"Avenida Beira-Mar", dirigido por Maju de Paiva e Bernardo Florim, mergulha nas profundezas da amizade, identidade e a complexidade das relações humanas num ambiente litorâneo. O longa não apenas conta uma história, mas provoca uma reflexão sobre aceitação, preconceito e a beleza das conexões interpessoais.
No coração do filme, está Rebeca(Milena Pinheiro), uma menina de 13 anos, que se muda para Piratininga, em Niterói, com a mãe, interpretada por Andrea Beltrão, após a separação de seus pais. Confinada dentro de sua nova casa devido a uma onda de roubos, Rebeca observa o mundo exterior de cima do muro, um símbolo de sua própria prisão emocional e social. Sua vida ganha um novo significado quando conhece Mika(Milena Gerassi), uma menina trans que enfrenta o desafio diário de afirmar sua identidade em um ambiente frequentemente hostil.
A amizade entre Rebeca e Mika é o eixo central do filme, uma relação que transcende as barreiras sociais e de gênero, oferecendo um olhar terno sobre o poder da compreensão e do apoio mútuo. O encontro delas é um momento de revelação para Rebeca, que começa a ver o mundo com olhos diferentes, enquanto Mika encontra em Rebeca uma amiga verdadeira, alguém que a vê e a aceita pelo que realmente é.
Visualmente, "Avenida Beira-Mar" captura a essência do subúrbio litorâneo, com uma fotografia, de Luís Baramo, que enfatiza a beleza e a melancolia das paisagens de Niterói. A direção de arte e a escolha de locações são fundamentais para criar um ambiente que tanto limita quanto libera, refletindo o estado emocional das personagens.
A trilha sonora, embora discreta, é pontual e reforça momentos de tensão, alegria ou tristeza, contribuindo para a criação de uma atmosfera emocional rica. Há um momento ricamente emocional com Dê um Rolê, na voz de Gal Costa. A atuação das jovens atrizes é um grande aspecto, trazendo profundidade às suas personagens.O filme aborda temas como a transição de gênero, a aceitação e a transfobia de maneira sutil mas poderosa. O conflito de Mika com sua identidade e a rejeição que enfrenta da sociedade e especialmente de sua família são mostrados com uma veracidade que comove. A história também explora a solidão, a busca por pertencimento e como as amizades podem oferecer uma nova perspectiva sobre a vida.
Maju de Paiva e Bernardo Florim conseguem criar um ambiente onde cada cena é carregada de sentimento, onde a amizade entre Rebeca e Mika se torna um farol de esperança em meio ao desespero e à confusão da adolescência. A maneira como o filme lida com a identidade de Mika é particularmente sensível, evitando clichês e oferecendo uma representação digna e respeitosa da experiência trans desde a infância.
"Avenida Beira-Mar" é uma jornada emocional que nos lembra da importância da empatia e da aceitação. É uma crítica à sociedade que marginaliza e um elogio à amizade que transcende todas as barreiras. Semelhanças à “Sem Coração”, de Tião e Nara Normande, à parte o filme toca corações por sua sinceridade, delicadeza e profundidade.
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