machado impressiona desde a primeira cena, com planos amplos da paisagem rural, luz dourada cortando os arbustos e os corpos em intimidade vibrante. Onde o filme mais encanta é no seu romance traduzido em homoerotismo latente, na nudez, no sexo explícito, oral, cruising, voyeurismo, numa teia que costura passado e presente. As cenas são filmadas sem pudor ou vergonha, mas também sem sensacionalismo: são necessárias para mostrar o desejo como carne, como pulsação vital que resiste ao silêncio, uma marca do diretor.

A trilha sonora vai de Thiago Petit e Tiê a Ângela Maria, costurando passado e presente em melodias que oscilam entre o melancólico, o rural e o quase festivo. Além dos sons da natureza, são músicas que acendem lembranças, que atravessam o tempo vivido e revivido. Assim como o visual, quase anacrônico, com cartazes masculinos numa loja de conveniências, ou referências a Tom of Finland, a música assume papel de protagonista nos momentos de desejo e de perda, intensificando o que as palavras não dizem.

Em “Apenas Coisas Boas”, há um diálogo claro com "Vento Seco" (2020), o notável filme anterior de Nolasco que também explorava o desejo masculino no interior goiano. Em "Vento Seco", o foco estava no erotismo casual e nas fantasias de masculinidade, a nudez e o desejo contido, mas o filme ainda mantinha certa distância emocional. Aqui, Nolasco leva essa estética adiante, aprofundando o erotismo, cruzando temporalidades e incorporando mistério: não é só sexo e desejo, é também saudade, memória viva, despedida, sobre o que se perde e se mantém.

“Apenas Coisas Boas” reafirma Daniel Nolasco como voz fundamental do cinema queer brasileiro contemporâneo. Num aceno para a obra do português João Pedro Rodrigues, o filme se impõe pelo erotismo explícito e corajoso, pela fotografia de Larry Machado que torna corpo e campo paralelos de desejo e pelo elenco que vive cada cena com risco emocional. É um filme que provoca: sobre quem somos, sobre quem fomos, sobre quem amamos. É cinema que marca, que excita, que nos faz sentir, e que resiste, porque mostrar o desejo gay é também ato de coragem.

🎬 Guia Queer do Festival do Rio 2025 🌈

Está no Rio e perdido com a vasta programação do @festivaldorio? O CINEMATOGRAFIA QUEER te ajuda com uma lista de filmes que prometem emocionar, provocar e brilhar nas telas. Este ano, a escolha do Prêmio Félix não será nada fácil.


De 2 a 12 de outubro, o Festival do Rio ilumina a cidade maravilhosa com o melhor do cinema nacional e internacional. São pré-estreias, clássicos revisitados, encontros, debates e uma mostra que transforma o Rio no centro do audiovisual. E, no meio dessa programação extensa, a gente faz a curadoria queer que importa: vampiras no centro de São Paulo, princesas lésbicas espaciais, drags contra zumbis, documentários de resistência e romances improváveis. 🌈

🚀 Fantasia Queer & Sci-Fi
Queens of the Dead

  • A Sapatona Galáctica, de Leela Varghese e Emma Hough Hobb
    No planeta Clitópolis, a princesa Saira precisa salvar sua ex-namorada sequestrada por incels heterossexuais do futuro.

  • Queens of the Dead, de Tina Romero
    Um apocalipse zumbi interrompe um show drag no Brooklyn. Drags, club kids e criaturas da noite unem glitter, drama e resistência contra os mortos-vivos.

  • Love Kills, de Luiza Shelling Tubaldini
    No coração de São Paulo, uma jovem vampira assombra um café decadente, seduzindo um garçom e revelando um submundo de desejo e marginalidade.

  • Body Blow, de Dean Francis
    Um policial de Sydney se envolve com um trabalhador sexual e precisa escolher entre o dever, o desejo e a corrupção que o cerca.

🎭 Dramas Íntimos & Desejos em Conflito
Emoções Represadas

  • Emoções Represadas, de Čejan Černič Čanak
    Em uma vila croata prestes a ser inundada, reencontro de dois antigos amores expõe segredos, repressões e afetos que insistem em transbordar.

