quinta-feira, 14 de abril de 2022

Lola e o Mar(Lola vers la Mer, Bélgica, 2019)


Quando Lola(Mya Bollaers), uma garota trans de 18 anos, descobre que finalmente poderá fazer uma cirurgia, sua mãe, que deveria arcar com os gastos, morre. Para respeitar seus últimos desejos, Lola e seu pai, que não se viam há dois anos e que se opõem a tudo, são obrigados a ir para a costa belga levar juntos às cinzas. Ao longo do caminho, eles perceberão que o resultado da viagem pode não ser o que eles esperavam.


O filme de Laurent Micheli, não se propõe a uma discussão profunda sobre identidade de gênero, não aquele gênero que estamos acostumados a nos ver atribuídos ao nascimento. Não há questão de fluidez, já que a heroína nascida Lionel vive e se vê como Lola, uma jovem mulher.


Algumas semanas antes da cirurgia que permitirá que ela seja e habite seu corpo como Lola, equipada com um skate que quase nunca deixa, ela sai da casa da família para ficar em um abrigo com seu amigo Samir, interpretado por Sami Outalbali, de Sex Education.

Lola quer assistir ao funeral de sua mãe, mas infelizmente foi antecipado. Oportunidade de descobrir a tensa relação entre Lola e seu pai que rejeita e recusa aquele que, para ele, é Lionel. 

Isso se desenrola como um road movie, onde dois seres completamente opostos viverão parte da jornada atrás de portas fechadas de um carro onde momentos de tensão, ternura, desentendimentos e disputas se sucedem, e claro há doses de transfobia.

Para quem está numa fase de transição, para este pai viúvo precoce, marcado pela dor, é uma viagem quase iniciática que farão em direção ao mar, para que as cinzas da mãe e da esposa possam ser espalhadas na costa. Uma parada em um bordel lhes dará a oportunidade de se descobrir, ou pelo menos tentar fazê-lo, graças à chefe do estabelecimento interpretada por Els Deceukelier, de Faca no Coração(2018).

Lola e o Mar é lindamente filmado, com o clima e o cenário desempenhando um papel importante da ação na tela. Igualmente acontece com a trilha sonora, com canções clássicas de Maria Callas, Culture Club e 4 Non Blondes, ilustrando momentos, assim como Bird Gerhl, de Anthony and the Johnsons.


O filme deve muito aos seus dois intérpretes, a começar por Mya Bollaers, transgênero, cujo primeiro papel no cinema está aqui, e Benoît Magimel que traz um lado cru de seu personagem. O diretor apresenta o mundo nas fronteiras, desconhecido ou pouco conhecido por muitos. Portanto, este é um filme que dá uma nova vida e um ar de frescor ao cinema belga. 


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