segunda-feira, 14 de novembro de 2022

Perfidia(Bolívia/Chile/EUA, 2009)



Perfidia, do diretor boliviano Rodrigo Bellot, é estrelado por Gonzalo Valenzuela, como Gus, cuja estreia como ator em En la Cama(2005) foi uma homenagem a Bellott. Curiosamente, foi o próprio ator que inspirou o diretor a escrever Perfidia. Ou Valenzuela era o protagonista, ou o filme não seria feito. O que Bellott escreveu originalmente como um exorcismo pessoal, na tela proporciona uma catarse emocional.

Como o título sugere, Perfidia é um conto de traição amorosa. Acompanhamos o protagonista até uma noite em um quarto de hotel, onde ele pretende acabar com sua dor ao se despedir de seu amante. Um homem, um local, um desejo. A simplicidade da peça é impressionante: há dois minutos de diálogo em todo o filme, com apenas três músicas acompanhando os sons naturais esparsos.

O filme abre com a letra penetrante do bolero que dá título à obra: Ninguém entende o que eu sofro. Com isso, somos transportados para o mundo interior do personagem experimentando sua desolação, sua solidão, sua dor atormentada. Vemos a estrada se abrindo à nossa frente, o branco austero da paisagem coberta de neve. 

Logo aprendemos que nada, com Bellott, é um acidente. Uma cena de dança, ressonante com Ahora te puedes marchar, de Luis Miguel, poderia ser interpretada superficialmente como alívio cômico em um filme intenso e muitas vezes bastante trabalhoso em seus movimentos em tempo real. As letras, no entanto, desmentem uma leitura tão falsa: são essenciais para contar a história.

Naquela que é uma das cenas mais inesperadamente poderosas do filme, sua ironia sombria imortaliza a pungente sinceridade do protagonista. A conquista de Bellott vem ao expor a vulnerabilidade do personagem de forma profundamente sensível, mas consegue retratá-la com bravura.

A masculinidade de Valenzuela é um contraste irônico para sua fraqueza infantil, algo que, em última análise, é transparente, apesar de sua pose bem-humorada para a câmera. O que mais nos choca, no entanto, é a percepção de que ele não é a única pessoa vulnerável na sala: nós também somos confrontados com nossas vulnerabilidades mais íntimas, e isso pode ser uma identificação desconfortável.


O filme é uma liberação profundamente pessoal e emocional para Rodrigo Bellott, que obriga-nos a questionar e pesquisar com o mesmo zelo e desespero que caracteriza Perfidia. A emoção transmitida está profundamente arraigada em toda a experiência humana, fundamentalmente, o desejo de amar e ser amado. 



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