terça-feira, 1 de abril de 2025

Love (Kjærlighet, Noruega, 2024)

"Love", segundo capítulo da trilogia "Sex, Love, Dreams "de Dag Johan Haugerud, é uma obra que se debruça sobre as complexidades da intimidade e do desejo em um mundo contemporâneo saturado por convenções e novas possibilidades. Ambientado em Oslo, o filme acompanha Marianne (Andrea Bræin Hovig), uma médica urologista na casa dos 40 anos, e Tor (Tayo Cittadella Jacobsen), um enfermeiro gay, ambos colegas de hospital que navegam suas próprias buscas por conexão sexual e emocional.

Haugerud, conhecido por sua abordagem discursiva e sensível, constrói um drama que é leve e profundamente introspectivo, utilizando longas conversas para desvelar as tensões internas de seus personagens. A direção de fotografia de Cecilie Semec, com sua luz suave e tons quentes, confere ao filme uma aura acolhedora que contrasta com a inquietação emocional de seus protagonistas.


A perspectiva queer é central em "Love", especialmente na jornada de Tor, que encarna uma visão de sexualidade fluida e descomplicada. Ele frequenta o píer de Oslo em busca de encontros casuais com homens, uma prática que descreve com franqueza e sem culpa, desafiando as expectativas de monogamia e romantismo. Haugerud, que já declarou que todos os seus trabalhos partem de uma lente queer, utiliza Tor para explorar uma forma de intimidade que não depende de laços emocionais profundos, mas que ainda assim é válida e gratificante. 


Além da ótica queer, Love também se aprofunda nas contradições humanas, especialmente através de Marianne. Como urologista, ela lida com a biologia masculina de forma clínica, mas demonstra uma desconexão emocional em suas interações pessoais, algo que Tor a fará repensar.


A cidade de Oslo desempenha um papel quase como personagem em Love, refletindo a dualidade entre tradição e modernidade que permeia a narrativa. Haugerud, que não é nativo da capital norueguesa, traz um olhar nostálgico para locais como a prefeitura de Oslo, que ele associa à sua infância, mas também captura a efervescência de uma cidade que se transformou em um centro cosmopolita. 


No fim, Love é uma obra que celebra a complexidade do desejo humano, mas também reconhece suas contradições e limitações. Haugerud entrega um filme que é, acima de tudo, um convite ao diálogo — não apenas entre os personagens, mas também com o público. Como parte de uma trilogia que explora sexualidade, intimidade e identidade, o filme se destaca por sua abordagem empática e não julgadora, mas deixa uma sensação de que poderia ter ido ainda mais fundo nas emoções de seus personagens. 


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