Miriam (Adriana Llabres) é uma professora mexicana de língua de sinais para pessoas ouvintes. Apesar de não ser surda, aprendeu porque a mãe é. Isso causa conflito para sua namorada, Lola (Ludwika Paleta), que também é surda, mas fala (ela aprendeu a falar e usa um aparelho de escuta). No entanto, o mundo de Miriam toma um rumo inesperado quando ela descobre que está perdendo o sentido da audição.
Apesar de ser uma história de luto de Miriam por tudo o que não poderá mais ouvir, o diretor evita cair no capacitismo ao nos mostrar a grande diversidade de pessoas que existem na comunidade surda. Um personagem fundamental para isso é o de Manuel, amigo de Miriam, interpretado por Moisés Melchor, que é surdo na vida real. Ele faz a protagonista (e o público) ver que a vida sem ouvir é uma outra forma de perceber o mundo, não uma existência sofrida ou não funcional.
Da mesma forma, a personagem de Lola trabalha para mostrar como existem pessoas surdas que também escolhem outro caminho diferente da língua de sinais. Apesar de ser ouvinte, Paleta recebeu conselhos de um professor surdo oral sobre como canalizar sons e ser fiel em sua interpretação. Sua dedicação é perceptível, pois constrói uma personagem muito completa e cativante, longe do clichê.
O roteiro, de Lucía Carreras, é muito inteligente em não transformar a surdez em um elemento de sofrimento, mas algo que é desconhecido para Miriam. As discussões em torno do assunto são tratadas com empatia pelo texto, sempre deixando clara a dor de Miriam, sem demonizar ou nos fazer sentir pena. É uma linha muito tênue que ele consegue cruzar com sucesso.
O design de som, lembra The Sound of Metal(2019), e é muito bem utilizado para nos mostrar a perda gradual da audição. O som é distorcido de tal forma que apenas alguns tons altos ou baixos são audíveis em um determinado ponto, que as vozes soam longe ou que apenas certas frações de conversas são distinguidas.
A fotografia também busca nos imergir na mente de sua protagonista, com quadros fechados e avassaladores diante de seu desespero, e planos mais etéreos (quase táteis) quando ele reflete com mais calma sobre o mundo além do som.
Em Todo o silêncio, Diego del Río constrói uma história comovente que respeita a comunidade que representa na tela. Suas atuações fortes dão vida a um roteiro muito interessante que introduz o público às diferentes nuances da situação e permite que ele se deixe levar pela jornada de sua protagonista.
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