  • Estranho Rio, de Jaume Claret Muxart
    Durante uma viagem de bicicleta pelo Danúbio, um adolescente se depara com um encontro misterioso que desperta novos desejos e transforma sua relação com a família.

  • Twinless, de James Sweeney
    Dois homens que perderam seus irmãos gêmeos se conectam em luto, humor negro e desejo. Um estudo sobre ausência e pertencimento. Prêmio do Público em Sundance.

  • Pequenos Pecados, de Urška Djukić
    Lucia, 16 anos, vive entre a rigidez católica de um coro escolar e a descoberta de sua sexualidade, colocando em choque amizade, fé e desejo

  • O Olhar Misterioso do Flamingo, de Diego Céspedes No Chile dos anos 80, uma menina cresce em uma família queer sob a ameaça de uma doença misteriosa que nasce do amor entre homens. Seleção Un Certain Regard de Cannes.

 💚💛Força Brasileira
O Faz-Tudo

  • Alice, de Gabriel Novis
    Surfista, skatista, artista e mulher trans de Maceió, Alice desafia preconceitos e encontra liberdade na arte e no esporte.

  • Apolo, de Tainá Müller e Isis Broken
    O relato íntimo de uma maternidade trans em meio a preconceitos e batalhas por direitos em um Brasil hostil.

  • Ato Noturno, de Marcio Reolon e Filipe Matzembacher
    Um ator e um político vivem paixão clandestina, explorando fetiches públicos à medida que se aproximam da fama.

  • Ayô, de Yasmin Thayná
    Um jovem ator negro gay busca equilibrar carreira e vida amorosa em meio ao peso do racismo estrutural.

  • O Faz-Tudo, de Fábio Leal
    Um mergulho erótico e provocador, sem disfarces nem concessões.

  • Ruas da Glória, de Felipe Scholl
    Após uma perda, Gabriel se envolve com um garoto de programa e mergulha em uma espiral de obsessão e risco nas ruas do Rio.

  • Do Outro Lado do Pavilhão, de Emilia Silveira
    Documentário que dá voz às mulheres encarceradas no Brasil, entre abusos, superlotação e afetos resistentes.

  • Elizabeth Bishop: Do Brasil com Amor, de Vivian Ostrovsky
    Cartas, imagens e memórias da poeta americana no Brasil dos anos 50/60, ao lado da arquiteta Lota de Macedo Soares. O Riso e a Faca, de Pedro Pinho
    Nessa coprodução com Brasil, um engenheiro português em cidade africana se envolve em relação triangular permeada por tensões neocoloniais. Cleo Diára venceu o prêmio de Melhor Atriz em Cannes.

🔥 Grandes Nomes & Apostas

  • Alpha, de Julia Ducournau
    Uma adolescente enfrenta o colapso de sua família e uma epidemia de petrificação em um body horror adolescente. Competição oficial em Cannes 2025.

  • Depois da Caçada, de Luca Guadagnino
    Uma professora de filosofia em Yale vê sua vida ruir após um escândalo de agressão sexual, revelando segredos do passado.

  • Honey, Não, de Ethan Coen
    Detetive queer investiga mortes ligadas a uma igreja misteriosa na Califórnia. Humor ácido e thriller policial se misturam.

  • O Estrangeiro, de François Ozon
    Releitura de Camus no contexto colonial francês, com Benjamin Voisin no papel de Meursault.

✨ Essa é a seleção do CINEMATOGRAFIA QUEER para o Festival do Rio 2025. Uma curadoria de filmes que colocam a diversidade, a resistência e o desejo no centro da tela. Porque o futuro do cinema é plural, político e inevitavelmente queer. Para horários e ingressos acesse o site oficial!


Sangue para Drácula (Blood for Dracula, EUA, 1974)

 

Sob o selo de Andy Warhol, “Sangue para Drácula”, de Paul Morrissey, já começa anunciando sua excentricidade: vemos Drácula, um afetado Udo Kier, entregando-se a um ritual de skincare, maquiagem e tintura de cabelo. A cena inicial não apenas subverte a solenidade do vampiro clássico, mas o insere no território do camp e da Pop Art, deixando claro que este não é um Drácula convencional, mas uma criatura moldada pela ironia e pelo exagero.

