quarta-feira, 5 de outubro de 2022

Odete(Portugal, 2005)

Duas bocas se beijam avidamente. A câmara recua para revelar que são dois homens, Rui (Nuno Gil) e Pedro (João Carreira). Eles acabaram de comemorar seu primeiro aniversário e trocaram alianças: estão loucamente apaixonados. Seu filme favorito é Bonequinha de Luxo(1961) e sua música é Moon River.

Mas não é para ser. Quando Pedro sai para ir para casa, seu carro bate e ele é arremessado pelo para-brisa. Rui embala Pedro, agora cadáver, nos braços. Os anéis que eles trocaram brilham na escuridão.

A outra protagonista, do longa delirante de João Pedro Rodrigues, é claramente Odete(Ana Cristina De Oliveira). Somos apresentados a ela andando de patins em um supermercado. Ao chegar em casa, Odete, diz ao namorado(Carloto Cotta) que quer ter um bebê. Ele só quer transar. Eles se separam, e ela vai passar o resto do filme, como Rui, envolta em luto.

As melhores tomadas do filme são de uma Odete serelepe percorrendo os corredores de patins no supermercado, a certa altura apagando delicadamente um cigarro na roda ou então acariciando suavemente os produtos para bebês.


Rui e Odete vão encontrar-se no funeral de Pedro. Ela primeiro tentará fingir que está carregando o bebê de Pedro, então começará a se moldar no próprio Pedro. Rui e Odete acabam cruzando suas vidas de maneiras muito peculiares.


João Pedro Rodrigues criou um filme muito instruído que suspende uma corda bamba no abismo entre sanidade e insanidade, obsessão e determinação, vida e morte. Odete e Rui devem fazer a perigosa viagem de ida e volta mais de uma vez enquanto um vento incrivelmente forte ameaça derrubá-los no esquecimento.

Para Odete, o vento é o espírito raivoso de Pedro tentando se comunicar. Para Rui, é uma força de destruição que ameaça a sua capacidade de perceber a realidade. As atuações de Ana Cristina De Oliveira e Nuno Gil são, portanto, praticamente uma tour de force em grande estilo.

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