domingo, 15 de setembro de 2024

Technoboys (México, 2024)

Technoboys, a estreia na direção de Luis Gerardo Méndez, um dos grandes nomes do audiovisual mexicano, acompanhado de Gerardo Gatica, é uma comédia boba, porém cheia de música, piadas rápidas e uma inclusão que é muito bem-vinda.

Technoboys foi uma das boy bands mais populares do México nos anos noventa, no entanto, tudo terminou quando Alan (Luis Gerardo Méndez), líder do grupo, foi rejeitado por Melena (Karla Souza), outra estrela pop em ascensão, para se casar com Masiosare (Ari Brickman), seu produtor musical. Agora, vinte anos depois, o nome de Technoboys está livre e Alan aproveita a situação para reunir a banda e orquestrar um grande retorno aos palcos, porém, o mundo da música, e seus companheiros, não são mais como antes.


Por meio de um programa de fofocas, também um personagem, o filme começa com uma montagem do sucesso da boyband, é brega e colorida, a música é divertida e se concentra em como esse grupo foi um dos melhores, mesmo rivalizando constantemente com os Saborígenes.  A cena de abertura faz um trabalho brilhante ao explicar o passado dos Technoboys, e especialmente de Alan, que invadiu o casamento do amor de sua vida.


Depois de duas décadas, cada membro do Technoboys mudou completamente, de muitas maneiras diferentes. A busca traz um elemento de comédia, que adiciona novas camadas a cada integrante do grupo.


Um elemento-chave em Technoboys foi o fato de Charlie ter transacionado para Charlize, interpretada por Daniela Vega, de Uma Mulher Fantástica, e  que explora a inclusão no cinema mexicano, que logo se expandirá para outros personagens.

No geral, o longa não apresenta um conceito novo, porque essa premissa já foi feita antes, mas como ele executa a narrativa o torna nostálgico e o ajuda a se destacar. O filme serve como homenagem ao POP latino, com músicas originais e de Fey, Kabah, Sentidos Opuestos, RBD, e OV7, que dominou as paradas na década de 90, tanto em sua trilha quanto em seus diálogos. 





sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Marcello Mio (França/Itália, 2024)

Oscilando entre a  fantasia e o drama familiar, "Marcello Mio", de Christophe Honoré, homenageia a família de uma de suas atrizes fetiche, Chiara Mastroianni. O filme acompanha ela mesma enquanto embarca em um caminho não convencional de autodescoberta.

Chiara, filha dos atores icônicos Catherine Deneuve e do falecido Marcello Mastroianni, há muito tempo viu sua própria carreira ofuscada por seus ilustres pais. Frustrada, após o conselho de uma diretora para "interpretar mais como Mastroianni", Chiara passa por uma transformação surpreendente, vestindo o estilo característico de seu pai, dos filmes clássicos de Fellini.

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Enquanto outras estrelas como Catherine Deneuve, Nicole Garcia, Melvin Poupad e Fabrice Luchini olham perplexos, Chiara abraça totalmente o papel de Marcello, falando apenas italiano e se recusando a responder em seu próprio nome. A odisseia imaginativa de Honoré confunde a realidade com a fantasia ao seguir o caminho particular de uma filha de se conectar com seu falecido pai. 


A transformação de Chiara é um choque, enquanto reflete a relação com  sua mãe, Catherine Deneuve. Poucos estão mais familiarizados com as demandas de celebridade do que Catherine, mas até mesmo sua calma habitual é abalada. À medida que Chiara se aprofunda na personalidade de seu pai, DeNeuve fica dividida entre honrar a conciliação de uma filha com seu passado e temer por sua saúde mental no presente.


Subtextos de luto, desejo e gênero encontram espaço ao lado da comédia através do toque habilidoso de Honoré. Chiara Mastroianni oferece uma performance de tour de force que é por vezes charmosa, misteriosa e profundamente comovente. No coração do filme está uma mulher lutando com sua identidade.

O filme começa com Chiara caracterizada como Anitta Ekberg de La dolce vita, recriando a famosa cena da Fontana di Trevi para uma sessão de fotos. No centenário do ator, Honoré também recria cenas icônicas, como a conversa entre os personagens de Mastroianni e Claudia Cardinale no final de 8 ½.

