segunda-feira, 1 de março de 2021

Zero Patience(Canadá, 1993)


Marco do movimento New Queer Cinema, Zero Patience, de John Greyson, conseguiu fazer o que parecia impossível: trazer humor e leveza para a problemática da AIDS. Para escrever o roteiro, Greyson se inspirou na história do comissário de bordo Gaëtan Dugas, um franco-canadense, apontado por levar o vírus aos Estados Unidos.

Colorido, lúdico, bem-humorado e corajoso, o filme é um musical marcado por cenas icônicas e letras que levantam uma bandeira de militância e crítica social desmontando o mito por trás da história do paciente zero, com uma linguagem de videoclipe.

Tudo começa quando o aventureiro e sexólogo vitoriano Sir Richard Francis Burton(John Robinson), após encontrar a fonte da juventude, e agora estar trabalhando com um taxidermista de um museu de história natural, tem a ideia de criar uma instalação sobre o paciente zero do vírus HIV.

Em sua pesquisa ele acaba encontrando a médica, a mãe e a ex-colega de Zero, Mary(Dianne Heatherington), que agora é uma ativista da ACT UP, todas se recusam a demonizar a história do paciente.



Quando num belíssimo momento musical, o fantasma de Zero(Normand Fauteux) se materializa, num banheiro masculino, ele tem a oportunidade de explicar à Burton como as coisas realmente são. Mas em meio a muita música, referências à obras renascentistas e a estética dos fotógrafos franceses Pierre et Gilles, um amor brota.

É através de um microscópio que Zero e Burton podem falar com o próprio vírus, que aparece como uma drag queen, Miss HIV, cantando, em meio à células, sobre a doença com referências que vão de Brecht, Foucault à Barbra Streisand.

Tão atrevido como criativo, o longa é um Manifesto que pretende desmistificar diversos estigmas acerca do HIV e trazer uma nova e divertida abordagem para o assunto, sendo um alento para a comunidade que vivia aquele contexto, sem deixar de fazer uma crítica voraz à indústria farmacêutica e a heteronormatividade. Uma subtrama importante envolve George(Richardo Keens-Douglas), um professor de francês e amigo de Zero. O personagem está perdendo a visão para o citomegalovírus e tomando um medicamento fabricado por uma empresa contra a qual está protestando, como membro da ACT UP.

O longa foi premiado como Melhor Filme no Festival de Ontario, em 1993. O diretor Greyson e o compositor Glenn Schellenberg foram indicados ao Prêmio Genie de 1993, de Melhor Canção Original pela música tema do filme, Zero Patience.

Nenhum comentário:

Postar um comentário