sexta-feira, 7 de junho de 2024

13 Sentimentos(Brasil, 2024)

por Marco Gal 13 de junho estreia "13 sentimentos", nova produção de Daniel Ribeiro, diretor do popular "Hoje eu quero voltar sozinho"null, filme escolhido para representar o Brasil no Oscar em 2015. "13 sentimentos" conta a história do cineasta João, interpretado por Artur Volpi, que entra na cena do namoro online agora que terminou seu relacionamento de 10 anos. Ele se interessa por Vitor (Michel Joelsas) e quando o conhece, volta a romantizar a vida. Só que Vitor some por umas semanas e bem, vamos dizer que esse é só um dos dilemas que João enfrenta, retratando a vida do homem gay e solteiro que mora em uma grande cidade.

Na entrevista com o diretor entrevista com o diretor aqui no Cinematografia Queer, Daniel diferenciou seus dois filmes como "13 sentimentos" sendo uma comédia romântica e "Hoje eu quero voltar sozinho" um filme coming of age. Engraçado como o cinema oferece tantas leituras diferentes. Ao meu ver, "13 sentimentos" é uma comédia, mas não sobre romance e sim sobre identidade. Em um momento do filme, João ouve de seu ex "quando se vive em casal, se cria uma entidade" e é esse questionamento que ele vive no longa. Agora que está sozinho, quem é ele?


Essas novas experiências de João geram conflitos que parecem reais e estão tão bem estruturados na história que estabelecem um ótimo ritmo. Mérito do roteiro, direção e da montagem. Outro destaque são os diálogos, a parte mais difícil de um roteiro. O filme tem um texto verborrágico e os diálogos tem um bom timing e traduzem muito bem a personalidade de seus personagens, o que gera ótimos momentos dos atores. Artur Volpi está muito natural como o protagonista João, Michel Joelsas está encantador como o paquera Vitor, Helena Albergaria amorosa como a mãe de João e Marcos Oli rouba a cena como o divertido amigo Chico.


O que talvez possa surpreender o espectador são as inúmeras cenas de nudez e sexo. Quando se pensa em uma clássica comédia romântica temos aquelas histórias bem açucaradas, que a família inteira pode assistir. Porém, em "13 sentimentos" somente o fato de João ter vários parceiros no filme já é o suficiente para causar estranhamento ou leituras preconceituosas de promiscuidade, conversa antiga até dentro da comunidade LGBTQIA+.


Ainda que tenhamos mais exemplos de filmes sobre homens gays do que outros representantes da sigla LGBTQIA+, contar histórias de grupos marginalizados pode dar espaço para interpretações problemáticas a um público hoje muito mais crítico e consciente sobre as histórias que consome, principalmente quando se vê representado nelas. Não demora para que perguntem "a vida de uma pessoa LGBTQIA+ é sempre atrelada ao contexto sexual?".


Porém, tão prejudicial quanto aqueles que querem proibir filmes com cenas de sexo, são aqueles que ditam como elas devem ser. "13 sentimentos" nos mostra que há diferentes formas de se abordar o sexo no cinema. Há uma cena de sexo em específico que ficará na memória de muita gente. A sequência é longa e acontece como um momento de liberdade de João. Tão romântica quanto as cenas que ele filmaria em seu trabalho. Mesmo que tenha momentos de maior discrição, quando no começo o protagonista é questionado no app de relacionamento sobre sua preferência sexual e marca "prefere não informar", mas o filme também adota tom mais sério, quando João filma um casal se pegando e se masturba assistindo os dois. Ou até quando outro casal o convida para participar da pegação e ele estabelece limites. É uma linha difícil de andar, entre não ser apelativo e dar conta das nuances da situação e "13 sentimentos" consegue fazer isso bem.


Mestre em Semiótica, o brasiliense Marco Aurélio Gal trabalha em séries, curtas e longas. Produziu, dirigiu e escreveu os filmes "Onde o céu acerta seus ponteiros" (2017) e "Como segurar uma nuvem no chão" (2019), exibidos em festivais, cruzeiros, canais de tevê e streamings, com sessões de Norte a Sul no Brasil e em dezenas de países.


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