segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

Sol de Inverno (My Sunshine, França/Japão, 2024)

“Sol de Inverno", de Hiroshi Okuyama, chama a atenção pela profundidade emocional, sendo uma obra que capta  a essência da juventude e a transição sutil para a maturidade. Situado na ilha de Hokkaido, no Japão, o filme explora a vida de Takuya(Keitatsu Koshiyama), um jovem que se encontra mais fascinado pela beleza da patinação artística do que pelo hockey, o esporte tradicional para meninos durante o inverno.

Embora à primeira vista pareça mais um coming-of-age o filme trata com complexidade temas de identidade, aceitação pessoal e a dinâmica de relações interpessoais. O longa questiona normas de gênero e expectativas sociais através da jornada de Takuya, que passa do hockey para a patinação  ao lado de Sakura (Kiara Nakanishi), uma patinadora talentosa de Tokyo. Este movimento não é apenas um desvio do esporte tradicional, mas uma metáfora para a descoberta do próprio eu em um contexto social que pode ser restritivo ou preconceituoso.


O técnico Arakawa (Sosuke Ikematsu) aumenta a dimensão do filme, não só como mentor, mas como uma figura que também está em busca de sua própria redenção e aceitação. Sua homossexualidade é tratada com sensibilidade, sem ser o foco principal do enredo, mas sim um elemento que enriquece a narrativa sobre compreensão e tolerância.


Okuyama, que também é o diretor de fotografia do filme, cria uma atmosfera visual que é ao mesmo tempo etérea e profundamente enraizada na realidade do inverno de Hokkaido. As cenas de patinação são filmadas com uma elegância mágica do esporte, enquanto a paleta de cores suaves reflete a pureza e a inocência dos personagens. A escolha de "Clair de Lune" de Debussy como trilha sonora contribui para o tom melancólico e poético do filme.


"Sol de Inverno" proporciona um olhar poético sobre crescimento, aceitação e a beleza da vida em suas formas mais simples. É um filme que, embora possa não ser para todos os públicos devido ao seu ritmo contemplativo, é daquelas histórias que tocam o coração com gentileza e profundidade. 


O filme foi indicado ao  Queer Palm, no Festival de Cannes, evidenciando sua importância na discussão sobre identidade e orientação sexual dentro do contexto do cinema japonês. A abordagem de Okuyama é sutil, focando na normalização da vivência queer, integrando-a de maneira orgânica na trama, sem torná-la o único ponto central da trama, mas sim uma parte natural da vida dos personagens.



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