sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

TOP 10 SÉRIES LGBTQIA+ 2021

Em 2021, a temática LGBTIQA+ continuou se destacando e atraindo o público para séries, seja em novas temporadas ou em inéditas e necessárias atrações que sempre destacam a relevância em abordar o assunto. Os canais e as plataformas investiram em temas bastante variados, teve drama biográfico, clássicos de horror, visibilidade trans, trajetória do HIV e a eterna descoberta pela identidade sexual. Ah, e antes que me perguntem onde está Veneno(2020), está no primeiro lugar da lista do ano passado. Então vamos ao que teve de melhor em séries LGBTQIA+ no ano que termina hoje, segundo o @cinematografiaqueer.

 10 - American Horror Story: Double Feature(EUA, 2021)

Intitulada Double Feature, numa provável referência à The Rocky Horror Picture Show(1975), e dividida em duas partes, a décima temporada de American Horror Story, série antológica de Ryan Murphy e Brad Falchuk, foi sem dúvida uma de suas piores. Mas vamos aos aspectos positivos que o legado da série nos proporciona. A primeira parte Red Tide fez uma inteligente analogia entre uma pílula, vampirismo e dependência química e contou com o retorno do outrora astro mirim Macaulay Culkin. Quem tomava o comprimido preto desenvolvia seus maiores potenciais ao mesmo tempo que sede por sangue, mas se a pessoa não tivesse um grande talento se tornaria apenas uma criatura noturna. Foi bastante interessante ver os personagens de Sarah Paulson, Evan Peters, Leslie Grossman, Lily Rabe, Frances Conroy, Finn Wittrock e Angelica Ross, que voltaria igualmente diabólica na segunda parte, passando por momentos obscuros enquanto uma atmosfera de Nosferatu pairava no ar de seus arcos dramáticos, porém o desfecho pareceu apressado e deixou muito a desejar. O que valeu no entanto, foram alguns momentos memoráveis como a participação de Eureka O’Hara e a crítica à exploração criativa de grandes corporações. Na segunda parte. Death Valley, entramos em um mundo de teorias de conspiração e aliens. Num clima noir, os episódios são ambientados em dois períodos, em preto e branco, quando os extraterrestres chegam na Terra e negociam com o governo do presidente Nixon e na atualidade, quando um casal homoafetivo é sequestrado por uma nave e engravida, o que é no mínimo inusitado. Outras aparições na fantasiosa trama incluem Marilyn Monroe, John Kennedy, Steve Jobs, Neil Armstrong e Stanley Kubrick. O caldeirão efervescente de ideias de Ryan Murphy parece não se conter ao entrar em ebulição e misturar muitos temas, enquanto deveria trabalhar melhor em um só. Ainda assim, a série é digna da lista, mas na última posição.

Criada pela adolescente Zelda Barnz, de 19 anos, e seu pai Daniel Barnz, que também dirige(seu outro pai, Ben Barnz, produz) Generat+on, segue um grupo de estudantes do ensino médio cuja exploração da sexualidade contemporânea testa crenças sobre a vida, o amor e a natureza da família em uma cidade conservadora. Na primeira cena, uma garota está sentada em uma praça de alimentação de um shopping gritando com sua amiga para terminar no banheiro. Delilah(Lukita Maxwell), está tendo um bebê, mas ninguém pode saber. Sua amiga enlouquece e tenta lidar com a situação, pesquisando “como dar à luz,” no Google. A partir dessa gravidez inesperada e seu fatídico parto é que os seguintes 8 episódios, de 30 minutos, irão se desenrolar. Destacam-se os personagens Chester (Justice Smith), um adolescente destemido, que se realça por seu visual fluído e ignora as suposições de gênero, e Arianna (Nathanya Alexander), uma jovem adotada por dois pais e bastante descolada



Special é baseada no livro de memórias I'm Special: And Other Lies We Tell Ourselves, de Ryan O'Connell, que estrela, escreve e ainda assina como produtor, da série que acompanha um jovem com uma leve paralisia cerebral. Após encarar uma jornada de descobertas na primeira temporada, a segunda  começa com Ryan mais independente, reforçando sua autoestima, e com o dobro de tempo nos episódios, com subtramas que serão muito bem trabalhadas ao longo dos 8, e últimos, capítulos seguintes. Ryan saiu do armário como gay e deficiente e está aberto para o amor, mas uma relação faz com que ele se sinta usado por um cara que fetichiza sua deficiência. Tudo irá mudar quando surgir Tanner(Max Jenkins), um dançarino atrativo, mas que tem namorado. Os laços maternais se fortalecem, as amizades também e a mãe, Karen volta à infância de Ryan para revisitar suas memórias. Mas no amor, a vida do personagem ainda está confusa mesmo tendo passado por diversas experiências, posições sexuais e tentativas.Além de muito especial, a série também traz um ineditismo por abordar de maneira tão singular um tema pouco explorado na mídia, e deixar uma mensagem poderosa de positividade, inclusão, maturidade e aceitação.


