terça-feira, 7 de março de 2023

Meu Lugar no Mundo(Mi Vacio y Yo, Espanha, 2022)

Meu Lugar no Mundo, do documentarista espanhol Adrián Silvestre, mistura gêneros para manter em primeiro plano uma pessoa transgênero, Raphäelle (Raphäelle Perez; coautora do argumento), que chegou a Barcelona da França em busca de si mesma e recebeu um diagnóstico de disforia. Raphäelle trabalha em um call center, se veste e se define como mulher, pois quer se tornar uma "garota de verdade" e anseia pelo amor verdadeiro.


O filme é focado nela e em suas experiências emocionais e sexuais cotidianas, lidando principalmente com a questão da identidade (trans)gênero, mas também com as diferenças entre homens, mulheres e pessoas. Para Silvestre, não há diferença essencial. Eles são todos seres humanos em primeiro lugar.


‘A normalidade não existe. Cada um é único em seu gênero’. Raphi é extremamente autêntica e relacionável em sua vulnerabilidade e melancolia, alguém que apenas almeja a liberdade e o direito de ser quem é, de se sentir aceita e inserida em uma sociedade que muitas vezes condena e não tolera o diferente.


Meu Lugar no Mundo é sobretudo um estudo de personagem, e do tipo mosaico. Acompanhamos Raphäelle durante suas consultas com uma psicóloga e uma cirurgiã sobre vaginoplastia, suas reuniões em um grupo trans cujas membras trabalham não para "mudar a si mesmas", mas como elas "experimentam o mundo".


A câmera, da diretora de fotografia, Laura Herrero Garvín, beija a protagonista, filmando-a em planos simbólicos, por diversos lugares de Barcelona. No filme anterior de Silvestre ele também trabalhou a questão trans, o documentário Sedimentos(2021). Novamente, Meu Lugar no Mundo  parece beber bastante do clássico Vestida de Azul(1983), principalmente nas cenas didáticas de reuniões.


A experiência documental do realizador a acompanhar revelou-se crucial para o filme. Silvestre permite que Raphäelle seja quem é, tenha seus próprios anseios e sonhos, construa a história da personagem a partir de si.

Raphi com grande sinceridade pessoal se abre para compartilhar sua própria transição de identidade e imagem, com insegurança mas sobretudo com muita coragem e generosidade com os espectadores.


Do começo ao fim de Meu Lugar no Mundo há uma metamorfose emocional na protagonista que bravamente se despiu por dentro, mostrando-se como ela é, com suas qualidades e fraquezas. Dona de sua história, antes levada para o teatro, o filme é um exercício extraordinário de honestidade. 


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