segunda-feira, 10 de julho de 2023

20.000 Espécies de Abelhas(20.000 Especies de Abejas, Espanha 2023)



20.000 espécies de abelhas é um título tão belo e sugestivo. O sol bate no vilarejo catalão quando uma família sai do carro. Após a separação, Ane (Patricia López Arnaiz) voltou para sua cidade natal, nos Países Bascos, com seus três filhos para o batizado de um sobrinho. Lá ela encontra sua mãe, Lita (Itziar Lazkano), uma fiel católica de quem Ane está afastada. E tem a tia-avó Leire (Sara Cózar), que é apicultora.

Ane espera que a disforia de gênero de sua filha Coco (Sofía Otero) encontre algum descanso no idílio rural. Mas Coco não pode e não quer ignorar as diferenças. Enquanto Ane quer libertar sua filha, esta criança abre uma gaveta e tira um vestido.Porque Coco, que ontem se chamava Aitor, não quer mais ser chamada assim; seu nome verdadeiro é Lucía.

20.000 espécies de abelhas conta a história de um verão catalão e a busca de uma criança por identidade. Ele também fala de mulheres de três gerações que precisam se unir pelo bem da criança. Como as abelhas homônimas que a tia de Lucía mantém como apicultora, cada mulher assume um papel específico na estrutura familiar.

Mas, como acontece com as abelhas, as picadas têm um efeito curativo. Ane também usa seu mantra para esconder suas próprias inseguranças. E a diretora Urresola Solaguren usa a busca de identidade de Lucía para confrontar Ane com sua própria história familiar.

Ane é artista plástica e está trabalhando muito em um novo projeto. Dessa forma, ela tenta se separar de seu falecido pai, que caiu em descrédito na aldeia por tirar fotos de meninas nuas. Olhares são implementados: o olhar masculino do pai sobre o corpo feminino. A reinterpretação de Ane de sua visão de seu próprio corpo. 

O mais impressionante é a atuação da jovem Sofía Otero, de 8 anos, premiada com o Urso de Prata, na Berlinale, em 2023, que torna as emoções complexas de Lucía incrivelmente palpáveis ​​e permite que Estibaliz Urresola Solaguren conte sua história com confiança através dos olhos da jovem protagonista, como Céline Sciamma, em Tomboy(2011).


As interações entre Lucía e sua mãe, em particular, têm um grande peso dramático. De um lado, há uma criança que ainda não consegue articular seus sentimentos e agride verbalmente; de ​​outro, uma mãe desamparada que quer dar apoio e espaço à filha ao mesmo tempo.

O vínculo que Lucía gradualmente forma com seu irmão, Eneko (Unax Hayden), nos mostra que ela se relaciona mais com ele do que com qualquer adulto. Ambos estão na fase de adaptação ao mundo como o encontram, em vez de tentar interpretá-lo através de regras estabelecidas, e é isso que dá ao filme seu rico senso de possibilidade.


O longa é sensível e sincero sobre a identidade de gênero de uma criança, mas também sobre o contexto em que surge, com uma mãe em crise sentimental e profissional, uma tia simpática que a introduz ao amor pela natureza, através da apicultura, uma amiga de sua idade que não a julga pelo que diz ser, uma família, enfim, que desistirá quando ficar claro que Cocó, que não quer ser Aitor, finalmente quer ser Lúcia, apenas Lúcia, nada além de Lúcia.

Em uma clima realista, o filme flui com facilidade mostrando parentes invisivelmente divididos em duas partes, Tudo é muito valioso, um olhar sutil, quase 'voyeur', no seio de uma família cujos conflitos, muitas vezes imersos, emergem de vez em quando com toda a intensidade.



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