quarta-feira, 8 de março de 2023

Isolamento Esplêndido(Splendid Isolation, Países Baixes, 2022)

Isolamento Esplêndido começa com uma série de imagens aéreas da natureza, campos, prados, pântanos, florestas, como se fossem abstraídas do espaço humano. A música que o acompanha, sombria, arrepiante, instrumentalmente difícil de identificar. De forma igualmente fantástica e inexplicável, duas mulheres pareciam chegar à praia. Sua missão secreta é ressuscitar sua própria identidade com os restos de luz e defendê-la da tempestade devastadora que está prestes a atingir sua casa idílica.

A obra da cineasta polonesa Urszula Antoniak é extremamente pessoal, o que se reflete sempre não só nas próprias histórias e nas mulheres retratadas, mas sobretudo no enobrecimento do corpo nu, expondo-o visivelmente como dominante compositivo e tornando o filme numa espécie de autoexorcismo.

Hannah(Anneke Sluiters) está sempre vestida de branco, como um fantasma assombrando esta cabana. Anna(Khadija El Kharraz Alami), por outro lado, com cabelos maravilhosamente cacheados e vestida de preto da cabeça aos pés, parece estar de luto há muito tempo.


O encontro delas é realmente um flerte de longa data, com  closes românticos separados por uma janela embaçada, sua plasticidade momentânea causada pelo vapor quente lançado sobre uma superfície transparente marca uma fronteira que as amantes jamais conseguirão ultrapassar.


O impacto do Covid-19 no filme e em toda a produção é a maior força que molda a narrativa. Segundo a diretora, Isolamento Esplêndido surgiu especialmente por sua ligação com o marido durante o período do vírus. A profunda intimidade entre os dois também criou um abismo insuportável de medo da morte causado pela doença, resultando num isolamento seriamente imperfeito.


A pandemia pode ter deixado marcas na própria artista, mas não parece ter causado nenhum impacto negativo no processo de filmagem. Isolamento Esplêndido é um estudo construído com precisão da psique feminina, do gênero de obras fortemente enraizadas com o trabalho de Ingmar Bergman, algumas tomadas até sugerem diretamente um aceno para o diretor sueco. 


Enquanto Isolamento Esplêndido está em busca de um arco-íris em profundidade, quando olhamos para a paleta de cores da linguagem da câmera, podemos nos deparar com um espectro de tons muito escuros. Além disso, a arquitetura da casa representa o reflexo de um labirinto completamente vazio e longe dos excessos.

Isolamento Esplêndido, que descreve as dificuldades de conexão, união, comunicação e reside na linguagem mais abstrata; é muito mais que um fantasma que vagueia despercebido entre nós.



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