segunda-feira, 19 de junho de 2023

Pixote, a Lei do Mais Fraco(Brasil, 1980)

Como Os Esquecidos(1950), de Luis Buñuel, Pixote obra prima de Hector Babenco, choca ao retratar uma juventude abandonada. Baseado no livro Infância dos Mortos, de José Louzeiro, o longa é uma imersão alucinógena na miséria que povoa as ruas do Brasil.

Pixote, de 11 anos, interpretado por Fernando Ramos da Silva, é levado para a Febem  junto com um grupo de outros menores, em São Paulo. A primeira noite que o garoto experimenta é verdadeiramente aterrorizante ao ver um colega jovem detido sendo brutalmente estuprado. Este momento singular é apenas o começo da brutalidade que os personagens principais menores de idade enfrentam em um sistema que deveria proteger e melhorar suas vidas, mas em vez disso, os corrompe.

Enquanto Pixote lida com a vida no centro de detenção, ele começa a fumar maconha, cheirar cola enquanto limpa os banheiros. Essa justaposição de um Pixote risonho no alto da brisa de cola com a sujeira do chão e dos banheiros revela o profundo desejo de escapismo.

O filme mostra Lilica(Jorge Julião), na primeira representação mais séria no cinema nacional, e comovente, da identidade trans. Depois que o namorado de Lilica é espancado até a morte pelos guardas, ela é considerada culpada. Este momento é um ponto de ruptura crucial do filme, pois todos os menores percebem que suas vidas estão tão ameaçadas sob custódia quanto fora no mundo real.



 
Após um tumulto, Pixote e outros, incluindo Lilica, Chico e Dito, escapam do centro de detenção durante a madrugada, deixando para trás aquele ambiente hostil. Essa fuga então leva a uma segunda metade mais livre, quando Pixote se junta aos outros, enquanto eles se envolvem com o tráfico de drogas com um facilitador de Lilica, interpretado por Tony Tornado.

Agora no Rio de Janeiro, após a participação em vários crimes, e serem enganados por uma oxigenada vivida por Elke Maravilha, Pixote, Lilica e Dito se tornam comparsas de uma prostituta mais velha, Sueli, interpretada pela grande Marília Pêra.

Nesses ambientes ásperos, os meninos são inocentes, chocados com o recente aborto de Sueli, e a mulher se torna sua amiga, cúmplice, mãe, amante e instrutora no jogo de roubar bêbados. O plano se torna mais bruto do que o imaginado, necessidades profundas e tabus vêm à tona.

Tanto Lilica quanto Sueli atuam como figuras maternas para Pixote. Ambas também dormem com Chico, figura paterna e principal amparo da família. O filme parece capturar o espírito do neorrealismo italiano. Incidentes em Pixote não aparentam estar configurados para as câmeras. O longa segue a miséria e a desgraça dos seus personagens, não importa o que eles façam ou digam.

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