Eu, Olga Hepnarová(Já, Olga Hepnarová, República Tcheca/Polônica/Eslováquia, 2016)

A estreia de Petr Kazda e Tomás Weinreb na direção, Eu, Olga Hepnarová, oferece uma paleta monocromática e planos demorados. Esta atmosfera desoladora é apropriada para uma menina que, embora não seja um nome familiar fora da República Tcheca e da Eslováquia, se tornaria infame em sua terra natal como a última mulher tchecoslovaca a ser executada.

Olga(Michalina Olszanska), é uma adolescente de Praga no início dos anos 70. As belas imagens em preto e branco, tratam de sua identidade, seu ego, sua rebeldia contra a família, a escola, as instituições, as regras de uma sociedade "normalizada" pelo regime soviético.

A atriz polonesa Michalina Olszanska, tão hipnotizantemente perigosa em The Lure(2015), emprega uma intensidade semelhante aqui, permitindo que uma vulnerabilidade brilhe. Cenas apaixonadas e francas de sexo sáfico também são bem tratadas, oferecendo uma das várias indicações de que a autoproclamada "aleijada sexual" Hepnarová não estava mais segura de sua própria psicologia ou motivações.

A história de Olga progride em um crescente de desespero, cinismo e desprezo pelos homens. O sofrimento antigo da menina solitária não encontra alívio no trabalho que lhe dá relativa independência, nem nas experiências amorosas que se tornam cada vez mais meras aventuras sexuais.

À medida que a linha do tempo atravessa a adolescência e entra no início da vida adulta, somos brindados com breves cenas de cenários envolvendo sua conturbada vida doméstica; suas passagens por vários hospitais psiquiátricos, onde sofre bullying de outros pacientes; seu emprego mercurial como motorista de caminhão, que proporciona apenas uma vida escassa; e esforços repetidos para garantir tratamento regular de saúde mental em meio aos dias difíceis do comunismo tcheco.

Seu passado de abusos e maus-tratos, que emerge cada vez mais na forma de ódio, raiva e, finalmente, explode na decisão suicida de perpetrar um massacre de inocentes na rua. Olga quer fazer com que os outros paguem indefinidamente  pelo sofrimento que sofreu e pelo desespero em que se encontra. 

Os argumentos de Olga circulam entre a loucura patológica e a lucidez crítica. A força do filme não está apenas nesse banho frio, onde a narrativa íntima se transforma em um complexo questionamento sociopolítico, mas sobretudo em todas as nuances com que os diretores enriquecem suas figuras. 

A figura fílmica de Eu, Olga Hepnarová permanece muito relevante em relação ao quadro histórico da época, mas também muito atual e universal, na medida em que toca não só as questões da adolescência e da juventude, mas também a eterna tensão entre o indivíduo e a sociedade.