sábado, 8 de outubro de 2022

Hellraiser(EUA, 2022)

Na década de 1980, a franquia Hellraiser, especialmente seus três primeiros filmes, causou um repulsivo sucesso. Mas inevitavelmente algo se perdeu no meio do caminho. O Hellraiser reimaginado, do cineasta David Bruckner, é um retorno bem-vindo à intenção original de Clive Barker. Ao lado dos roteiristas Ben Collins e Luke Piotrowski, ele adaptou o original de 1986, e o interpretou com grande sucesso como uma história dos efeitos intangíveis do vício.

Riley (Odessa A’zion) é uma jovem dependente química que luta para se manter sóbria. Seu irmão Matt (Brandon Flynn) e o namorado dele, Colin (Adam Faison), a colega de quarto Nora (Aoife Hinds) passam muito tempo ajudando-a a se manter no caminho certo.

Mas o novo namorado de Riley, Trevor (Drew Starkey) é uma força desestabilizadora. A envolvendo em um assalto, eles ficam na posse de uma caixa de quebra-cabeça que, quando torcida e virada, ejeta uma lâmina que não apenas corta o usuário, mas também abre um portal para a dimensão dos Cenobitas.


Uma vez convocadas, as criaturas exigem sacrifícios, e o dano que Riley causou na vida agora causa estragos em seus amigos e familiares em uma dimensão sobrenatural. Nessa mistura, está um rico colecionador de objetos ocultos, um homem assustadoramente poderoso chamado Voight (Goran Visjnic), cujo papel na loucura se torna assustadoramente claro à medida que esses sacrifícios se acumulam.


O  interesse de Barker nas qualidades do desejo humano permitiu que seu mundo fosse povoado com análogos de extremos psicológicos e da necessidade de perseguir o prazer. Mergulhado nas configurações práticas da cultura BDSM, era o horror corporal que não tinha escolha a não ser evocar a ansiedade do final dos anos 1980, em torno da AIDS, vibrando com uma energia e uma necessidade que os fãs de terror queer sentiam profundamente.



Agora, 35 anos depois, Bruckner, Collins e Piotrowski entendem que o choque do novo é uma causa perdida para uma narrativa estabelecida. Então, eles refinam e expandem os detalhes, fundamentando os protagonistas humanos no tipo de desespero impulsionado pela empatia que pode fazer um personagem considerar se perder em outro mundo de exploração sensorial com um pacote de novos 'amigos' grotescamente lindos.

O filme é um ato de equilíbrio que percorre a linha tênue entre despertar a imaginação do público com o desconhecido e perguntas literais. Nas mãos da direção de Bruckner, e na edição de David Marks, mais informações são entregues do que nunca, mas nenhum ponto da trama é superexplicado. Aos mistérios é permitida sua ambiguidade.


A estrela  trans de Sense8 ,Jamie Clayton, interpreta o lendário 'Pinhead'. A atriz ressuscita a estranheza do personagem, comandando cada quadro com uma quietude assustadora, chamando humanos desafortunados para satisfazer o prazer, não importa o custo. 


Como Riley, A'zion oferece uma performance inovadora. Sua jovem  adicta é desesperada e real, uma bagunça de pessoa com a voz que falha cada vez que ela tenta explicar sua necessidade confusa e urgente de fazer as pazes tanto em sua vida cotidiana quanto na sobrenatural que perfurou sua existência.


E aquela caixa? E aqueles monstros? Eles são diferentes aqui, reinterpretados de forma extravagante com efeitos práticos e, no caso dos Cenobitas, o design das criaturas é impressionante com figurinos de Keith Thompson, Josh Russell e Sierra Russell. Incorporando a intenção original de Clive Barker, a  do “glamour repulsivo”, esses Cenobitas deslizam silenciosamente e elegantemente na passarela do inferno.

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