quarta-feira, 6 de abril de 2022

Respire(França, 2014)



Quando Sarah (Lou de Laâge) aparece pela primeira vez na escola, ela carrega consigo o glamour autoconsciente da "garota nova". Ela fuma cigarro da Nigéria e fala sobre sua mãe que trabalha para uma ONG na África. Na aula de ginástica, ela pula na trave de equilíbrio, de pé suspensa no ar, com uma perna esticada para trás, uma visão de quietude e autoconfiança. Sarah é uma sedutora.

A tímida Charlie (Joséphine Japy) fica emocionada quando Sarah parece a escolher como sua melhor amiga. A vida doméstica de Charlie é perturbadora. Seus pais (Isabelle Carré e Radivoje Bukvicon) estão tão absortos em terminar, voltar a ficar juntos e depois terminar novamente.

Charlie e Sarah passam horas no telefone juntas, fumando no banheiro da escola, saem para dançar, seu envolvimento é tão hermeticamente fechado que é como se ninguém existisse no planeta além das duas.


A diretora Mélanie Laurent traz uma explosão emocional que varre tudo em seu caminho, e, finalmente deixa você atordoado. A cineasta filma a adolescência e seus tormentos com a precisão e carregada por suas duas heroínas, Ela polvilha sua trama, livremente inspirada em um romance de Anne-Sophie Brasme, explorando a psique jovem feminina colidindo os diferentes elos que os personagens amarram.



Por sua vez, é a admiração, a amizade, o ciúme, a falta, o medo ou mesmo o pavor que cada uma das duas jovens carrega , que nos fará sentir uma montanha-russa emocional e ao mesmo tempo é a história de uma amizade extraordinária cuja toxicidade aos poucos invade a tela.

O filme decola assim que o período de lua de mel termina. A verdadeira força de Respire está no fato de que Sarah não é vilã, embora seu comportamento seja muitas vezes monstruoso. Ela eventualmente percebe o interesse romântico de Charlie por ela como intrusivo, mesmo que ela tenha cortejado Charlie desde o início.


Assistir aos acontecimentos é quase uma experiência desoladora. As observações cortantes de Sarah sobre o comportamento de Charlie carregam verdades, por mais dolorosas que possam ser. Charlie precisa deixar para lá. Mas Sarah deu a ela algo. Ela queria, pertencimento, importância, e agora ela não quer deixar.


A diretora nunca deixa sua história virar clichê. Isso é  bem observado, na histeria de uma nova amizade, como em Almas Gêmeas(1994), de Peter Jackson, e os momentos em que o abismo se abre, latejando  sob o que antes parecia perfeito.



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