"Il ragazzo dai pantaloni rosa", dirigido por Margherita Ferri, é uma pancada que ressoa como um lamento. Baseado na história real de Andrea Spezzacatena, um adolescente de 15 anos que se suicidou em 2012 após sofrer bullying e cyberbullying homofóbico, o filme não apenas reconta uma tragédia, mas escancara a violência das normas de gênero impostas aos jovens. Andrea (Samuele Carrino) é um garoto sensível, apaixonado por canto e cinema, que se torna alvo de seus colegas por usar calças rosa — um acidente de lavagem que vira símbolo de sua inconformidade. Ferri, uma cineasta queer com olhar feminista, mergulha na adolescência com uma lente que é ao mesmo tempo delicada e implacável.
Visualmente, o filme aposta em contrastes sutis para refletir o mundo interno de Andrea. A cinematografia de Martina Cocco usa tons pastéis e reflexos — espelhos, vidros, água — para simbolizar a busca de identidade do protagonista, sempre fragmentada pelos olhares alheios A trilha sonora, com o tema Canta ancora interpretado por Arisa, é um hino de resistência que ecoa a luta de Andrea para manter sua voz, mesmo silenciado.
Embora Andrea não seja explicitamente identificado como LGBTQIA+ no filme, sua história é inegavelmente uma narrativa queer. Os ataques que sofre são alimentados por uma homofobia estrutural que pune qualquer desvio da masculinidade normativa Ferri, não cai na armadilha de rotular Andrea, mas explora como a sociedade projeta rótulos para justificar a violência. A relação ambígua entre Andrea e Christian (Andrea Arru), o colega que oscila entre amizade e traição, é um dos pontos altos, questionando a toxicidade da masculinidade e o medo de ser “contaminado” pela diferença
Baseado no livro Andrea: Oltre il pantalone rosa, escrito por Teresa Manes, a mãe do jovem, aqui interpretada por Claudia Pandolfi, e sensibilizando escolas sobre o cyberbullying, o filme, que se tornou o maior sucesso de bilheteria italiano de 2024, foi amplamente exibido para estudantes, mas também gerou polêmica: em Roma, uma sessão foi interrompida por comentários homofóbicos de alunos, provando que a mensagem do filme é mais urgente do que nunca.
O que faz "Il ragazzo dai pantaloni rosa" essencial é sua capacidade de convocar o espectador a agir. Não é apenas um filme sobre bullying; é um convite à empatia, à responsabilidade coletiva de proteger os mais vulneráveis.
"Il ragazzo dai pantaloni rosa" é um espelho incômodo, refletindo não só a tragédia de Andrea, mas a persistência da intolerância em escolas e redes sociais. O filme é uma oportunidade para o público se conectar com uma história que, embora italiana, é universal. Ele inevitavelmente dialoga com Close, de Lukas Dhont, que também explora o custo de ser autêntico. Que a voz de Andrea, como um hino de Rafaela Carrà, continue ecoando.
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