Na jornada metalinguística de Christophe Honoré, cada personagem atravessa a linha tênue entre realidade e memória. Marcello Mio é uma celebração do gênio artístico, do homem (e do pai) Mastroianni através do corpo e dos gestos de uma Chiara que delineia seu espírito com coragem e amor. 


quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Meu Casulo de Drywall (Brasil, 2023)

Virginia (Bella Piero) se prepara para sua festa de aniversário de dezessete anos em sua cobertura. A mãe, Patrícia (Maria Luisa Mendonça) sai de casa para que ela possa aproveitar sua noite com os amigos. 

No entanto, a festa começa a dar voltas drásticas. Quando Virginia aparece morta na manhã seguinte, o prédio está em choque. Os segredos de sua melhor amiga Luana (Mari Oliveira, de Medusa), do namorado Nicholas (Michel Joelsas, de 13 Sentimentos) e de Gabriel (Daniel Botelho) se tornam o foco do acontecimento.


Meu Casulo de Drywall, de Caroline Fioratti, explora ideias através das lentes da tragédia. Ela tem um estilo de direção que se adapta bem à sua narrativa, com tomadas apertadas que dão uma sensação constante de claustrofobia e isolamento.


A estrutura não linear do longa é fundamental para seu funcionamento. Fioratti opta por começar antes da festa, apresentando Virgínia, Patrícia e a governanta Silmara (Lena Roque), antes de pular para a manhã seguinte. Ao criar essa narrativa, o filme permite que os piores medos entrem em jogo, criando tensão e inquietação.


O filme cria analogias, que mesmo quando a pele marcada de Virgínía escorre sangue, ninguém menciona nada, como se nem estivesse lá. Seu namorado Nicholas também tem um hematoma, que mais tarde será revelado.


Meu Casulo de Drywall é um mistério de assassinato existencial que explora a cultura adolescente dentro dos limites da sociedade abastada. Com temas pesados de dor emocional, depressão, sexo, violência e luto, a forte narrativa de Caroline Fioratti tornam este filme uma experiência atmosférica.




quarta-feira, 11 de setembro de 2024

EXCLUSIVAMENTE POR PESSOAS TRANS, LONGA PAJUBÁ É RODADO EM SÃO PAULO


Apesar de nascerem num dos países mais transfóbico do mundo, pessoas trans lutam e sobrevivem no Brasil, aspirando a um futuro melhor. O filme PAJUBÁ, dirigido pela carioca Gautier Lee, celebra a vida dessas pessoas do passado e do presente, com suas histórias de perseverança e resiliência. Esse é o primeiro longa brasileiro filmado, editado e distribuído por uma equipe totalmente de pessoas transexuais. A produção é assinada pela Gautiverse em coprodução com a Arruda Filmes.


Produzido por Bartolomeu Luiz e Jöa Azevedo, o filme está sendo rodado em São Paulo, e conta com personalidades transmasculinas, transfemininas e travestis de diversas áreas para representar a pluralidade de ser uma pessoa da comunidade T e as vivências múltiplas desse grupo no Brasil.


“PAJUBÁ representa a pluralidade do nosso país, e a gente está tentando traduzir isso dentro do nosso recorte de vivências, pessoas e cultura trans. Queremos realmente mostrar que existe cultura e existe história trans em todas as partes desse país”, explica Gautier.


O roteiro é assinado por Hela Santana, que teve a ideia para o filme em abril de 2021, em plena pandemia. “Eu me lembro de estar desempregada, com fome, e quase literalmente desistindo do sonho de trabalhar com audiovisual. Lembro de assistir a um programa na televisão chamado Falas da Terra, e na mesma hora a ficha cair na minha cabeça: é isso! Aquela produção me mostrou que era possível de forma prática, honesta e bonita falar dos lados do Brasil que o Brasil mata mas finge que não vê”, conta.


O título PAJUBÁ se refere a um dialeto que surgiu da fusão de termos portugueses com palavras dos grupos étnico: linguísticos nagô e iorubá, e chegou ao Brasil pelos escravizados da África Ocidental que encontraram expressão nas práticas religiosas afro-brasileiras, como o candomblé e a umbanda.