O que Você Queer, é uma produção original da TNT, de 6 episódios, de cerca de 25min. Criada e roteirizada por Bob Pop, famoso escritor e crítico espanhol, a série revisita suas memórias e conta uma bonita história de um homem superando suas diferenças para realizar-se na vida. Um dos aspectos mais importantes da atração é que seu protagonista Roberto, interpretado na fase adolescente por Carlos González e na adulta por Gabriel Sánchez, é gordo, o que o leva a eventuais ataques de gordofobia e homofobia, além de uma quebra de padrão dos corpos revelados em explanações LGBTQIA+. A narrativa não linear, nos permite passear pela vida de seu herói e embarcar numa aventura lúdica, colorida, cruel, realista e repleta de referências à Cultura POP. Mas também estamos diante de uma série que toca na ferida da sociedade onde mais dói. Por um lado, mostrando as reais consequências da falta de respeito que LGBTQ’s suportaram durante toda a sua vida, através de avaliações, conclusões, comentários, gestos e risos. A narrativa acompanha uma pessoa cujo propósito é ser quem ele é e buscar a felicidade. O que no final todos nós almejamos



Ganhador do Emmy, Ewan McGregor brilha do início ao fim de Halston, minissérie em 5 episódios da Netflix, com produção assinada por Ryan Murphy e direção de Daniel Minahan. Baseado na biografia Symply Halston, de Steven Gaines, a série conta a história de ascensão e queda de um ícone da moda. Quando Roy Halston atinge alguma fama por desenhar um chapéu usado por Jackie Kennedy, no início da década de 1960, os caminhos começam a se abrir para o jovem vindo de Indiana, e fã de Balenciaga. Amigo íntimo de Liza Minnelli (Krysta Rodriguez), que aparece numa primeira cena performando Liza with Z, o excêntrico designer tem a oportunidade de apresentar uma coleção numa Batalha de Estilistas, em 1973, no Palácio de Versalhes, e acaba despertando o interesse do investidor David Mahoney(Bill Pullman).Com o dinheiro vêm os excessos, o uso abusivo de álcool, cocaína, sexo com garotos de programa, e noitadas na fabulosa Studio 54, acabam lhe levando a Victor Hugo(Gianfranco Rodriguez), um jovem latino de intenções duvidosas que proporciona os momentos mais eróticos da série. Por toda a emoção por trás de festas, desfiles e glamour, a atração apresenta um símbolo e coloca em questão o comércio da indústria da moda.



Coube ao criador da franquia, O Brinquedo Assassino, Don Mancini, levar o personagem para a televisão. E não poderia haver escolha mais acertada, a série Chucky, da SyFy e USA Network, mantém a essência do boneco e possui uma abordagem um tanto autobiográfica no personagem de Jake(Zackary Arthur ), um adolescente gay, de 14 anos, cujo pai não aceita a "crescente identidade sexual e romântica" do menino. A série começa após os acontecimentos finais de Cult of Chucky (2017), onde o suspense coloca o personagem titular "na estrada para uma exploração sexual" após transferir sua alma para um corpo feminino. Conhecemos então Jake, que comprou, num bazar, o boneco vintage Good Guy, para uma instalação artística que está criando,  sem imaginar pelo que lhe espera. A série que aborda entre outros temas bullying e violência doméstica, chega ao fim mostrando, que tem muito potencial, força e criatividade para novos episódios. Acompanhar as loucas ideias de seu showrunner Don Mancini, que conectam os filmes à série, com alguns de seus personagens originais, como Tiff(Jeniffer Tilly), é uma delícia! Além do mais, a atração consolida o legado do personagem e o identifica de uma vez por todas como um ícone da cultura POP. Após uma bem sucedida estreia, com 8 episódios, com de cerca de 45min, a segunda temporada de Chucky já foi anunciada.



