segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

Madeleine à Paris (Brasil, 2024)


"Madeleine à Paris" , de Liliane Mutti, explora temas intrincados de identidade, migração, religiosidade, e resistência cultural através das lentes da vida de Roberto Chaves. O documentário segue a jornada diurna de Roberto na lavagem das escadarias da Igreja da Madeleine e sua vida noturna no cabaré "Paradis Latin", onde ele assume o papel de arlequim. A narrativa do filme é marcada por um contraste entre o sagrado e o profano, o masculino e o feminino, oferecendo um olhar sobre como essas dicotomias podem se harmonizar na experiência de uma única pessoa.

O documentário dá visibilidade a uma figura que encarna múltiplas identidades — homem negro, queer, e adepto de religiões de matrizes africanas.Ele traz uma narrativa que transcende limites geográficos e culturais, quase como um road movie, promovendo a diversidade e a resistência cultural.

Robertinho Chaves é uma figura carismática e cheia de vida, cuja personalidade e história pessoal são capturadas com autenticidade pelas lentes da diretora. A maneira como ele navega entre diferentes culturas e religiões é fascinante e traz uma camada cheia de autenticidade.

O filme faz um bom trabalho ao contextualizar a Lavagem da Madeleine dentro da cultura brasileira, mostrando como esta tradição é uma forma de resistência e celebração da herança africana no Brasil, agora transportada para um cenário europeu. A inclusão de figuras como Carlinhos Brown e Vincent Cassel na edição documentada do evento reforça essa ponte cultural.

Como linguagem, o filme utiliza uma estética crua. Com muitos momentos de câmera na mão, que capturam a euforia trazida pela Lavagem. Mesmo com alguns momentos escuros, a narração em off de Roberto Chaves serve como um guia emocional e informativo, adicionando uma intensidade à narrativa.

"Madeleine à Paris" é um esforço louvável para documentar uma celebração única que une culturas e questiona identidades. A força do filme reside na sua capacidade de contar uma história humana e cultural revolucionária. Com sua abordagem documental, Mutti consegue trazer à tela uma mistura fascinante de tradição, arte e comunidade.

A fé é um tema central e intrincado, retratada não apenas como uma prática religiosa, mas como uma força vital que conecta identidade, cultura e resistência. O ritual da Lavagem de Madeleine é uma cerimônia que lava as escadarias da igreja, simbolizando a purificação e a afirmação da presença e da espiritualidade afro-brasileira. A fé, aqui, transcende a religiosidade tradicional, tornando-se um meio de expressar e reivindicar a identidade e a liberdade cultural em um contexto europeu.



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