De personalidades como Neon Cunha, figura política e sobrevivente de caça e extermínio de corpos trans em São Paulo, a Érika Hilton, primeira deputada federal travesti no Brasil, o documentário aborda as vivências e experiências de forma sincera, trazendo, também, nomes como Fayola Ferreira, Keila Simpson, Noah, Dayo

Nascimento, Amaya Moira, Kyem Ferreira e Fefa Lins. FONTE: SINNY COMUNICAÇÃO


terça-feira, 10 de setembro de 2024

Disco, Ibiza, Locomia (Espanha/México, 2024)


 Vrá! Um trio de jovens dispostos a enfrentar o mundo decide se estabelecer na ilha de Ibiza em busca de seus sonhos e experimentar sua liberdade o máximo que puderem e muito mais. O grupo é liderado por Xavi Font (Jaime Lorente), um costureiro com uma visão visionária para a época, ávido por reconhecimento e prestígio. À medida que sua estadia na ilha se estende, e como resultado de encontrar na boate mais seleta e midiática da ilha, o cenário perfeito para mostrar seus designs, a família que ele cria sob o nome de Loco Mía nasce balançando seus leques.

Uma família que será descoberta por José Luís Gil (Alberto Ammann), o grande produtor musical do momento interessado em encontrar algo diferente, algo novo, dance, pop, e que tenha impacto na sociedade.


Realizado por Kike Maíllo, o filme vem logo em seguida de uma série documental que foi realizada pela MoviStar, em 2022. Blanca Suárez também estrela como Lourdes Iribar, a figura mais coerente e equilibrada durante a ascensão meteórica às estrelas. Também no declínio irremediável.


O arco narrativo explora uma história de excessos, traições, autodestruição e a tirania da indústria da música que levou à devastação de um grupo de jovens, privando-os de, que por mais que dessem pinta, assumissem sua identidade sexual.



Tudo é enquadrado na Espanha do final dos anos 80 e início da década de 90, anos em que o país estava em plena efervescência, conhecida como Movida Madrileña, acreditando-se, sim, mais moderno do que realmente era.

O filme começa no final, e onde tudo o que vemos é narrado pelos próprios envolvidos a partir da sala onde decorre o processo de conciliação entre os membros do grupo e José Luís Gil. Um processo em que tentam chegar a um acordo sem ter que ir ao tribunal e assim remediar os acontecimentos que o espectador descobrirá à medida que o filme avança.


Disco, Ibiza, Locomía é uma viagem no tempo, não só pela história do grupo, mas também por uma época na Espanha, e depois no restante da América Latina. Embora não escape da caricatura em alguns momentos, o filme não se omite, não só na temática do sexo, drogas, festas... mas nas questões mais complicadas de ciúme, traição, desgosto e perda.


Uma história filmada de maneira extravagante, com figurinos oitentistas muito bem elaborados, atuações convincentes,  onde se vislumbra a repressão e a perseguição sofridas por pessoas cuja condição sexual não era a “norma’ e que constrói um discurso de libertação em torno do legado do Loco Mía. Numa adrenalina visual o grande ponto positivo é que o longa destaca a importância de querer ser você mesmo e deixar preconceitos e estigmas de lado.


segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Cuckoo (Alemanha/EUA, 2024)

O filme conta a história de Gretchen (Hunter Schäfer), de 17 anos, que relutantemente se muda com seu pai e sua nova família, dos EUA, para os Alpes alemães. A adolescente ainda não aceitou a morte da mãe, Gretchen se sente distante tanto da namorada do pai quanto pela filha de 7 anos, a muda Alm(Mila Lieu). Enquanto isso, o Sr. König (Dan Stevens), o misterioso novo chefe do pai, mostra um interesse notável por ela. 

O roteirista e diretor Tilman Singer apresenta abordagens potencialmente novas para ideias de suspense de terror desgastadas. Mesmo assim, toda essa mistura fascinante, dá à Cuckoo uma atmosfera única.


