segunda-feira, 21 de abril de 2025

Maurice's Bar (França, 2023)


"Maurice's Bar", de Tom Prezman e Tzor Edery, é um curta animado que resgata com poesia e ousadia a história de um dos primeiros bares queer de Paris, fundado em 1906 por Moïse "Maurice" Zekri, um judeu argelino cuja vida desafia as margens da história. Ambientado em 1942, o filme nos conduz pelos olhos de uma ex-drag queen, em um trem rumo ao desconhecido, que rememora uma noite vibrante no bar. Essa narrativa, tecida por fofocas dos frequentadores, não apenas celebra a resistência queer em um período de opressão, mas também ilumina a interseção de identidades marginalizadas — queer, judaica e magrebina — em um ato de memória subversiva. A escolha de centrar a história em um espaço seguro, onde a comunidade LGBTQIA+ podia rir, amar e desafiar normas, destaca o pioneirismo de Maurice como um ícone de liberdade em um mundo hostil.

O pioneirismo LGBT do filme é seu cerne emocional. Maurice’s Bar, como espaço físico e simbólico, era um refúgio onde drag queens, homens e mulheres queer se reuniam para celebrar sua existência, longe da moralidade repressiva da época. Prezman e Edery, ambos artistas queer, baseiam-se em pesquisas de Noam Sienna e Leslie Choquette para reconstruir a vida de Zekri, um homem apagado pela história oficial, conhecido apenas por registros policiais e jornais sensacionalistas. Ao dar voz aos frequentadores do bar, o filme subverte o olhar externo e moralizante, optando por uma perspectiva subjetiva, quase onírica, que capta a efervescência de um espaço onde a comunidade podia ser autêntica. 


A técnica de animação é outro destaque, evocando, em momentos, a estética excêntrica e expressiva de "As Bicicletas de Belleville (2003)", de Sylvain Chomet. A dupla utiliza uma fusão de animação tradicional desenhada à mão e técnicas digitais, inspirada em gravuras e no estilo de Henri de Toulouse-Lautrec, com composições planas, linhas curvas e texturas que lembram aquatinta.


Diferente de "As Bicicletas de Belleville", que aposta em um humor mais excêntrico, "Maurice's Bar" equilibra humor queer com uma melancolia pungente, usando a música para sublinhar a fragilidade de um espaço que, apesar de seguro, estava sempre sob ameaça. A narrativa fragmentada, construída a partir de múltiplos pontos de vista, é tanto uma força quanto um desafio. Ao optar por não dar voz diretamente a Maurice, os diretores criam um vazio que reflete a ausência de registros históricos sobre ele, mas também permite que o bar seja o verdadeiro protagonista. 


Em seus 15 minutos, "Maurice's Bar" é um triunfo de animação e ativismo cultural. Premiado em festivais como Clermont-Ferrand e apresentado na MUBI, o curta não apenas resgata uma história esquecida, mas também reafirma o poder da animação como meio de preservar memórias marginais. Sua estética, que ecoa a liberdade artística de Toulouse-Lautrec e a excentricidade de Chomet, casa perfeitamente com sua missão de celebrar a resistência queer e magrebina.



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