Comparado a “Carne para Frankenstein", também dirigido por Morrissey, “Sangue para Drácula" apresenta cenários igualmente exagerados, mas mais contidos, menos artificiais no grotesco. Ainda assim, o filme preserva a estética de teatralidade barroca, em que a atmosfera gótica dialoga com o underground.

Morrissey reconfigura o mito do conde não pelo realismo, mas pelo excesso estilizado. Aqui, o gótico tradicional é filtrado pelas lentes do escândalo, resultando em um Drácula que não é ameaça de sombras, mas caricatura autoconsciente de sua própria fragilidade. Entre o riso e o desconforto, a obra equilibra o horror e o ridículo, projetando a decadência de um vampiro aristocrático que se sustenta mais em gestos afetados do que em força sobrenatural.

A nudez ocupa espaço central, tanto como provocação quanto como materialização da estética warholiana. Joe D’Alessandro, muso de Andy Warhol, surge como objeto de desejo e símbolo de vitalidade, seu corpo atlético contrastando com a decrepitude do conde. Sua presença injeta camadas explícitas de homoerotismo, já que o olhar do filme o fetichiza com naturalidade, transformando cada aparição em colírio. Em contraposição, Drácula de Kier é frágil, doente, dependente do sangue de virgens para sobreviver, deslocando a virilidade vampírica para o campo da paródia.

O elenco secundário amplifica a aura excêntrica da produção: figuras caricatas, interpretadas de forma exagerada, constroem um universo teatralizado, onde a lógica narrativa se curva à performance. Esse excesso aliado à crítica social escondida sob o absurdo, transforma “Sangue para Drácula” em um texto queer por excelência. A quebra da solenidade do mito vampírico, a erotização masculina e a ironia diante da moralidade sexual criam um espaço de subversão que aproxima o filme tanto das experimentações da Factory quanto de um manifesto implícito contra normas de gênero e desejo.

“Sangue para Drácula” não busca aterrorizar, mas provocar, rir e incomodar. Morrissey cria um espetáculo de excessos que mistura gótico e camp com desfaçatez. Udo Kier entrega uma das interpretações mais icônicas do vampiro, ao mesmo tempo frágil e histriônico, enquanto Joe D’Alessandro oferece ao público uma presença física que concentra todo o homoerotismo da produção. No cruzamento entre horror, paródia e arte pop, o conde se reinventa mais uma vez, provando que o vampiro nunca deixa de refletir os desejos e as ansiedades de sua época.

Prêmio Prisma Queer estreia na Mostra de SP celebrando o cinema LGBTQIA+

A 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo vai ganhar um novo arco-íris de reconhecimento: chega em outubro o Prêmio Prisma Queer, iniciativa independente que nasce para destacar e fortalecer a produção audiovisual LGBTQIA+ no Brasil e no mundo.

Inspirado no prisma, que refrata a luz em múltiplas cores, o prêmio se apresenta como um gesto político, artístico e de celebração: um espaço de visibilidade para narrativas diversas, múltiplas e inevitavelmente luminosas.

Júri e homenagem inaugural

A primeira edição traz um júri poderoso, formado por nomes como Pedro Henrique França, Chica Andrade, Viviane Ferreira, Julieta Paredes, Joseph Adesunloye, Alice Chiappetta e Lucas Weglinski – vozes ativas da cultura queer contemporânea.

A homenageada do ano é Rita Moreira, documentarista pioneira que, nos anos 1980, denunciou com coragem o genocídio da população LGBTQIA+ no Brasil. Seu legado agora ecoa em forma de tributo e inspiração para as novas gerações.

Muito além de um prêmio, o Prisma Queer não se limita à entrega de troféus. A programação inclui:

  • Cerimônia de premiação para longas de ficção (nacional e internacional) e documentários.

  • Prisma Queer Network, encontro fechado para troca e fortalecimento entre profissionais do audiovisual queer.

  • Festa Prisma Queer, celebração aberta que reafirma a potência criativa da comunidade como forma de resistência.

O projeto nasce do esforço coletivo e da crença de que o cinema queer merece seus próprios espaços de reconhecimento. Um prêmio que é também movimento, encontro e resistência.

Siga @premioprismaqueer no Instagram para acompanhar todas as novidades.