Como Gretchen está determinada a economizar dinheiro para poder voltar aos Estados Unidos por conta própria, ela decide aceitar a oferta de Herr König para trabalhar na recepção do hotel, na qual ela tem Trixie (Greta Fernández) como companheira, e interesse romântico, e alguns convidados que vomitam estranhamente toda vez que ela passa. E, claro, ela ignora o aviso do gerente do hotel para não voltar para casa de bicicleta à noite, um erro do qual ela se dará conta quando começar a ser perseguida pela figura de uma mulher de sobretudo, que emite gritos que envolvem quem a ouve em uma espécie de loop temporal e uma certa referência à Vampiros de Almas(1956)


À medida que os segredos obscuros do hotel começam a surgir, Gretchen se vê lutando não apenas por respostas, mas por sua vida. Singer aumenta as apostas com visuais alucinatórios e uma mitologia baseada no comportamento animal sinistro. Em seu maior papel no cinema até então, Schafer abraça a chance de evoluir de adolescente problemática para uma potente final girl. 


Singer mergulha "Cuckoo" em uma atmosfera sinistra condizente com seu cenário alpino, justapondo vistas majestosas da montanha com uma crescente sensação de desconforto. Filmado em 35 mm, o diretor de fotografia Paul Faltz lança uma luz gloriosamente cinematográfica sobre a impressionante arquitetura dos anos 60 do resort.


O longa tem um design de som muito eficaz e close-ups recorrentes de pescoços pulsantes como um motivo visual assustador. Gretchen também ouve música com frequência, o que faz uma sala vibrar de maneiras misteriosas. O luto é um grande tema no filme, e parte de sua analogia.


sábado, 7 de setembro de 2024

The Judgment (Egito/Líbano/EUA, 2023)


The Judgment, de Marwan Mokbel, é uma parcela de  drama familiar penetrante, uma parte de devaneio sexy e outra parte um terror queer psicológico, totalmente aterrorizante e incisivo.

Quando Mo (Junes Zahdi) retorna à sua casa egípcia depois de morar nos EUA, ele e seu parceiro  Hisham (Freddy Shahin), são forçados a voltar para o armário. Eles precisam fingir ser amigos para permanecerem no ambiente. No entanto, quando Mo começa a acreditar que um membro da família usou a feitiçaria como punição por seus pecados, o horror começa a consumi-lo.


As coisas acontecem durante a noite, visões surreais preenchem seus sonhos e seus traumas passados começam a se infiltrar em seu presente. Embora Mo agora seja um ateu devoto, ele é confrontado com conceitos mais espirituais de lar, sexo, amor ese conseguirá se reconciliar com esses horrores, fantasmagóricos ou não.

A história que coloca fé e homofobia de mãos dadas, lança um feitiço sensual sobre os espectadores, que usa o gênero de maneira direta para explorar a vergonha e a religião queer sem didatismo.
Entrar na feitiçaria reviveu terrores infantis e medos religiosos profundos, e Mo teme que sua vergonha seja exposta a Hisham, que não sabe que ele ainda vê seu relacionamento como pecaminoso. Pouco a pouco, o dia do julgamento que ele sempre temeu, o deus que ele sempre odiou, a mãe que se opôs a ele, e os pecados que se acumulam começam a assombrá-lo literalmente.

Misturando o paranormal com os horrores da homofobia da vida real, The Judgment investiga as consequências duradouras da ignorância e da vergonha. Apesar de alegar não acreditar mais em superstições religiosas, a pressão para esconder quem ele é ressurge velhas ansiedades de que ele foi amaldiçoado como punição por seus 'pecados' neste horror tão sobrenatural quanto universal.


sexta-feira, 6 de setembro de 2024

10 FILMES PARA CELEBRAR O DIA DO SEXO

Não por acaso 6/9 foi eleito como o Dia do Sexo. Para assistir antes, durante ou depois do ato e celebrar a ocasião, selecionamos 10 filmes LGBTQIA+ que mergulham nas diversas formas de prazer e desejo fora do heteronormativo.

Shortbus(EUA, 2006)


Shortbus, de John Cameron Mitchell, traz o  sexo real para a tela, exigindo que os atores deem tudo de si, mas as preocupações do filme vão muito além do exibicionismo. Ao examinar a confluência de carne e espírito, Mitchell e os atores - eles o ajudaram a escrever o roteiro - querem mostrar o que o sexo realmente diz sobre nós. É uma grande ambição e uma viagem imersiva e emocionante.


