domingo, 30 de julho de 2023

Stranizza D'Amuri(Itália, 2023)

Stranizza d'amuri, estreia de Giuseppe Fiorelli na direção, é ambientado na Sicília, em 1982. Em uma pequena vila na província de Catânia, dois adolescentes, Nino(Gabriele Pizzuto) e Giorgio(Samuele Segreto) se encontram por acaso em uma tarde de verão. Primeiro eles se tornam amigos e depois se apaixonam. 

O ponto de partida da história entre os dois jovens protagonistas é uma batida de carro. Sua colisão na convergência de duas estradas rurais, gera a luz de um sentimento que não é, antes de tudo e necessariamente, paixão física. Uma luz que não permite ver o estigma de que, com um acidente, algo está prestes a atingi-los.


Os pais, no entanto, não aceitam a relação, pois já não toleravam a homossexualidade de Giorgio, muitas vezes vítima de abusos. A ligação, de fato, não é considerada admissível. Em vão, as duas famílias tentarão manter os meninos afastados. Enquanto isso, toda a Itália está colada à televisão para a Copa do Mundo e espera uma vitória.


Stranizza d'amuri é um longa cheio de sensibilidade, delicado, respeitoso e contido em sua sensualidade. Apesar de baseado em fatos reais,  este não é um filme ou tese investigativa. É a história da intolerante província siciliana do início dos anos 80. Uma pintura apropriada de todo o sul, não só da Sicília, a terra do diretor. Mas também os produtos da terra, o trabalho árduo e honesto todas as manhãs, o cansaço. Tudo é pintado com as cores quentes do sul, realçadas pela fotografia de Ramiro Civita.


A maior parte da obra é dedicada à história da vida da aldeia e ao conhecimento e amor dos dois jovens. Ele consegue ser despreocupado, leve, apesar de tudo. Cada personagem, na verdade, é delineado de forma complexa e caracterizado por nuances opostas, que conseguem fazer, pelo menos em parte, com que a complexidade da história e de um tecido social, cultural e, sobretudo, familiar não seja fácil de digerir. 

Quando Nino, que trabalha com pirotecnia, mostra a Gianni seu álbum com os desenhos dos vários fogos de artifício, ele explica que cada um tem sua forma e cor e que, assim, cada uma tem seu significado. O presente que Nino dá a Gianni é uma explosão pirotécnica romântica, no céu de um estádio deserto cujo reflexo multicolorido nos rostos jovens ignora qualquer possível epílogo trágico de uma história de amor nascida para não ser.


No plano social, a Sicília de Stranizza d'Amuri é a de mais uma contradição: machista, patriarcal, tradicionalista, mas que dá origem ao primeiro grupo gay na Itália, como aponta o próprio diretor  que opta, com razão, por não incluir no longa o aspecto mais sombrio dos acontecimentos dos quais é tratado mas transmitir, na natureza da mensagem, um eco final.


O FILME É BASEADO EM FATOS REAIS, NO ENTANTO, ESSE ÚLTIMO PARÁGRAFO PODE CONTER SPOILERS:


Stranizza d'amuri adapta livremente a história de Giorgio Agatino Giammona e Antonio Galatola, dois jovens que foram mortos em Giarre, na província de Catânia, em um crime com uma clara matriz homofóbica, do qual, o culpado nunca foi identificado. 



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