sexta-feira, 7 de novembro de 2025

In Ashes (Se gennem Aske, Dinamarca, 2025)

“In Ashes”, der Ludvig Christian Næsted Poulsen, abre com Christian (Rex Leonard), um jovem gay de vinte e poucos anos, preso ao eco do término de seu primeiro amor. O rompimento unilateral com Aske (Lior Cohen) o deixa em estado de luto prolongado, revivendo memórias e deslizes enquanto tenta preencher o vazio com perfis de aplicativos, encontros que escapam e afetos que se diluem na pressa. A estrutura fragmentada, alternando lembranças e impulsos,  traduz a confusão emocional de Christian num dispositivo formal coerente com seu tema.

Poulsen não suaviza o lado sombrio dessa experiência queer: a obsessão se torna espiral, a busca por conexão se transforma em autossabotagem, enquanto Christian alterna entre o desejo por intimidade e o medo da exposição. Mesmo ancorado em um drama pessoal, o filme funciona como comentário sobre a cultura gay contemporânea,  sobre o impacto das dinâmicas digitais, o esgotamento afetivo e a precariedade das relações mediadas por tela.

Apesar do peso emocional, há respiros de humor e delicadeza que impedem o filme de se tornar claustrofóbico. A câmera acompanha Christian com empatia e proximidade, revelando um corpo que ainda procura sua forma, uma identidade que se molda em meio ao caos. A montagem não linear não busca confundir, mas propor uma lógica afetiva: as lacunas importam mais do que as respostas.

O que “In Ashes” propõe de mais instigante é a transparência da dor,  não como espetáculo, mas como condição. Christian não está apenas tentando amar de novo, está tentando se reconhecer fora da sombra de Aske. Os espaços digitais e os corpos passageiros funcionam como reflexos dessa busca por afeto, onde o toque e a ausência se confundem. A ferida, aqui, não precisa cicatrizar para ser legítima.

Ainda assim, o filme flerta com o risco da repetição. A sucessão de encontros e deslizes às vezes alonga o ritmo, aproximando o espectador da mesma estagnação emocional que domina o protagonista. O mérito de Poulsen está em não disfarçar esse desconforto: o filme se permite ser fragmentado, dolorido, inconcluso, exatamente como a experiência que retrata.

“In Ashes” é mais do que um relato de coração partido. É um retrato contemporâneo da juventude queer, que tenta amar em meio à saturação digital, entre o desejo e o desamparo. Ludvig Christian Næsted Poulsen entrega uma narrativa sobre o que resta quando o amor acaba, mas o impulso de continuar sentindo ainda queima,  entre as cinzas.

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