Criada, escrita e protagonizada por Josh Thomas ,dirigida por Matthew Saville, Please like me começa quando Claire(Caitlin Stasey) está rompendo com Joshua, por achar ele gay demais. No entanto, o protagonista, da série australiana, está mais preocupado com o sundae de U$19,00 do que com o rompimento. Desconstruindo os padrões de beleza Josh, prestes a completar 21 anos, inicia uma jornada de descobrimento.
Sem trabalhar, estudar, o personagem que odeia gatos, tem habilidades na cozinha. Ele é sustentado pelo pai Alan(David Roberts), e divide uma casa com o melhor amigo Tom, o ator Thomas Ward também colabora no roteiro de alguns episódios. No entanto a tentativa de suicídio de sua mãe Rose(Debra Lawrance), o leva a morar novamente com ela. Ainda assim, consegue se dividir entre as duas casas, e tem uma aptidão enorme para se envolver em problemas.
O interesse romântico de Josh na primeira temporada é o bonitão Geofrrey(Wade Briggs), que tira ele logo do armário. Mesmo assim, o protagonista é inseguro com seu corpo, já que não se encaixa, segundo os olhos dos outros, nos padrões. No entanto, entre seu círculo de amigos, ele é confiante, destemido e tem um tipo de humor, ácido, muito específico.
A primeira parte, com apenas 6 episódios, introduz os temas que virão a seguir. Tia Peg, interpretada pela atriz Judi Farr, rouba vários momentos para si e tem sem dúvidas as piadas mais sagazes. Quem também brilha é John, o cãozinho que, na vida real, é do próprio Josh Thomas.
A segunda temporada, agora com 10 episódios, abre as portas de ambientes manicomiais para discutir mais a fundo saúde mental e temas como suicídio, depressão e psiquiatria. Com um visual repaginado, Rose está numa clínica, onde se envolve com os outros pacientes: a ninfomaníaca Ginger(Denise Drysdale), o mulherengo Stuart(Bob Franklin), e Hannah(Hannah Gadsby), que terá um papel fundamental no futuro da série.
Além de abordar os bastidores de instituições, mostrando a convivência dos pacientes, a atração agora envolve Josh com Arnold(Keegan Joyce), que sofre de crises de ansiedade e ataques de pânico e também está em tratamento na clínica.
Tom ganha mais protagonismo e seus dilemas relacionados ao coração são bem explorados. Outro personagem novo é Patrick(Charles Cottier), o típico ‘gay padrão’, que temporariamente morando com Tom e Josh, também despertará interesse e insegurança no protagonista.
No âmbito familiar Josh ganha uma irmãzinha, fruto do relacionamento de seu pai com a tailandesa Mae(Renee Lim). Alan também tenta resolver os problemas financeiros do filho, lhe dando um carrinho de café e ainda há um episódio mais intimista, Mix de nozes e frutas secas, sobre a relação maternal, onde apenas Josh e Rose participam em um acampamento. Os atores brilham!
Fazendo piadas sobre testículos, pelos pubianos, menstruação, orgasmos, ISTs, vulvas, penetração, paranoia e tamanho de pênis, o roteiro, de Thomas, consegue usar de um humor inteligente e sagaz, que nunca cai na vulgaridade. O mesmo acontece em cenas de sexo, que são sempre sutis ou sugeridas.
Todo episódio tem nome de algo ingerível, quase sempre comida, e a abertura é embalada pela divertida I’l be fine, de Clairy Browne & The Banging Rockets, dando o tom do que virá a seguir. As refeições são sempre valorizadas em planos e sequências que reúnem o grupo de amigos e a família em torno de uma mesa.
A terceira temporada começa e Josh está pedindo conselhos para sua mãe sobre o relacionamento com Arnold. Disposto a conviver com o desequilíbrio do namorado, o casal protagoniza uma das cenas mais belas da série ao som de Kiss Me, do Sixpence None the Richer, um clássico da série Dawson's Creek(1998-2003).
E no que diz respeito a trilha sonora ao longo de suas quatro temporadas são muitas músicas: Tem Bette Midler, RuPaul, Supegrass, Backstreet Boys, Popdorian, Peggy Lee, Camera Obscura, Yeah Yeah Yeahs, Charlie Dee, Enya, The Cranberries, Thelma Houston, e algumas surpresas que só valem ser conferidas na tela.
Números musicais, ainda que intimistas, ganham mais espaço e garantem alguns luminosos e comoventes momentos. A cantora Adele, por exemplo, é homenageada através de uma galinha e o filme Simplesmente Amor(2003), é reverenciado, ainda que criticado, de maneira muito criativa.
Mas os dilemas dos personagens não param: Arnold precisa se assumir para a família. Rose agora está morando com Hannah, que é lésbica e está com o coração partido. Questionando-se sobre antidepressivos afetarem a libido, a mãe de Josh segue o exemplo da amiga e sem orientação médica para com os remédios controlados.
Claire está de volta para trazer, de forma leve, um assunto ainda polêmico: o aborto. Enquanto isso, Tom faz a fila andar e está com a carismática Ella(Emily Barclay), uma personagem de espírito livre que vive questionando o patriarcado.
Alerta de Climão: Com Tom e Arnold vivendo uma relação não monogâmica, o último episódio da temporada, “Pavê de Natal” é pura DR. Josh cospe verdades sobre todos ali presentes e vai embora com seu doguinho antes que possa ouvir a seu próprio respeito. O capítulo no entanto, só reafirma a riqueza de camadas que seus personagens possuem.
A quarta e última temporada, novamente com 6 episódios, já começa dando o tom de despedida que irá trazer o desfecho de seus personagens. Tom tem uma epifania e resolve se tornar melhor como pessoa. Hannah, está cada vez mais inserida no grupo e tratando de suas questões amorosas e por fim, Josh, passa por um momento muito delicado após enfrentar uma jornada inteira de amadurecimento.
O episódio Degustação, talvez seja um dos mais bonitos desta reta final, trazendo apenas o filho e seus pais em um jantar caríssimo, mas trocando memórias, afeto e resoluções. No entanto é Burrito, o capítulo do aniversário de Hannah, que irá te arrebatar.
Diante de tantos temas, que são sempre muito bem explorados, em episódios de 30min, Grindr, PreP, traição e entusiasmo com o futuro não ficam de fora. A relevância da série se torna gigante, por não ser apenas mais uma história para gays, mas para um público com senso de humanidade.
Please like me é sobre muitas coisas: amizade, família, relacionamentos, luto, aceitação, saúde mental. Mas é também uma série que emociona, faz rir e chorar, e dá lições reforçando que você não precisa viver de acordo com as normas, mesmo de seu próprio grupo, para ser feliz. Caso não dê certo, algumas sessões de terapia não fazem mal a ninguém.
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