Giselle (Brasil, 1980)


No transgressivo filme de Victor Di Mello, depois de anos estudando no exterior, Giselle volta ao país e reencontra seu pai casado com Aidée. Liberal, a moça vive vários romances: com Aidée, com o capataz da fazenda e até mesmo com uma ativista política.


Táxi para o Banheiro,(Alemanha Ocidental, 1980)


Frank Ripploh mostra  não apenas a vida cotidiana gay, mas também uma permissividade sexual extremamente incomum. Pouco antes da era da AIDS, ele se mostrou fazendo sexo oral até o orgasmo e uma chuva dourada, sem ser totalmente pornográfico. Ripploh então continua com o cruising: os momentos e lugares da subcultura homossexual do início dos anos 1980, de Berlim


Um Quarto em Roma (Espanha, 2010)


O diretor espanhol Julio Medem sempre abordou a sexualidade e as relações impessoais em seus filmes.Pois em “Quarto em Roma” ele não apenas flerta com o sexo e sim realiza sua obra mais erótica, sobre duas mulheres que passam a noite juntas em um quarto do hotel, transando, gozando e trocando confidências.



Ousado, desinibido e direto são apenas alguns adjetivos para descrever o retrato fascinante, íntimo e honesto de D. Smith da vida de quatro trabalhadoras do sexo trans negras, Daniella Carter, Dominique Silver, Koko Da Doll e Liyah Mitchell. Das avenidas de Nova York às ruas de Atlanta, a intimidade com que cada mulher relata suas experiências e observações é única. 


LOVE (França/Bélgica, 2015)


Provocativo por excelência, o cineasta franco/argentino Gaspar Noé aborda o erotismo querendo dar ao seu filme uma dimensão artística, emocional e filosófica. No que ele é mais interessante é nas suas escolhas e nas suas propostas de produção, sempre inovadoras, atrevidas e fascinantes.Com LOVE, o choque já vinha da premissa inicial: contar uma história de amor com sequências de sexo explícito, em 3D.

Calígula (Caligola, Itália/Estados Unidos, 1979)


Em 1979, Bob Guccione e sua produtora Penthouse lançaram o que foi, na época, o primeiro filme pornográfico multimilionário da história. Pode-se ver o que atraiu Guccione para o projeto - os costumes sexuais soltos da Roma antiga servidos por muita nudez e orgias. No entanto, o que torna “Calígula” monumental e muito mais do que isso, é um roteiro bastante alfabetizado de Gore Vidal (mais Gore do que Vidal) e o senso visual do diretor Tinto Brass,


O ousado Vento Seco de Daniel Nolasco, é marcado por erotismo, nudez e sexo, explícito muitas vezes. Esses elementos que constroem o filme, lhe garantem uma estética atrevida, que acompanha a jornada sexual do personagem principal. O filme é declaradamente fetichista. De maneira lúdica ele mostra o universo da submissão e dominação. Do couro. Do urso. Do policial. Do sexo em lugares públicos. Vestiários. Chuveiros. Urina. Sêmen.


Ken-Park (EUA/França/Países Baixos, 2002)

Ken Park é uma fatia sexualmente explícita do tédio adolescente daquele autoproclamado especialista nos filmes de skate, Larry Clark, trabalhando desta vez em conjunto com o diretor de fotografia Ed Lachman. O filme é lindamente elaborado, mas emocionalmente alienante em sua insistência em destacar apenas os aspectos negativos da vida.


Um Estranho no Lago(L'Inconnu du lac, França, 2013)


Ambientando em uma única locação, o thriller homoerótico de Alain Guiraudie, evoca Alfred Hitchcock numa trama cercada de mistério e sedução, para lidar com a marginalização dos homossexuais, em um território hostil: o da  'caça' ao ar livre.




Iracema (Brasil, 2024)

Livremente inspirado na canção "Iracema", de Adoniran Barbosa, mas com uma ‘métrica diferente’, o filme conta a história de Patrícia (Jaqueline Marques), uma lésbica enlutada que perdeu todas as memórias de sua amada recém-falecida. De Iracema (Ana Moura) sobraram apenas as botas, nas quais Patrícia agora projeta um imenso luto capaz de dar a elas o peso e a massa necessários para transformá-las em uma singularidade cósmica que vai distorcer todo o tempo e o espaço ao redor.

