O evento catalisador e ponto de partida do novo Queer as Folk, icônica série idealizada por Russel T. Davies, realizado pela Peacock, é um ato de violência brutalmente inspirado em acontecimentos reais. No meio do primeiro episódio, um atirador, sem nome, entra em um clube gay, de Nova Orleans, chamado Babylon, e abre fogo contra a multidão. A maioria dos personagens principais está entre eles, e pelo resto da temporada, de oito episódios, eles vão lidar com sua culpa e tristeza persistentes, com os buracos que o fato deixou no centro de suas vidas.
Apesar desse horror inicial, vemos os personagens encontrarem alegria em momentos cotidianos, sejam chás de bebê, passeios pelo shopping, conexões íntimas e mais. O tom alterna entre tristeza e êxtase, mas os fãs dos originais podem ter certeza de que esta nova versão não perdeu nenhuma das risadas, sexo, frivolidade e essência.
A nova versão segue Brodie (Devin Way), um pedante, mas charmoso, de vinte e poucos anos, que retorna à sua cidade natal, Nova Orleans, depois de abandonar a faculdade de medicina, na esperança de reacender relacionamentos passados, como aquele com seu ex-namorado, Noah (Johnny Sibilly). No entanto, as coisas ficam complicadas quando é revelado que um dos melhores amigos de Brodie, Daddius (Chris Renfro), está ficando com Noah em sua ausência.
Enquanto assistimos a tensão desse triângulo amoroso, acompanhamos também as narrativas do irmão de Brodie, Julian (Ryan O'Connell), sua melhor amiga transgênero, Ruthie (Jesse James Keitel) e sua parceira, Shar (Candace Grace), além de um aspirante a estrela drag, de 17 anos, chamado Mingus (Fin Argus).
Drag Queens aparecem e encharcam a tela com um brilho neon. E personagens como Mingus são mais bem desenvolvidos em algumas áreas do que em outras, inclusive na relação com sua compreensiva mãe, Judy, aqui interpretada por Juliette Lewis. Além disso Kim Cattrall vive a mãe de Brodie e Julian.
Também há histórias sobre Ruthie, uma mulher trans, lutando com um desejo sexual em mudança que desafia seu senso de identidade. E sobre Mingus trabalhando com seus sentimentos contraditórios sobre voltar a ser drag depois que sua primeira apresentação foi interrompida pelo tiroteio. É também sobre os desafios particulares enfrentados no sexo por homens deficientes como Julian, Ryan O'Connell de Special, também roteirista e produtor executivo da atração, que tem leve paralisia cerebral, ou Marvin (Eric Graise), um cadeirante.
Aliando passado e presente, a trilha sonora traz nomes como Robin S., Le Tigre, Grimes, Lady Gaga, Gordi, Perfume Genius, Paramore, Yeah Yeah Yeahs, David Bowie, Sylvester, Moderat, Caveboy, entre outros.
O novo Queer as Folk parece muito mais fresco e mais abrangente para toda a comunidade LGBTQIA+. É revigorante ouvir Ruthie falar abertamente sobre ser trans, ou ver Shar abordade com pronomes neutros sem que ninguém questione isso. Nesta versão, vemos personagens que são gays e negros, deficientes, gordos e muito mais. A atração celebra a diversidade oferecendo um enredo muito emocional.
Stephen Dunn, que desenvolveu esta nova adaptação, trabalhou duro para não apenas referenciar o que havia antes, ou seja, um programa sobre como amizades e irmandades queer sobrevivem, mas para capturar seu espírito e retratá-lo em algo que pareça familiar, mas emocionantemente novo.
De alguma forma, Queer As Folk encontra maneiras cada vez mais deliciosas e delirantes de oferecer histórias espinhosas e arcos de personagens que se recusam a achatar ou homogeneizar a comunidade LGBTQIA+. Conversas francas sobre sexo, desejo pós-transição e a importância dos espaços de vida noturna gay estão ao lado de momentos lindos de arte drag, festas de sexo e protestos sombrios.
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