terça-feira, 2 de julho de 2024

Chestnut (EUA, 2023)

Muitos jovens sentem um vão entre o fim da universidade e o início da carreira profissional. É como um purgatório, cheio de medo, melancolia e excitação por perder algo e ganhar o novo. Esse é o estado de espírito na estreia da roteirista e diretora Jac Crono, Chestnut.

O drama  gira em torno de Annie James (Natalia Dyer, de Stranger Things), recém graduada. Annie conseguiu o emprego de seus sonhos e está se preparando para se mudar para a Califórnia até o outono, mas hesita em deixar sua cidade universitária na Pensilvânia para trás. Essa hesitação é amplificada durante o verão, quando ela se envolve em um relacionamento com Tyler (Rachel Keller) e Danny (Danny Ramirez).


Chestnut não perde tempo, ele se move em um ritmo suave e introduz cada um dos personagens principais rapidamente. Outra vantagem do roteiro, de Jac Crono, é que os papeis além de Annie são bem escritos e, como a protagonista, são incrivelmente realistas. 


Annie se sente absolutamente autêntica como uma pessoa típica de vinte e poucos anos. Ela está tentando entender não apenas quem ela é, mas quem ela quer ser no mundo agora que se formou na faculdade. Partes de Annie ainda estão tentando sabotar isso, experimentar mais com suas escolhas, mas há esse peso dizendo a ela para decidir seguir em frente.


Chestnut se desenrola como se fosse a vida real. Não há um triângulo amoroso melodramático entre Annie, Tyler e Danny, mas ela tem interações com ambos, coletivamente e separadamente. Em meio a tudo isso, Annie lida com questões universais de mudança, felicidade e o que significa encontrar seu lugar no mundo. O longa é uma história comovente e memorável de amadurecimento para quem questiona seu caminho ou lida com as transições da vida.


Talvez o maior avanço do longa é que ele retrata a identidade queer de forma casual e relevante. A bissexualidade de Annie não enfrenta angústia ou turbulência; ela só existe como parte dela. Essa abordagem pessoal nos transporta para a Filadélfia de Annie. Imagens de ruas arborizadas e bares locais nos colocam diretamente em seu mundo. Fotografado por Matt Clegg, o cenário torna-se não apenas um pano de fundo, mas outro elemento que molda suas experiências. Sua familiaridade deve ter ressoado com Cron, sendo da própria cidade. Além do visual, o filme traz uma trilha sonora que acentua perfeitamente sua história. 


Throuple(EUA, 2024)


Throuple, de Greyson Horst, é uma comédia romântica com uma sensação de exploração romântica em meio à energia feroz de sua cena trisal. O filme segue o cantor e compositor Michael (Michael Doshier, que também escreveu o roteiro) à deriva e musicalmente sem inspiração... pelo menos até conhecer um casal gay  com relacionamento aberto.


Michael tem medo tanto de perseguir seus sonhos musicais quanto de sua intimidade romântica. Sua fuga para um mundo ideal é possibilitada por sua melhor amiga, que está ansiosa para acertar as coisas com sua nova namorada e o impulsiona.


No entanto, ele tem um encontro casual em um clube uma noite com um casal gay (Tommy Heleringer e Stanton Plummer-Cambridge) que têm um "casamento aberto" e isso está prestes a mudar tudo. Há uma atração física imediata entre os três, mas também uma hesitação mútua muito definida sobre como eles devem proceder.


O casal desafia Michael a se abrir sobre seus sentimentos e até escrever algumas músicas novas. E, por sua vez, Michael acende uma chama em seu casamento que eles temiam ter desaparecido há muito tempo. Mas o mundo de Michael é jogado no caos quando todos tomam decisões que alteram a vida e o deixam abandonado. 


