O Comandante Fort, minissérie documental de Patrício Álvarez Casado, é tão imprevisível, sedutora, exagerada, banal e magnética quanto seu protagonista Ricardo Fort, um ícone LGBTQIA+ na Argentina.
Ricardo Fort se preocupou em registrar cada acontecimento de sua vida para ser transmitido no YouTube sendo considerado o primeiro influencer no país. O milionário conseguiu o que queria, mas o preço foi ser obrigado a se expor em carne e osso: a câmera pedia cada vez, e ele, viciado nela, se rendia.
O Comandante Fort refaz a vida e a obra de seu protagonista. A série aposta em uma estética, conceito e abordagem fora do que se pode esperar de uma biografia. Cada um dos quatro episódios é contado de uma maneira diferente, desde o uso de uma narração que remete a um conto de fadas, até encenações de um elenco.
Cada episódio adquire um tom e registro diferente e não pelo assunto retratado. Assim, temos um primeiro capítulo chamado Mídia que recupera as múltiplas aparições de Fort nos meios de comunicação, seus cinco anos de fama com suas excentricidades, excessos e comentários característicos.
O segundo episódio muda de registro. Voltamos no tempo para investigar o passado de Ricardo. O gay que foi fazer sucesso em Miami aos 20 anos. Vários fatos não tão conhecidos são contados sobre sua pessoa. Seu lado humano é mostrado a partir de sua vulnerabilidade. O capítulo se chama Livre e faz um tour pelo significado de ser homossexual no início dos anos noventa.
O denominador comum da série é o diário privado de Ricardo Fort encontrado enquanto a investigação para a série era feita de acordo com o que é dito. É mostrada uma performance teatral com entrevistas com vários sósias de Fort lendo suas memórias.
O terceiro episódio chamado "Chocolate" dá origem a seus filhos que participam contando suas experiências com o pai. Outros afetos próximos de Fort aparecem no último capítulo denominado “Santo”, dedicado ao legado deixado pela construção do personagem que ele soube forjar. Uma personagem que acaba por devorar tudo à sua volta, sejam as suas pretensões de cantor, o seu corpo esculpido e a sua figura de artista.
Comandante Fort deixa um gosto agridoce em sua figura, numa espécie de mistura entre documentários sensacionalistas uma análise de sua personalidade. A minissérie também oferece um rico material de arquivo sobre a vida privada de Fort, com gravações inéditas de ensaios fotográficos, bastidores de entrevistas na televisão ou fragmentos de seus primeiros reality shows. É tudo sobre ELE, que já faz parte da cultura pop argentina.
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