Salò é uma notória adaptação do romance igualmente infame do Marquês de Sade, Os 120 Dias de Sodoma. No controverso filme de Pier Paolo Pasolini, no entanto, os quatro ricos libertinos franceses do século 18 se tornam quatro ricos fascistas italianos procurando maneiras de manter seu poder depois que o reinado de quase 21 anos de Benito Mussolini, como primeiro-ministro italiano, chegou ao fim.
O filme começa com um conjunto descontraído de cordas e trompas , seguido por belas cenas de Salò, uma pequena cidade localizada no norte da Itália. É a primeira e definitivamente não a última vez que Pasolini acalma o público com uma sensação de inquietação.
Eles sequestram nove rapazes e nove moças e se retiram para uma casa de campo. Uma vez lá, eles passam a atormentar, estuprar, torturar e matar seus prisioneiros. Em referência à Danthi Galieri existem quatro seções no filme: Antinferno, e os três círculos de Sade: da mania, da merda, e do sangue, e isso resume o teor desconcertante da obra.
A crítica social é clara, uma espécie de transposição genial: o niilismo de Sade é um bom ajuste para o culto da morte arrogante e aniquiladora que foi o fascismo. Pasolini utiliza de todo seu cinismo para cutucar as feridas da sociedade burguesa.Consistentemente citado como um dos filmes mais perturbadores já feitos, o último filme de Pasolini é igualmente reverenciado e ultrajante. Salò é tão cruelmente eficaz e chocante quanto era há quase 50 anos. Um filme atemporal, destinado para sempre a testar os limites do que pode ser mostrado.
É impossível assistir a esse tipo de degradação e não ser degradado por ela; e, de fato, esse parece ser o objetivo de Pasolini. Não só o final do filme, mas ele num todo nos permite uma experiência agonizante.
Pasolini montou Salò pouco antes de ser assassinado e nunca chegou a ver seu lançamento. Um marxista dedicado, o cineasta concebeu Salò como uma espécie de ‘foda-se’, com a intenção declarada de produzir um filme indigesto. Missão cumprida!
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