Usando edição em tela dividida, fotografia de localização nítida e legendas coloridas em meio ao barulho das muitas sequências de shows e performances, a energia do Throuple vem tanto de seu trio central quanto da comunidade criativa da qual eles fazem parte. Um filme indie, em sua essência, com uma história docemente realizada de crescimento.


segunda-feira, 1 de julho de 2024

TOP 10 - 1º SEMESTRE DE 2024

 

Com a chegada de julho, já é possível fazer um balanço do que o Cinema LGBTQIA+ nos trouxe de melhor até aqui. A lista que segue inclui títulos, de 2023 e 2024, alguns lançados, vistos nos cinemas ou streaming, outros não, mas que vi por meios alternativos, e segundo essa página são os melhores do ano até agora!


10 - The Missing(Iti mapukpukaw, Filipinas/Tailândia, 2023)


A animação, de Carl Joseph E. Papa, lança luz sobre os efeitos indescritíveis do trauma e do luto. Mas, mais importante, ressalta o papel vital que uma dose saudável de sistema de apoio pode desempenhar para ajudar alguém a navegar em sua jornada para derrotar seus monstros pessoais.


09 - Rivais (Challengers, EUA, 2024)


Luca Guadagnino e o roteirista Justin Kuritzkes, voltam a trabalhar juntos, desta vez em uma história de ascensão ou incursão atípica ao gênero de filmes esportivos. Embora também haja muito tênis jogado, o longa é mais sobre o amor, o sexo e as energias que eles liberam.


08 - All the Colours of the World Are Between Black and White(Nigéria, 2023)



Ganhador do Teddy, em 2023, no Festival de Berlim, o filme escrito e dirigido por Babatunde Apalowo, e lindamente filmado por David Wyte, nos apresenta Bambino (Tope Tedela), que ganha a vida como um entregador que se desloca pela hostil cidade de Lagos em uma motocicleta, e também Bawa (Riyo David), dono da Click Photography,


07 - Queendom (EUA/França, 2023)

O documentário, de Agniia Galdanova, apresenta-se como um retrato que se expande progressivamente para um olhar mais coletivo, onde Gena Marvin manifesta com sua performance como  ativista global representando um grupo de pessoas que não são aceitas em seu país, a Rússia.


06 - Sebastian (Reino Unido/Finlândia/Bélgica, 2024)



Sebastian, de Mikko Mäkelä, faz comentários marcantes sobre muitas dualidades da prostituição, bem como a desconstrução dentro da narrativa LGBTQIA+. Está longe de ser sutil, mas os temas levam a lugares interessantes.


05 - Femme(Reino Unido, 2023)

O filme conta a história de um artista drag queen chamado Jules (Nathan Stewart-Jarrett), que se torna alvo de um ataque homofóbico nas mãos de Preston (George MacKay) e seu grupo de amigos. Meses depois, Jules reconhece seu agressor em uma sauna gay e decide se vingar.


04 - Sem Coração (Brasil/França/Itália, 2023)



O filme, de Tião e Nara Normande,  é um microcosmo da própria vida repleto de momentos únicos e inesquecíveis, retratando um espectro de experiências humanas, da alegria à tristeza, da perda ao ganho, do medo do desconhecido à descoberta do amor profundo.


03 - Love Lies Bleeding - O Amor Sangra(Love Lies Bleeding, Reino Unido/ EUA, 2024)

Juntas, as mulheres, do filme de Rose Glass, explodem com uma paixão que não é mostrada apenas em suas cenas de amor, mas com a conexão de seus espíritos. Lou e Jackie imediatamente apoiarão uma à outra, não importa o que aconteça. 


02 - I Saw the TV Glow (EUA, 2024)

"I Saw the TV Glow" é um exame sonhador, mas com tons de horror, da experiência queer especificamente trans. Esse é um dos aspectos definidores da narrativa, que a roteirista e diretora Jane Schoenbrun, ela mesmo transgênero, tem destacado em aparições na mídia para que ninguém entenda mal as escolhas feitas. 


01 - Todos nós Desconhecidos (Reino Unido/EUA, 2023)


Muita gente não irá concordar, eu, porém convivo com o luto desde a infância e a conexão com o personagem Adam, de Andrew Scott foi imediata. O longa de Andrew Haigh é um acerto de contas com o passado, mas também um conto sombrio e melancólico sobre solidão e lidar com traumas.