Yuri Célico faz sua estreia na direção criando mundos para inverter a típica narrativa LGBTQIA+, e tratar temas como perda, luto, revolta, solidão e insatisfação. Iracema pode ter partido, seu retrato foi perdido, a lembrança em suas botas vermelhas abrem portais ultradimensionais, que são pontuados por cores vibrantes, imagens lisérgicas e uma distopia atípica.


Para elaborar os visuais, que simulam dimensões paralelas, com pouco orçamento, Célico realizou um trabalho minucioso também na montagem e na direção de arte. Esses momentos que podem ir do lúdico ao realista, jamais caem na armadilha do CGI barato, pelo contrário evocam sensações e deslumbram os olhos.

Os diálogos, também escritos pelo diretor, resultam em algumas cenas bem pessoais, em especial uma com a mãe, interpretada por Nayra Nery. “Minha pequena vendeta contra as injustiças e crimes que não posso vingar, é fazer com que as vivências únicas de personagens queers (sejam elas boas ou ruins) se tornem sua força, como é o caso da Patrícia, cujo amor (e luto) por Iracema, assume tamanha massa e densidade que acaba por se converter em um literal buraco negro. No universo em que concebo minhas histórias, uma pessoa heterossexual dificilmente seria capaz do mesmo feito pois teria seu amor e dor reconhecidos e aceitos, logo, diluídos em outros espaços, outras pessoas, outros objetos”, destaca o cineasta.


Com referências estéticas de Os Arqueiros,: Powell e Pressburger, o filme também bebe na fonte de clássicos do horror B, como Planeta Prohibido (1956) e aos planos cheios de energia de Night of the Eagle (1962), de Sidney Hayers, criando um clima fantasmagórico, mas sobretudo fantástico.


Iracema tem sotaque gaúcho, pois foi rodado em Porto Alegre, como uma espécie de ‘ritual de despedida’ entre amigos, antes de Yuri, graduado em Cinema pela PUC-RS, ir morar em São Paulo. Mas para ele a descentralização do cinema nacional ainda é utópica: “Eu nunca encontrei meu espaço no cinema do Rio Grande do Sul, embora admire inúmeros filmes, artistas e profissionais do estado e tenha muitos amigos entre eles. E ao meu ver, o movimento de descentralização do nosso cinema ainda é insípido e mais virtual do que prático, pois muitas coisas ainda acabam concentradas no eixo Rio-São Paulo”.


Enquanto Iracema não encontra uma casa para estrear, embora seja um prato cheio para os Festivais de Cinema Fantástico, o diretor já trabalha em projetos futuros, como a adaptação de seu romance Talvez, Dona Aranha, que divide alguns temas e revoltas com Iracema, apesar de priorizar uma empreitada que define como “Suspense meta-noir gay”, além de estar na produção de O Labirinto dos Garotos Perdidos, de Matheus Marchetti.



quinta-feira, 5 de setembro de 2024

"El Universo Conspira", uma série uruguaia independente que promove a inclusão e fortalece a comunidade local

O diretor Leonardo Pintos apresenta sua nova série de ficção, "El Universo Conspira", uma produção que aborda questões contemporâneas com uma abordagem inclusiva, apresentando diversos personagens que exploram uma ampla gama de orientações, expressões de gênero e pontos de vista de um jovem que vive na América Latina. Seu conteúdo profundamente humano gerou impacto na esfera cultural e social do Uruguai e de outros lugares.

A sinopse desta série, que está disponível para a América Latina na plataforma UN3TV e para a Europa na FILMIN, fala de Montevidéu, uma marcha pela diversidade e um grupo de jovens na casa dos vinte anos tentando encontrar um rumo. Neste contexto de festa e caos, parece não haver oportunidade para Bruno A. e Bruno B. se conhecerem. No entanto, o universo conspira. A representação das vozes LGBTQ+ nesta ficção permite que a história seja contada sem que o conflito principal gire em torno da orientação dos personagens.


Os críticos descreveram El Universo Conspira como “Um tesouro de série uruguaia” (SemanarioBusca) que brilha tanto pela sua honestidade como pela sua relevância social. Seu sucesso no circuito internacional de festivais levou o nome do Uruguai a novos públicos ao redor do mundo, sendo a primeira série uruguaia a estrear na renomada plataforma FILMIN, o que reforça o potencial da ficção uruguaia no panorama global, repercutindo nas novas gerações que procuram para conteúdos representativos, atuais e diferenciados. vozes das novas gerações com grande talento e profissionalismo. 


