quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Inferninho(Brasil, 2018)


Um número burlesco e desajeitado de uma cantora decadente de cabaré, abre Inferninho título do filme que também dá nome ao bar onde ocorre toda a ação. Num ambiente que até remete a Tatuagem e Paraíso Perdido porém muito mais decadente, vemos uma galeria de personagens bizarros um homem prateado, uma mulher maravilha de bigode e um coelho, que nos remete diretamente à Alice no País das Maravilhas, Donnie Darko e David Lynch.

O bar é comandado pela trans Deusimar, interpretada com brilhantismo pelo ator Yuri Yamamoto,  que após conhecer o marinheiro Jarbas(Demick Lopes), em uma referência à Querelle, passa a questionar suas escolhas. O longa, dirigido pelos cearenses Guto Parente e Pedro Diógenes, é bem incomum e traz diversas referências ao cinema e a cultura queer através da metáfora da solidão.

O tom alucinógeno que o filme propõe nos remete a uma experiência imersiva naquela universo tão deteriorado,com Mickey Mouse, Mulher Maravilha e Wolverine em estado de decomposição. 


Com uma estética ousada,  as soluções visuais escolhidas para ilustrar os momentos de Deusimar são verdadeiramente poéticas e lúdicas. O uso da tela verde se aplica muito bem aqui, quando a travesti nos faz embarcar numa espécie de sonho acordado ao som de Luz do do Sertão.


A virada do filme se dá quando Deusimar vende o bar e os personagens acabam todos sem rumo, é quando o Coelho têm então sua grande cena com a transexual que é posta a repensar seus valores e sua existência.


Inferninho, pode não ser uma obra prima, mas é um ótimo representante do cinema queer realizado no nordeste. O filme tem muitos méritos por ser uma obra surreal e uma verdadeira alegoria sobre a solidão de pessoas LGBTQIA+.

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