Em Manhãs de Setembro, série da Amazon Prime, Liniker vive Cassandra, uma mulher trans que trabalha como entregadora de aplicativo, de moto pelas ruas de São Paulo, e à noite faz cover da cantora Vanusa, no bar Metamorfose, da amiga Roberta(Clodd Dias). Tudo parece estar indo bem na vida da personagem, que está em um relacionamento estável com Ivaldo, Thomas Aquino, de Bacurau(2019), a quem chama carinhosamente de Filezinho. Um dia porém Leide(Karine Teles) bate em sua porta e apresenta o filho, de 10 anos, Gersinho(Gustavo Coelho). O arco dos personagens inclui ainda o casal maduro formado por Gero Camilo e Paulo Miklos, Ari e Décio, o primeiro é ex-padre e o segundo o músico que acompanha Cassandra nos espetáculo. Lindamente fotografada, a série, produzida pela O2 e dirigida por Luis Pinheiro e Daianara Toffoli , finalmente trouxe representatividade trans ao streaming numa obra nacional, com 5 episódios. E fez isso de forma sublime, homenageando um ícone da música brasileira, que percorre pela narrativa e nos leva a um iluminado gancho para uma nova temporada.


Sex Education chega à sua terceira temporada mostrando que ainda há muita história para contar. Otis(Asa Butterfield) finalmente está transando, secretamente com Ruby(Mimi Keene), a garota mais popular da Escola Moordale. Eric(Ncuti Gatwa) está em um relacionamento com seu antigo algoz, Adam(Connor Swindells). Todos estão fazendo sexo ao som de Everybody Dance Now.Todo mundo, menos Maeve(Emma Mackey). A personagem que teve o coração partido por Otis, está mais preocupada em relações familiares e curriculares, do que com a antiga “clínica do sexo”. Para limpar a imagem de “Escola do Sexo” entra em cena uma nova diretora, ironicamente chamada de Sra. Hope(Jemima Kirke). Suas ideias são ultrapassadas e retrógradas e vão totalmente contra o que Maeve, Otis e sua mãe Jean(Gillian Anderson) pregavam. Ela defende a abstinência e parece um pouco intolerante em relação à diversidade. Com 08 episódios, de cerca de 1h, a série, criada por Laurie Nunn, para a Netflix, chega ao seu último episódio com os personagens resolvendo suas relações voláteis, para sim ou para o não e resplandecem em cenas que enchem os olhos. Sex Education encerra o círculo dramático de seus protagonistas com uma excelência até então inédita.


A série britânica, do Channel 4 e distribuída internacionalmente pela HBO MAX, sobre a AIDS na Inglaterra, é brilhante, dolorosa e necessária. A produção chega num momento muito oportuno. Em meio a uma pandemia que não escolhe sexo, classe ou religião é sempre bom relembrar um vírus que estigmatizou e vitimou a população LGBTQIA+. Criado por Russel T. Davies, de Queer as Folk, a série de 5 episódios, se passa entre 1981 e 1991, período que a AIDS se expandiu na Europa, apresentando um cenário devastador. Alguns amigos que saem de sua cidade natal vão morar juntos num apartamento, o Pink Palace. São eles, Ritchie(Olly Alexander), Roscoe(Omari Douglas), Mukherjee(Nathaniel Curtis), Colin(Callum Scott Howells) e a destemida Jill(Lydia West).Em 1984, quando já se fala em AIDS o temido “Câncer Gay”, o vírus começa a se espalhar por Londres, os amigos do flat entendem que aquela é uma nova realidade, e uma luta que terão que enfrentar, seja na militância ou numa cama de hospital, condenados pela sociedade. Difícil segurar a lágrimas diante de um retrato tão realista, comovente, triste e necessário do HIV e seu rastro de morte. A produção conta ainda com participações luxuosas de Neil Patrick Harris, e do veterano Stephen Fry. It’s a Sin é um primor!

De forma sublime, empoderada e otimista, como só Ryan Murphy sabe ser, a aclamada série POSE chega ao seu final encerrando a saga de Blanca Evangelista(MJ Rodriguez), Pray Tell(Billy Porter), Elektra(Dominique Jackson), Angel(Indya Morre), Papi(Angel Bismark Curiel) e tantos personagens que moram em nossos corações. A atração termina fazendo história na televisão. Uma série que abordou tantos temas delicados e até hoje polêmicos, que deu visibilidade a tantas personagens trans e nos recontou a história do ballroom, que embora não tenha tido muitos holofotes nessa última temporada, foi a aliança entre todos os personagens. Mesmo com um gostinho agridoce no final, o que era esperado, já que a epidemia da AIDS foi um dos temas principais, a série é sobre esperança, amizade e irmandade. Acabou na hora certa e em altíssimo nível, mas deixará saudade. LIVE...WERK...POSE!

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