A série é uma coprodução entre UN3TV (Argentina), Manso Films (Uruguai) e Ouroboros (Uruguai), e também conta com o apoio do Fundo de Posicionamento Internacional da Agência Nacional de Cinema, Uruguai.



quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Sex (Noruega, 2024)

Dag Johan Haugerud desenrola, o primeiro filme de uma trilogia, em um subúrbio de verão de Oslo, onde dois homens, limpadores de chaminés, heterossexuais,  Feier (Jan Gunnar Roise) e Avdelingsleder (Thorbjorn Harr), estão cheios de questionamentos, que terá implicações de longo alcance em seus relacionamentos familiares.

Feier admite ter feito sexo casual com um estranho. Avdelingsleder então descreve um sonho em que ele é uma mulher que faz sexo com David Bowie. Isso o deixa confuso e questionando o quanto sua personalidade é moldada pela forma como ele aparece para os outros. Sua esposa (Brigitte Larsen) mais tarde aponta: "a homossexualidade não é apenas uma identidade, é uma atividade".


Entre os muitos aspectos que tornam Sex marcante estão os corpos dos dois homens, que são absolutamente medianos em relação aos atores que costumam povoar o cinema. Este filme não é a realização de um desejo de fantasias homoeróticas. Sem sensacionalismo ou melodrama, Haugerud cria um estudo de personagem compassivo que abraça a vulnerabilidade.

O roteiro aborda tópicos como masculinidade, relacionamentos e expectativas sociais com nuances. O estilo visual é discreto, com um trabalho de câmera contemplativo que permite examinar de perto os personagens principais, no topo das chaminés da capital norueguesa.


A trilha sonora inclinada ao jazz, de Peder Kjellsby, flutua através de interlúdios como reflexões. Apresentações musicais emocionantes proporcionam uma pausa no diálogo enquanto um coro ensaia obras como "Into My Arms", de Nick Cave.


Sex explora a fluidez de gênero, sexualidade e autopercepção. Em vez de reforçar estereótipos, Haugerud desmonta suposições sobre masculinidade. Seus protagonistas descobrem que a heterossexualidade não nega momentos de desejo homossexual.


Mamãe é de Morte (Serial Mom, EUA, 1994)

Com uma comédia hilária e dinâmica, John Waters esmaga os bons costumes e a consciência americana puritana. Kathleen Turner é simplesmente brilhante como uma dona de casa desesperada à beira de um colapso nervoso, a protagonista não tolera que nenhum membro de sua família seja contrariado. Daí sua propensão a fazer desaparecer em circunstâncias misteriosas todos aqueles que não respeitam esse imperativo.

Com um humor ácido de uma ferocidade implausível e sob o disfarce de uma sátira macabra, Mamãe é de Morte de fato desconstrói com a meticulosidade todas as deficiências da família americana. O longa não se limita apenas a uma simples revelação de vícios ocultos, mas também se preocupa em escrever seus personagens e dar-lhes uma consistência real.


Beverly Sutphin(Turner), a dona de casa perfeita, uma esposa modelo e uma mãe carinhosa. Pelo menos ela consegue manter essa vida dupla por um bom tempo. Nem seu fiel marido Eugene (Sam Waterston), nem os dois filhos Misty (Ricki Lake) e Chip (Matthew Lillard, pré Pânico) suspeitam de quais talentos ocultos estão adormecidos em sua mãe. E quando finalmente o fazem, já é tarde demais, porque a "Serial Mom" há muito se tornou uma sensação na mídia.


Ridicularizando abertamente das deficiências de seus patriotas (a obsessão com a coleta seletiva do lixo, o respeito às regras mais absurdas, as tradições de vestuário), John Waters desmascara a boa consciência com rara precisão, emulando visuais dos anos 50.


No terceiro ato do filme, no qual uma Beverly justamente culpada é levada a julgamento pelo assassinato de inúmeras pessoas (algumas das quais ela matou em plena luz do dia à vista de policiais) e se reúne para um brilho de absolvição com base em sua atratividade branca como um ícone da mídia em ascensão.  


O longa tem muitos elementos de Female Trouble(1974) e Polyester(1981), ambos estrelados pela musa do diretor, Divine. Mas Mamãe é de Morte, embora sem as figuras mais icônicas de Waters, exceto por Mink Stole, é mais consistente, unindo com sucesso seus temas clássicos de celebridade, crime, cinema de exploração, os horrores do design dos subúrbios e a idiotice da polidez americana.



terça-feira, 3 de setembro de 2024

THE ROOM NEXT DOOR ESTREIA NO FESTIVAL DE VENEZA



O primeiro longa de Pedo Almodóvar em língua inglesa, The Room Next Door, fez sua première no Festival de Veneza com uma recepção calorosa. O filme foi aplaudido por 18 minutos, a maior ovação do Festival até agora.

Na entrevista coletiva do filme, Almodóvar relatou que a Eutanásia, legalizada na Espanha, é um dos temas centrais do filme, e que move a doce relação entre as personagens de Julianne Moore e Tilda Swinton. A propósito, todos trocaram muitos elogios mútuos, durante o evento. 


O filme, baseado no romance de Sigrid Nunez, narra a decisão de uma escritora de sucesso (Julianne Moore) que acompanha os últimos dias da amiga, uma correspondente de guerra (Tilda Swinton), com câncer terminal. É uma reflexão melancólica sobre a morte, amizade, maternidade e direito à eutanásia. 




ESTAMOS NO BLUE SKY



Com a suspensão do X, falecido Twitter no Brasil, a página migrou para o Blue Sky, rede que necessita de melhorias, mas já é um refúgio para os órfãos da outra plataforma, que começou a apresentar sinais muito negativos após sua venda. Então nos segue lá no CÉU AZUL.

Skincare (Itália/EUA, 2024)

Uma esteticista de sucesso, Hope Goldman(Elizabeth Banks), encontra seu negócio em terrenos instáveis depois de investir tudo o que tem no lançamento de sua própria linha de cuidados com a pele. Ela está pronta para a ocasião quando um novo inquilino se muda para o complexo comercial, outro esteticista, Angel Vergara(Luis Gerardo Méndez), com seus próprios serviços inovadores de skincare.

O filme, de Austin Peters, pode facilmente ser uma sátira de Hollywood. Hope Goldman enlouquece ao ser perseguida anonimamente. A cada passo, parece que alguém está empenhado em destruí-la pessoal e profissionalmente. E Hope assume que certamente deve ser Angel.


À medida que a história se desenrola, Peters astutamente mergulha no ambiente sofisticado de Hollywood, ao mesmo tempo em que coloca  os pés no lado mais decadente da cidade. Uma variedade de personagens coadjuvantes preenche tudo, sendo a melhor uma subutilizada Michaela Jaé Rodriguez, como assistente e chefe de relações públicas de Hope.

Enquadrado como uma história fictícia inspirada em eventos reais, Skincare é vagamente baseado na celebridade visagista Dawn DaLuise. Em 2014, DaLuise foi presa injustamente e acusada de ordenar um golpe no concorrente Gabriel Suarez.


O diretor estreante em longas Austin Peters, conhecido por seu trabalho em videoclipes de Orville Peck, HAIM e Diplo, usa muito dessa influência, recheando as cenas de músicas POP e uma montagem ágil e em alguns momentos nervosa.

Jordan( Lewis Pullman) é o coach contratado por Hope para ajudar a resolver o mistério. Mas o personagem queer (que tem uma das melhores sequências do longa), pode guardar segredos embaixo de sua superfície asseada. Assim, o longa navega por batidas familiares de comédia sombria que o levam às margens do thriller.


Em seu tom satírico Skincare, nunca faz as coisas nunca parecerem muito esperançosas para o caráter difamado e a relevância de Hope. Banks tem um talento especial para interpretar uma figura charmosa, carismática, embora mordaz, mas também para mostrar rachaduras de desespero e paranoia. Hope Goldman é impiedosamente motivada, mas ainda muito vulnerável que, quando seu negócio começa a ruir, toda a sua vida também, porque o trabalho é tudo o que ela realmente tem.