quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Eduardo II(Edward II, Reino Unido, 1991)



Derek Jarman, diretor abertamente gay, costumava colocar sua ótica queer em clássicos que produzia, como fez em Caravaggio e em sua versão para Eduardo II, peça escrita por Christopher Marlowe, em 1593.

No contexto em que o filme foi feito, da proliferação da AIDS no início dos anos 1990, e que vitimou o diretor anos depois, a peça se adapta perfeitamente, protestando contra discriminação e homofobia ganhando assim um aspecto de manifesto.

A história é uma tragédia clássica. Após a morte do pai, Eduardo II(Steve Waddington) larga a esposa, a Rainha Isabella, Tilda Swinton atuando pela segunda vez com o diretor, e começa a viver com amado Pier Gaveston(Andrew Tiernan).

A direção de fotografia de Ian Wilson e a produção de arte, tomaram total licença poética, para mostrar marinheiros transando, corpos nus e figurinos glamourosos de Tilda Swinton, que lembra das grandes atrizes dos anos 1950.


A rainha se une à barões e a condes como Mortimer, Nigel Terry, com quem Tilda reprisa a parceria de Caravaggio. Em nome de Deus e dos bons costumes eles armam um golpe para derrubar o rei. Uma criança, o filho, sempre acompanha a soberana.

Uma das cenas mais belas do filme, entre tantas, é a despedida de Eduardo II e Gaveston, em participação mais do que especial de Annie Lennox, cantando o clássico Everytime We Say Goodbye de Cole Porter. O momento traduz todo o amor e desejo que brota dos dois

Com tanto apuro estético, e uma linguagem teatral no texto quanto no visual, ainda que trazido para o contemporâneo, a obra de Derek Jarman nos faz sentir realmente diante de um palco querendo ovacionar ao final.

Realizando um longa sobre desigualdade e repressão, o cineasta soube construir muito bem a linguagem que utilizou. Mesmo ambientado no período elizabetano podemos ver protestos LGBTQIA+, câmeras fotográficas, isqueiros, vampirismo e até uma árvore de natal.

Eduardo II é um filme cheio de camadas e interpretações brilhantes, que fazem com que ele seja mais do que um filme gay, ele é apontado como obra do new queer cinema na Inglaterra, mas sua crítica social e política somadas a seu visual, fazem dele uma verdadeira obra de arte.


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