segunda-feira, 1 de agosto de 2022

Aftersun(Reino Unido/EUA, 2022)

Aftersun, o comovente filme de estreia da escocesa Charlotte Wells, vai direto na alma e no coração. O longa causou furor na Semana dos Realizadores, no último Festival de Cannes, onde agraciou a cineasta com o French Prize.

Em um resort na costa da Turquia, no final dos anos 1990, Calum(Paul Mescal), um jovem pai de 30 anos, e Sophie(Frankie Corio), de 11, são confundidos com irmãos. Tem a ver com sua aparência jovial, com certeza, mas também com o humor descontraído e cumplicidade que eles compartilham enquanto nadam, jogam sinuca ou filmam um ao outro.


Estas férias são também um adeus à vida a dois. Calum se separou da mãe de Sophie e deixou a cidade de Edimburgo, onde a filha deve voltar para a escola na próxima semana. Wells mescla impressões quase abstratas de um vínculo pai-filha não resolvido com uma observação social-realista afiada sobre britânicos no exterior.

Mas Sophie também tem muitas outras coisas em mente. Ela ouve garotas adolescentes se gabando de seus encontros. Ela começa seu despertar sexual interagindo com meninos e meninas, e mais tarde constatamos em sua figura mais velha(Celia Rowlson-Hall), que navega em memórias, o que já parecia óbvio.

A Sophie adulta permanece em segundo plano como uma figura sombria que quase não aparece. A ação pertence à sua memória. Com o olhar de uma observadora, ela se transforma em seu eu infantil e explora como pai e filha lidaram com a situação especial do momento.

A beleza das imagens ensolaradas e saturadas das cores, do diretor de fotografia Gregory Oke, e de enquadramentos ousados, muitas vezes expressam tanto a perspectiva inconsciente da jovem Sophie quanto a tentativa intensificada de seu eu mais velho de (re)construir uma imagem de seu pai que nunca será totalmente mudada.

Há uma tristeza profunda e efêmera no coração de Aftersun, Calum parece alegre, gosta de diversão e ação, mas está cada vez mais difícil reprimir sua depressão. Nas conversas entre pai e filha, às vezes surge que ele tem pouco dinheiro e não sabe exatamente como as coisas vão continuar.


E, no entanto, as memórias de Sophie estão cheias do desejo de abraçar seu pai. Charlotte Wells demonstra com esses momentos o quanto há de drama do ponto de vista dos envolvidos. Com essas férias, Sophie e seu pai se deram um presente para a vida, criaram um laço para levar com eles em seus caminhos separados.


A trilha sonora, recheada de hits dos anos 1990, dá o tom e traz All Saints, Aqua, Chumbawamba, R.E.M., Macarena,  e sequências transformadoras, seja ao som do britpop ,Tender, do Blur, ou de Under Pressure, do Queen com David Bowie.


Mas o que torna o filme especial não tem a ver com a história e sim como a forma que Wells dividiu a dinâmica entre pai e filha em momentos poéticos e completamente cinematográficos, com efeitos que permitem que uma versão mais velha da filha dance com o pai ao longo do tempo.



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