Cineasta georgiane Elene Naveriani se define como gênero fluído e prefere que o pronome não binárie seja usado a seu respeito. Wet Sand é um verdadeiro manifesto humanista que transcende a temática LGBTQIA+, servido por formidáveis atrizes e atores, a fotografia de Agnesh Pakozdi, com enquadramentos clássicos, que sublima interiores atemporais assim como as paisagens das margens do Mar Negro.
Em uma pacata vila costeira de pescadores sob o disfarce de uma pandemia que passa despercebida na tela, tudo está calmo, os homens se encontram no café Wet Sand com Amnon (Gia Agumava) para jogar e conversar.
No entanto, nas trocas banais, rapidamente, percebe-se mesquinhez e uma certa animosidade velada. As coisas tomam um rumo mais agressivo quando Eliko, um homem mais rico que vive na vila há 20 anos, mas nunca se encaixa, é encontrado enforcado em sua casa.
Obviamente, ele se suicidou. Sua neta, Moe (Bebe Sesitashvili), que acreditava que ele estava morto há anos, vem de Tbilisi para enterrá-lo. Primeira decepção: os aldeões não querem enterrá-lo no cemitério da aldeia e, como ele se tirou a própria vida, nenhum serviço religioso é possível.
Aos poucos, em busca de elementos sobre a vida de seu avô, Moe vai desvendando o manto de mentiras que o cerca através das únicas pessoas que pareciam apreciar Eliko: Amnon, Spero (Kakha Kobaladze), um pescador solitário que aguarda o retorno de seu filho que está no mar há 10 anos, e Fleshka (Megi Kobaladze), garçonete do café, também considerada estranha pelos habitantes da vila.
Wet Sand começa com calma, Elene Naveriani aproveita para criar uma atmosfera e colocar seus personagens lá. Aos poucos, a história vai ganhando profundidade, à medida que os personagens vão sendo revelados, alguns assumindo armadilhas outros revelando-se na sua complexidade.
Moe vai sacudir a aldeia, essa jovem da cidade, moderna, sem papas na língua, não muito tímida, não hesitará em se opor aos aldeões, liderados por um marido violento e retrógrado. O curso dos eventos apoia a fórmula de regressão comportamental de grupo; a aldeia será implacável, uma vez que o segredo seja revelado, tanto para os vivos quanto para os mortos. O fanatismo e a hipocrisia competem com o preconceito, a discriminação e a violência de grupo.
Neste quadro sombrio de uma sociedade Elene Naveriani e seu irmão, coroteirista, Sandro Naveriani, esboçam belas linhas de luz, começando com a adorável relação que se desenvolve entre Amnon e Moe, aprofundando-se quando a jovem compreende a relação que existia entre seu avô e ele.
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