Rúnar Rúnarsson entrega em "Quando a Luz Arrebenta" um drama islandês de contenção e potência emocional, centrado no luto e na autodescoberta de Una, uma jovem que enfrenta a perda de um amigo próximo enquanto guarda um segredo íntimo. O filme se destaca pela abordagem minimalista, com longos planos e silêncios que amplificam a dor interna dos personagens.
A narrativa se desdobra em um único dia, acompanhando Una (Elín Hall) após a morte de Diddi, um amigo próximo, em um acidente. O segredo que Una carrega — sua relação amorosa com Diddi, mantida às escondidas devido ao noivado dele com outra mulher — adiciona camadas de complexidade à sua dor. Rúnarsson evita o melodrama, optando por close-ups obsessivos no rosto de Hall, que transmitem um grito contido. A atriz captura a tensão entre o luto público e a angústia privada.
Os aspectos queer do filme, embora sutis, são fundamentais para entender a jornada de Una. A relação entre Una e Diddi, que transcende rótulos tradicionais, sugere uma fluidez emocional e sexual que desafia normas heteronormativas. Rúnarsson não explicita a orientação de Una, mas sua conexão com Diddi, mantida em segredo, ecoa a repressão enfrentada por identidades queer em contextos conservadores. Essa ambiguidade é reforçada pela amizade de Una com Klara, que carrega subtextos de afeto não verbalizado, especialmente em cenas de apoio mútuo no luto.
O filme também reflete sobre a juventude islandesa, usando o microcosmo de Una para explorar temas universais como a pressão social e a busca por identidade. A interação entre os personagens secundários, como os amigos de Una, revela tensões geracionais e a dificuldade de expressar vulnerabilidade em uma cultura que valoriza a estoicidade. A escolha de ambientar a história no verão, com sua luz incessante, cria um contraste irônico com a escuridão emocional dos personagens.
Quando a Luz Arrebenta é um estudo delicado e devastador sobre o luto, a repressão e a autodescoberta, com uma abordagem queer sutil, mas significativa. Rúnarsson equilibra forma e conteúdo com precisão, embora o ritmo contemplativo e a frieza estética possam alienar parte do público. Para aqueles dispostos a mergulhar em sua proposta introspectiva, o filme oferece uma experiência visual e emocional inesquecível, reforçada pela performance magnética de Elín Hall.
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