Animais conta a história de um crime homofóbico num imediatismo cinematográfico radical, quase insuportável. O diretor belga Nabil Ben Yadir se inspirou no homicídio de Ihsane Jarfi, o primeiro assassinato homofóbico na Bélgica do ponto de vista legal. Jarfi foi espancado até a morte em um campo perto de Liège na primavera de 2012, em um caso notório que muito lembra o de Daniel Samúdio, no Chile.
A ameaça já está fervilhando desde os primeiros minutos. Acompanhamos o muçulmano Brahim(Soufiane Chilah) na festa de aniversário de sua mãe e passeamos com ele em planos longos, filmados em um formato apertado, pela casa de seus pais. O que poucos dos muitos convidados sabem: Brahim é gay e está nervosamente esperando por seu parceiro.
Brahim foge para a vida noturna em busca de seu amigo e entra no carro de um grupo de homens em frente a um clube gay. Um erro fatal, porque os animais homônimos estão esperando: um bando de caras tóxicos que abusam de Brahim em uma verdadeira sede de sangue e se filmam fazendo isso.
No formato de stories do Instagram, imagens de crueldade verbal e física sem fim, o filme pinta um quadro muito difícil de olhar. Com um gesto de confronto voltado para o realismo, Yadir traz a misantropia e a homofobia para dentro da moldura.
Por fim, na terceira parte, o filme segue os passos de Loïc(Gianni Guetaff) um dos animais brutais, que ainda está patologicamente seguro de si mesmo. É um episódio cheio de reflexões entre a vítima e o opressor. Ambos buscam aceitação, amor e reconhecimento. Yadir descreve seus personagens e os mostra em seus ambientes sociais problemáticos.
Por mais polêmico que possa ser, como o filme mostra a violência, inclusive verbal, em detalhes a partir da perspectiva do perpetrador, é igualmente conveniente: esse desprezo pela humanidade que se tornou uma imagem não é esquecido tão rapidamente. O longa precisa doer, e arder, para abrir os olhos de uma sociedade cega.
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