quinta-feira, 3 de abril de 2025

Oscar Wilde About America (EUA, 2025)

Imagine Oscar Wilde, o rei do sarcasmo vitoriano, largando os leques e as xícaras de chá pra pilotar um conversível coberto de poeira, cortando os EUA da atualidade, como um profeta queer que trocou os salões por selfies e Wi-Fi de posto de gasolina. "Oscar Wilde About America", sob o comando de James Andrew Walsh, pega a turnê histórica de Wilde em 1882 — quando ele desembarcou na América pra dar palestras e ensinar os yankees a segurar um garfo com estilo — e a transforma numa road trip alucinada de Nova York a Hollywood. O que sai disso é uma comédia biográfica que joga purpurina na cara dos EUA, entre um tapa satírico e um brinde à liberdade de ser quem você bem entender.

Oscar Conlon-Morrey, saído direto do West End, veste Wilde com um misto de pose teatral e veneno contemporâneo — dá pra senti-lo soltando pérolas como “muitos carecem da originalidade de carecer de originalidade” enquanto faz pose pra um TikTok no Grand Canyon ou morde um cachorro quente na Times Square.

O elenco de apoio é um banquete de divas que não brincam em serviço: Rosemary Harris como Lady Bracknell, destilando sarcasmo como se fosse o GPS mandão da viagem, e Kate Burton como Sara Bernhardt, serve conselhos enquanto Wilde tenta entender o que é um podcast. A trama joga Wilde num 2025, cheio de glitter e caos, onde os grilhões de 1882 viraram correntes invisíveis de likes e cancelamentos — e o trânsito da I-95 é o verdadeiro teste de santidade.


"Oscar Wilde About America" dança na linha tênue entre o deboche e uma alma vibrante. E se o lendário autor estivesse em Pool Parties e Paradas LGBTQIA+? É uma festa de inclusão, com a canção “Be Yourself, Everyone Else Is Taken” (inspirada numa famosa citação de Wilde) ecoando como um grito de guerra pra quem já mandou as convenções para longe. Mas não se engane: o filme também crava os dentes na América que Wilde chamou de “barbarismo direto pra decadência, sem escala na civilização”. 


Não espere a gravitas de "Wilde", com Stephen Fry eternizando o gênio, em 1997. "Oscar Wilde About America" é outra coisa: é o dândi com bronzeado, mapa amassado e uma playlist que vai de Chopin a Chappell Roan, rindo da América enquanto descobre que ela, no fundo, é um circo que ele adoraria comandar. É provocação com alma, um lembrete de que ser autêntico é o maior dedo do meio que você pode mostrar pro mundo. Walsh entrega uma sátira  que não só sobrevive à road trip, mas a transforma num manifesto  e, se o filme tropeçar, pelo menos vai ser com estilo, e um elegante sotaque britânico.



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