sábado, 12 de dezembro de 2020

Vestida de Azul(Espanha, 1983)


Muito antes de Pose e Paris is Burning, o diretor espanhol Antonio Gimenez Rico estava inovando ao retratar a realidade de transexuais em seu país, em um período, de transição, pós ditadura franquista. Vestida de Azul é simplesmente um ícone sobre transexualidade na Espanha, filme obrigatório para aqueles que pretendem ir mais a fundo no assunto, cujo Valeria Vegas, jornalista trans, responsável pela origem da série Veneno, onde o filme é citado, acaba de lançar um ensaio.

O filme  narra a história real de Lorena, Reneé, Nacha, Tamara, Eva e Josette, contadas por elas mesmas. Apesar de um documentário o filme é muito natural, parecemos estar vendo uma obra de ficção. De fato, alguns momentos são encenados. Os números burlescos, mostrando a imagem da coqueta, um striptese total ou apenas a rotina de uma trans, de origens ciganas, no início dos anos 1980, fazem com que o filme renda momento icônicos.


Cada uma das personagens é muito bem definida, e tem sua personalidade muito diferente da outra, o que enriquece o filme e faz dele um retrato, com um certo tom melancólico sobre infância, hormônios, transição e tudo o que acarreta uma vida transgênero. Quando estão reunidas, elas debatem de tudo mas são seus momentos sozinhas que nos levam a uma esfera de seu universo.


Existe uma cena angustiante de um implante de silicone. O assunto, aliás é unanimidade entre elas: Tetas. Elas mostram e falam sobre a relação com o seus seios, um dos maiores símbolos de feminilidade.

O filme, que na primeira cena mostra transexuais se prostituindo no parque, aborda todas as nuances da vida dessas transgênero e o mais importante, mostram à sociedade que elas são iguais a qualquer pessoa e que vivem suas vidas na mais perfeita naturalidade.

Vestida de Azul mostra a Espanha de Almodóvar de outro ângulo, mas é um recorte do que veio a fazer parte de seu universo anos seguintes. Em um momento toca inclusive La Bien Pagá, música que o famoso diretor usou no ano seguinte em Que fiz eu para merecer isso?. Precurssor, é um longa histórico e sensível. Um relato lindo e necessário.


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