Baseado no livro homônimo assinado pelo próprio diretor David Grieco, que conheceu e foi aluno de Pasolini, bem como um dos primeiros a chegar no local de sua morte La Macchinazione toma um rumo completamente diferente em relação ao filme de Abel Ferrara, de 2014, sobre a morte do grande intelectual italiano.
La Macchinazione acompanha primeiro de forma sutil, depois de forma cada vez mais incisiva, o cotidiano de um homem condenado pelas suas próprias paixões, intelectuais, políticas e carnais. David Greco expõe esse desejo constante de desvendar as causas do crime atroz de seu ídolo, um dos maiores poetas e realizadores da Itália.
Interpretado com uma agradável semelhança por Massimo Ranieri, Pasolini passa seus dias dividindo-se entre a montagem de seu último filme, Salò ou os 120 dias de Sodoma, a redação de seu romance, que ficou inacabado, Petrolio, as noites com garotos da estação (em particular com Pino Pelosi, o então único a ter cumprido pena pelo assassinato) e finalmente indo para a casa de sua mãe idosa (Milena Vukotic), de onde surgem os momentos mais afetuosos.
De vez em quando, enquanto está sentado à máquina de escrever, as imagens tornam-se subitamente preto e branco, talvez para sublinhar a aspereza da sua investigação sobre os poderes ocultos que governam a ENI e toda a Itália, ligados a um clima de massacres de Estado, que o colocam em risco.
A conspiração manifesta-se, mas sem demasiadas explicações, com o aparecimento fugaz de ambiciosos políticos, escutas telefônicas, polícias e proletários corrompidos pelo poder, estes últimos pela riqueza de um capitalismo que agita cada vez mais insistentemente seus desejáveis fetiches consumistas.
La Macchinazione é uma obra envolvente e emocionante, que em alguns pontos parece se afastar do crime de Pasolini, mas que, ao contrário, oferece o que pensar e um ponto de partida para uma reelaboração dos eventos ocorridos na noite de 1 para 2 de novembro de 1975.
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