"L'Arche de Noé" é uma obra que tenta capturar a essência da luta, resiliência e humanidade em meio à rejeição e à busca por identidade. Dirigido por Bryan Marciano, o filme aborda a temática da juventude queer desabrigada, mas também apresenta desafios narrativos e estéticos.
O enredo se centra em torno da "Arca de Noé", uma associação fictícia que oferece abrigo temporário para jovens LGBTQIA+ que foram expulsos de suas casas. A estrutura narrativa é episódica, com foco em vários personagens, cada um com sua própria história de dor, esperança e transformação. No entanto, a multiplicidade de arcos pode levar a uma diluição da profundidade emocional, deixando o espectador com uma sensação de superficialidade em alguns momentos.
A introdução de Alex, interpretado por Finnegan Oldfield, como um ponto de vista externo, embora uma tentativa de fornecer um olhar crítico sobre o ambiente, às vezes desvia o foco daqueles que deveriam ser os verdadeiros protagonistas - os residentes da Arca.
Valérie Lemercier brilha como Noëlle, a diretora da associação, trazendo uma mistura de carisma, humor e profundidade à personagem. Sua atuação é o ponto alto do filme, permitindo momentos de verdadeira humanidade e conexão.
Em sua estreia em longas-metragens, Marciano demonstra um domínio técnico notável para um diretor de primeira viagem, especialmente na maneira como ele utiliza o espaço físico da Arca para refletir o estado emocional dos personagens. A fotografia inicialmente caótica dá lugar a um estilo mais contido à medida que os personagens encontram seu caminho, simbolizando uma espécie de ordem emergente do caos.
O filme aborda temas de aceitação, a importância de um lar, e a luta contra a homofobia e a transfobia com um coração genuinamente compassivo. A mensagem central sobre a necessidade de espaços seguros para jovens queer é poderosa e oportuna. No entanto, o tratamento desses temas pode parecer didático em momentos.
"L'Arche de Noé" é um filme com intenções nobres e momentos de autenticidade. No entanto, sua execução narrativa e a direção às vezes falham em capturar a complexidade da experiência humana que se propõe a representar. É uma obra corajosa em abordar uma questão tão vital, mas também é uma que poderia ter se beneficiado de mais sutileza.
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