quarta-feira, 23 de abril de 2025

Looking for Langston (Reino Unido, 1989)

Em 1989, Isaac Julien, um dos gigantes do cinema queer e negro, lançou Looking for Langston, um curta experimental de 45 minutos que é puro êxtase visual e emocional. Homenageando Langston Hughes, poeta da Renascença do Harlem, o filme não é uma biografia convencional, mas uma meditação poética sobre identidade negra, desejo homoerótico e resistência. Misturando imagens de arquivo, performances estilizadas e poesia, Julien cria uma colagem que pulsa com a energia de quem se recusa a ser silenciado.

A narrativa de Looking for Langston é deliberadamente fragmentada, como um sonho febril. Julien entrelaça cenas de um clube noturno dos anos 20, onde homens negros dançam e se desejam, com imagens de arquivo do Harlem e leituras de poemas de Hughes e Essex Hemphill. O desejo queer, muitas vezes oculto na vida de Hughes, ganha vida em olhares intensos e toques furtivos, filmados em preto e branco com uma sensualidade dilacerante. É impossível não se arrepiar com a coragem de Julien ao reivindicar Hughes como ícone queer, desafiando a censura que tentou apagar essa faceta do poeta.

A estética do filme é um personagem por si só. A fotografia de Nina Kellgren transforma cada quadro em uma pintura, com sombras dramáticas e corpos iluminados que evocam tanto Caravaggio quanto a nightlife underground. A trilha sonora, que mistura jazz, blues e batidas eletrônicas, cria uma ponte entre o Harlem dos anos 20 e a Londres queer dos anos 80, onde Julien militava com o coletivo Sankofa. 


Mas Looking for Langston não é só beleza; é também um soco político. Lançado durante a crise da AIDS e a repressão da era Thatcher, o filme enfrenta a homofobia e o racismo que sufocavam as comunidades negras e queer. A poesia de Hemphill, recitada com urgência, fala de corpos marginalizados que encontram refúgio no desejo. Julien não romantiza: cenas de violência policial invadem o idílio do clube, lembrando que o amor queer sempre foi um ato de resistência. É uma narrativa que ressoa com nosso 2025, onde a luta por visibilidade ainda urge.

O impacto de Looking for Langston vai além de seus 45 minutos. O filme abriu portas para o New Queer Cinema e inspirou cineastas como Cheryl Dunye e Barry Jenkins, que também exploram a interseccionalidade. No entanto, sua história não foi sem obstáculos: a família de Hughes tentou censurar o filme, temendo a exposição da sexualidade do poeta. Julien, como verdadeiro rebelde, transformou essa resistência em combustível, entregando uma obra que é tanto tributo quanto provocação.

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