domingo, 9 de novembro de 2025

A Fuga de Fox (Stone Cold Fox, EUA, 2025)


Em sua estreia como diretora e co-roteirista, Sophie Tabet devolve ao cinema de ação o espírito dos anos 80, mas com uma lente queer e feminina. O filme segue Fox (Kiernan Shipka) escapando de uma comuna abusiva e sendo forçada a voltar para recuperar a irmã sequestrada pela rainha do crime Goldie (Krysten Ritter) e enfrentar o policial corrupto interpretado por Kiefer Sutherland. A ambientação em 1986, com trilha sonora, estúdio de treino, roupas de couro e letreiros digitais, evoca habilmente o passado.

Tabet não esconde sua intenção, “uma carta de amor aos filmes de ação americanos dos anos 80, mas que dá a mulheres, imigrantes e personagens queer um lugar à mesa”. Essa promessa se cumpre nas margens da narrativa: Fox encontra em Goldie não apenas uma antagonista, mas uma possível aliada, rival, amante, um vínculo queer declarado que desafia a lógica tradicional de “herói vs vilão”. A família biológica é substituída pela que se escolhe, e o galpão-pista-mortal torna-se território de insurgência.

A crítica ao não pertencimento está em cada cena: a comuna abusiva de onde Fox foge é metáfora de estruturas que oprimem corpos e desejos fora da norma; a irmã sequestrada, o retorno ao trauma, a infiltração e o confronto traduzem a urgência de criar um lar fora dos limites impostos. A presença queer não é apêndice, é núcleo  e o romance entre Fox e Goldie, ainda que misto com vingança e violência, representa uma possibilidade de amor que não pede aprovação.

O filme entrega com eficiência recursos visuais que remetem intencionalmente aos anos 80  e cenas de ação que dialogam com os clássicos, mas também trazem diversidade no elenco e foco nas mulheres que protagonizam. Há momentos em que o ritmo vacila e a narrativa se apoia no pastiche mais do que no frescor, e algumas críticas apontam que o filme “falha em ir além da nostalgia” para atingir o potencial completo.

“Stone Cold Fox” faz algo importante: coloca a diferença no centro da tela.. Aqui, imigrantes, mulheres e personagens queer não são coadjuvantes, são quem luta, quem planeja, quem dispara. Essa inversão de papéis transforma o filme num ato de visibilidade pop. Fox não foge do trauma: ela dispara, ela escolhe, ela ama. Goldie não é apenas vilã: ela é desejo, poder e ambiguidade.

“Stone Cold Fox” convoca o espectador a sujar as mãos com sangue, a celebrar o brilho da festa antes da carnificina e a dançar sobre as cinzas da conformidade. É um filme-celebração de sobreviventes que escolhem existir de pé, com batom, machado e uma vibe tarantinesca.


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