A série da Netflix, Wandinha, sobre a personagem do clã Addams imortalizada por Christina Ricci, nos anos 1990, combina com sucesso dois gêneros de uma maneira que faz mais sentido do que a maioria, a história de amadurecimento adolescente e o enredo de mistério de assassinato.
Wandinha está matriculada na Escola 'Never More' para ‘excluídos, esquisitos, monstros’, em cujo pátio central há uma fonte de bronze com a escultura da afogada Ofélia shakespeariana, e outra escultura de Edgar Allan Poe com um livro aberto, contendo enigmas, de importância para a trama, em uma mão, e o famoso corvo na outra.
Os alunos da escola são adolescentes de vários tipos de criaturas fantásticas, como lobisomens, vampiros, gárgulas e sereias que, apesar da marginalidade de seu corpo são tolerados na cidade de Jericó. devido às contribuições que sua diretora Larissa Weems (Gwendoline Christie) faz à cidade -leia-se a compra de políticos
A relutante Wandinha arruma Enid Sinclair (Emma Myers) como sua companheira de quarto, uma garota licantropa com problemas em assumir sua natureza de lobo, uma sutil alusão ao despertar sexual, sempre identificada com o 'monstro interior'.
Quando um monstro ataca e aparentemente mata um dos alunos na floresta, a série desvenda mistérios, pistas, enigmas e segredos, 'minha mãe diz que segredo é como um zumbi, nunca morre' - envolvendo Gomez e Morticia, bem como o prefeito Noble Walker (Tommie Earl Jenkins), o xerife Donovan Galpin (Jamie McShane), além do antigo fundador da cidade, o peregrino do século XVII, Crackstone, assassino de 'bruxas', enquanto nossa heroína vivencia episódios que mostram que suas qualidades psíquicas estão despertando.
Mãozinha vive e em movimento, é um personagem completo com piadas contínuas sobre cuidados com a pele e manicure, além de um coração (apenas metafísico) próprio. Fred Armisen aparece no episódio sete como Tio Chico fazendo o papel do criminoso careca. E o show brinca com a dinâmica altamente sexualmente carregada entre Morticia (Catherine Zeta-Jones) e Gomez (Luis Guzmán).
A atuação de Jenna Ortega como a personagem título eleva a série acima da pura nostalgia. Ortega, já familiarizada com o horror, se destaca no papel, inclinando-se para um humor ácido inexpressivo, ainda mais engraçado pela falta de interesse de sua personagem em qualquer coisa que se aproxime do riso.
Dentro da estética única de Tim Burton, os diretores do programa, tiram muito proveito da fisicalidade de Jenna Ortega, particularmente na espetacular cena de dança do ensino médio, onde ela consegue ser dona da pista enquanto permanece fiel à sua natureza sombria.
A trilha sonora de Danny Elfman é um destaque. Wandinha habilmente toca violoncelo. Há canções de Wolf Larsen, Edith Piaff, Chavela Vargas, Metallica, Dua Lipa, The Cramps, Roy Orbinson e homenagens literárias (Edgar Allan Poe, Mary Shelley e Robert Louis Stevenson), a Carrie a Estranha(1976) e a série animada Scooby-Doo dão o tom sombrio e divertido.
A atração também utiliza enredos adolescentes clássicos para trazer leveza aos seus corredores escuros, começando com a turnê das panelinhas na nova escola de Wandinha. Ao longo do caminho, tudo funciona. O mistério é difícil de descobrir, mas claramente no lugar o tempo todo e conclui satisfatoriamente. A ação é cheia de suspense, com perigo real iminente para personagens simpáticos. E o comentário social, sobre colonialismo, intolerância e diversidade é gratificante.
E ainda há a maravilhosa participação de Christina Ricci, como a monitora e professora de botânica Srta Thornhil. Ela representa a antítese da personagem de Ortega, é doce, gentil, preocupada, sorridente. Ela volta a trabalhar com Tim Burton, em uma atração sobre a personagem que a consagrou e é fundamental dentro da série.
Somando-se a esses elementos está a evolução de Wandinha ou pelo menos através da angústia adolescente. Ela é extremamente segura de si mesma, mas com muito o que amadurecer. Isso faz dela uma jovem extraordinária e típica, alguém que pensa que sabe tudo enquanto continuamente aprende mais. Ao longo da série, a vemos aprender valores sobre amizade, família, aceitação e gratidão.
É raro ver uma série misturar com tanto sucesso o desenvolvimento de personagens de amadurecimento com ghouls nojentos e sangrentos e um enredo de assassinato em série em cima de tudo. Se há um personagem para quem a morte e a escuridão não pesam, mas são uma parte normal de seus anos de ensino médio, é Wandinha Addams.
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