segunda-feira, 26 de junho de 2023

Pedro Almodóvar, L'Insolent de La Mancha(França, 2023)

Através de seu trabalho consistente, Pedro Almodóvar tornou-se o maior nome do cinema espanhol.  Confrontando impulsos, drogas e sexualidade desenfreada, o diretor usou da insolência para distorcer identidades, permitindo ao longo do tempo o surgimento de um cinema pós-Franco colorido, desinibido e livre de qualquer tabu. 

O documentário, de Catherine Ulmer Lopez,  narra a trajetória, desde infância do diretor em La Mancha, na Espanha, sua profunda relação com a mãe e como isso influenciou em sua obra, sua paixão pelo cinema, muito bem costuradas com cenas de Dor e Glória(2019), sua ida para Madri, no final dos anos 1960, até o seu cinema mais politizado em Mães Paralelas(2021).

Em Madri, Almodóvar começou a trabalhar na Teléfonica, onde já desenvolvia um estudo de personagens, com uma abundância de erotismo e liberdade. Lá surgiu a subversiva Patty Diphusa, 'atriz de fotonovelas pornô'. A morte de Franco, possibilitou uma efervescência cultural culminando em um movimento chamado La Movida Madrileña.

La Movida vinha da dança, das drogas, do sexo, mas também do renascimento das artes. Pedro Almodóvar não só atuava na noite com um trio queer punk, ao lado de Alaska e McNamara, como também já desenvolvia curtas e preparava o lançamento de seu primeiro longa, o controverso, porém cult, Pepi, Luci, Bom y otras chicas de montón(1980).


Diante das lentes do cineasta, uma sociedade espanhola finalmente fora da escuridão emergiu. Lutou contra os clichês, ultrapassou os limites da família, religião, e sexualidade para que se tornasse mais humana e inclusiva.

Outro momento crucial do filme é o lançamento de Que Fiz eu Para Merecer Isto?(1984), no MOMA, em Nova York , e que começaria a projetar o diretor internacionalmente, culminando em sua indicação ao Oscar, pelo hilariante Mulheres a Beira de Um Ataque de Nervos(1988).

Sua colaboração com o diretor de fotografia José Luis Alcaine ganha espaço, ele depõe no filme e explica o processo de criação com o diretor. Uma explosão kitsch de cores, sempre destacando, com o uso de muita luz, o vermelho em momentos pontuais.

As trilhas, a cenografia, a metalinguagem e os livros, assim como as cores também são mencionados como uma espécie de personagens. Pedro Almodóvar concebe cada um deles, vive cada um deles, em cada frame de seus filmes está a sua essência.


A Flor do Meu Segredo(1995) é mencionado como um filme quase autobiográfico, e um ponto de virada na carreira do diretor. O próprio Almodóvar, sempre em entrevistas de arquivo, destaca Tudo Sobre Minha Mãe(1999), Fale com Ela(2002) e Má Educação(2004), como títulos de muita relevância e maturidade em sua obra.


O filme nos convida a analisar como essa extraordinária insolência se tornou, ao longo das décadas, o símbolo de uma liberdade artística, relendo a filmografia do cineasta, de acordo com as evoluções sociais da Espanha contemporânea.


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