quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

Chucky(Canadá/EUA, 2021)



Após uma famigerada e moderna adaptação do filme, O Brinquedo Assassino(2019), coube ao criador da franquia, Don Mancini, levar o personagem para a televisão. E não poderia haver escolha mais acertada, a série Chucky, da SyFy e USA Network, mantém a essência do boneco e possui uma abordagem um tanto autobiográfica no personagem de Jake(Zackary Arthur ), um adolescente gay, de 14 anos, cujo pai não aceita a "crescente identidade sexual e romântica" do menino.

A série começa após os acontecimentos finais de Cult of Chucky (2017), o suspense coloca o personagem titular "na estrada para uma exploração sexual" após transferir sua alma para um corpo feminino. Conhecemos então Jake, que compra, num bazar, o boneco vintage Good Guy, para uma instalação artística que está criando, sem imaginar pelo que lhe espera.

Mais tarde, o crescido Andy Barclay(Alex Vincent ) liga para o menino e sugere cautela, ele descobre que o brinquedo está possuído pela alma do assassino em série Charles Lee Ray, que nesta forma é conhecido como Chucky, ainda na voz de Brad Dourif. Jake logo se torna suspeito de uma série de eventos estranhos envolvendo o boneco, que desencadeia uma onda de assassinatos chocantes pela cidade.

Chucky coloca em cheque a dualidade de seu protagonista,  assim como de outros personagens, que após sofrer inúmeras manifestações de bullying da colega Lexy(Alyvia Alyn Lind ), se questiona sobre o caminho do bem ou do mal. Mas Jake tem personalidade própria e não é tão manipulável nas mãos do boneco.


Com o protagonista indo morar na casa de seu tio Logan, interpretado pelo outrora ídolo teen Devon Sawa, e o primo Junior(Teo Briones), mais acontecimentos estranhos começam. A obscuridade do humor da série é tão sagaz quanto sua violência. A cena em que Chucky fala à Jake que não é preconceituoso pois possui uma criança queer, é impagável!

O personagem Devon(Björgvin Arnarson), filho da investigadora Kim Evans(Rachelle Casseus) é o interesse romântico do protagonista, ele transmite ternura em seu olhar. Ao longo da série, ele irá junto com os outros adolescentes, formar o típico grupo que tenta combater um slasher num bom filme de terror.

Em algum lugar de um hotel em Hackensack, reluz Tiffany, Jeniffer TIlly, e uma possuída Nica Pierce(Fiona Dourif), que são vistas vivendo lá com duas vítimas (um que já está morto) mantidos como reféns. As duas entram em uma discussão que leva Nica a recuperar temporariamente o controle de seu corpo, mas naquele momento fica clara sua relação, no mínimo, homoafetiva.

O sexto episódio da série, reafirma ainda mais, que a série bebe de outras fontes, ao fazer uma homenagem ao clássico Cabo do Medo(1991), de Martin Scorsese, com um episódio ironicamente chamado Cape Queer. A atração exibe cenas e cita diversas referências ao filme protagonizado por Robert de Niro.


Algumas coisas, no entanto, parecem não funcionar na série, como as cenas de flashback, que revelam os detalhes do casal Charles Lee Ray e Tiff, as sequências, com um  tom granulado são menos interessantes que o resto. Em compensação, a abertura da série, a cada episódio exibindo diferentes e impactantes objetos que formam a palavra Chucky, é linda!

A trilha inclui Billie Eilish, Kim Petras, The Go Go’s, Eletric Youth, Modern Art, Yeah Yeah Yeahs, Madalen Duke, Boy Harsher, Big Big Trouble, Black Devil's Disco Club, Queen, e outros nomes da música pop/indie.

Here’s Chucky! Com referências ao O Iluminado(1980) e Frankestein(1931), o último episódio chega revelando as reais intenções do boneco assassino. ALERTA DE SPOILER: Após fazer Junior matar o pai, ele completa um ritual que irá possuir dezenas de outros bonecos Good Guy. Andy corre contra o tempo para salvar todos os adolescentes e Tiff e Nica tem um mórbido desfecho. É um episódio de catarse coletiva, que serve muito do que esperamos pela temporada inteira, e encerra de maneira genial e absolutamente criativa.

Apesar de não ser perfeita, Chucky foi uma grande e acertada aposta para a televisão. A série chega ao fim mostrando, que tem muito potencial para novos episódios. Acompanhar as loucas ideias de seu showrunner Don Mancini, que conectam os filmes à série, com alguns de seus personagens originais, é uma delícia! Além do mais, a atração consolida o legado do personagem e o identifica de uma vez por todas como um ícone da cultura POP. Após uma bem sucedida estreia, com 8 episódios, com de cerca de 45min, a segunda temporada de Chucky já foi anunciada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário