segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Wolf(Irlanda/Reino Unido/Polônia, 2021)



Wolf é sobre um jovem que sente que não pertence ao seu corpo. Que sua verdadeira condição é a de um lobo. Poderia o filme, de Nathalie Biancheri, ser uma alegoria para a transexualidade? Claro que sim!  A cineasta exerce um controle estilístico tão forte sobre o material que ela consegue fazê-lo funcionar. 

O ator britânico George MacKay, que aqui consegue exibir uma fisicalidade ainda mais intensa do que em 1917(2019), interpreta o personagem central, Jacob, que sofre de uma chamada disforia de espécie. Seus pais preocupados o enviam para a curiosamente chamada clínica True You, onde seus colegas pacientes incluem pessoas que pensam que são animais como um pato, esquilo, cavalo, panda, aranha e papagaio. A instalação também inclui uma paciente de longa data, a felina Wildcat (Lily-Rose Depp), cuja intimidade com o lugar aparentemente permite que ela vagueie pelo terreno à vontade. Poderia essa instituição ser uma crítica às clínicas de ‘readequação sexual’ legalizadas nos EUA? Sim!


Embora uma terapeuta gentil e empática (Eileen Walsh) conduza muitas das sessões destinadas a ajudar os pacientes a se reconectar com suas identidades humanas, a instituição é na verdade dirigida pelo Dr. Mann (Paddy Considine). Referido como “O Zookeeper”, sua abordagem é muito mais dura, caindo no sadismo. Para curar o infeliz Jeremy (Darragh Shannon), que se considera um esquilo, ele instrui o jovem a tentar escalar uma árvore usando as unhas como garras, com resultados previsivelmente terríveis. E ele incentiva Judith (Lola Petticrew), que se vê como um papagaio (e divertidamente se veste como tal), a pular de uma janela do segundo andar para ver se ela consegue, de fato, voar.

Jacob não está imune a tal tratamento, às vezes sendo forçado a usar uma coleira ou ficar confinado em uma gaiola. Seus instintos de lobo continuam a subir à tona, no entanto, enquanto ele vagueia ao redor da instalação de quatro e uiva na lua do entardecer. E sua conexão com Wildcat é definitivamente tanto física quanto emocional, como evidenciado por seus rituais de acasalamento animalescos. O vínculo crescente do par e os esforços de Jacob para sobreviver aos métodos terapêuticos cada vez mais perigosos do Zookeeper são o ponto crucial da história.


Embora as oportunidades alegóricas sejam abundantes, Biancheri felizmente evita ser muito pesada com elas. Ela também fornece as doses necessárias de sadismo, como fazer a garota papagaio viver de acordo com sua inspiração aviária, repetindo tudo o que ouve.

 

O que realmente faz o filme funcionar são as performances altamente comprometidas de seus três protagonistas. Considine oferece uma reviravolta assustadora enquanto o médico está tão firmemente convencido da eficácia de seus métodos extremos que está disposto a colocar seus pacientes em perigo. Instruídos pelo treinador de movimento, Terry Notary, cujos créditos incluem Avatar(2009) e o Hobbit(2012), os protagonistas empregam sua ágil fisicalidade para um efeito tremendo. Eles conseguem fazer a disforia de espécie parecer ardente como o inferno.


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