Dzi Croquettes, de Tatiana Issa e Raphael Alvarez, reivindica o grupo de teatro de vanguarda homônimo como uma das principais figuras da história brasileira de enfrentamento de Estado e resistência artística, durante a Ditadura Militar.
Mais do que apenas um “bando de bichas” (como diriam os guardas que os vigiavam), a trupe de 13 membros da década de 1960 de rainhas poliglotas fuck gender cobertas de glitter era “queer” em uma época em que a palavra ainda era apenas mais um insulto gay.
Contornando a censura através do sarcasmo, criando justaposições intrincadas e combustíveis, incluindo uma drag negra entregando uma versão angustiante de Ne Me Quittes Pas, de Jacques Brel, em um vestido de noiva rosa e botas de combate.
Os depoimentos do filme são fornecidos principalmente por ex-membros do grupo e a nata dos dos atores brasileiros e diretores, mas também Liza Minnelli, uma das madrinhas mais entusiasmadas dos Dzi Croquettes.
A certa altura, eles tentam conquistar a Europa, apresentando-se em Paris para nomes como Omar Sharif, Catherine Deneuve, Jeanne Moreau e Josephine Baker, que solicita que os Dzi Croquettes a substituam como principal ato do Teatro Bobino quando ela morrer, o que eles fazem.
Dzi Croquettes é em grande parte uma homenagem ao protagonista do grupo, o coreógrafo e dançarino americano Lennie Dale, que adotou o Brasil como palco para suas obras de arte experimentais, que muitas vezes incluíam corpos andróginos em maquiagem de palhaço espalhando asas e se dirigindo ao público em vários idiomas, alegando não ser homens, mas também não mulheres, “apenas pessoas, como todos vocês”.
O que é fácil de apreciar no documentário, no entanto, é a maneira como ele remonta a trajetória dos Dzi Croquettes sem polir suas bordas irregulares. É através de seu brilho e de suas falhas que eles se tornam musas inspiradoras.
Em vez de encerrar com intertítulos fáceis, Dzi Croquettes oferece seu desfecho inevitável por meio de relatos não hagiográficos de amigos íntimos; as orgias, a cocaína, o contrabando de maconha, os assassinatos, o “câncer gay” estão todos lá. E ao contrário do que Issa sugere, eles não parecem tão lindos e luminosos quanto o glitter.
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