Andy Warhol e o roteirista e diretor Paul Morrissey foram colaboradores prolíficos nos anos 1960 e 1970, alcançando o apogeu comercial de sua parceria com os exagerados Flesh for Frankenstein (1973) e Blood for Dracula (1974). Mais típico da estética Warhol/Morrissey, no entanto, é uma trilogia de docudramas subversivos sobre moradores de rua, todos estrelados por Joe Dallesandro.
Tipificando uma certa estética do centro da cidade, graças a locais sujos, narrativas em ruínas e atores sem glamour, Flesh (1968), Trash e Heat(1972) oferecem olhares inabaláveis sobre o que as pessoas heterossexuais classificariam como estilos de vida desviantes. Essas são imagens desafiadoras de assistir, não apenas porque muito do que é mostrado na tela é transgressor, mas também porque Morrissey utiliza ferramentas bem mais explícitas que a nudez de Dallesandro.
Trash é a história de um dependente químico em desordem. Dallesandro interpreta Joe, um perpetuamente perplexo viciado em heroína, de Nova York, que passa o filme entrando e saindo de situações sexuais, embora seu único tipo de interesse seja conseguir drogas. O estilo é definido bem na primeira cena, porque a imagem de abertura é um close-up das nádegas de Joe enquanto ele recebe sexo oral de uma dançarina bem torneada. Incapaz de obter a resposta desejada, a artista realiza um strip-tease, mas o protagonista apenas fica deitado no sofá, ainda sem conseguir ter uma ereção.
Uma vez que esta sequência sem sentido segue seu curso, Joe vagueia em outras situações, eventualmente passando a maior parte de seu tempo com sua namorada subsexuada, Holly (interpretada pela transexual Holly Woodlawn). Vários momentos bizarros incluem Holly se satisfazendo com uma garrafa de Coca-Cola ou Joe procurando a veia certa para picar.
Trash tem um sabor grotesco em tempo real. A imagem tem uma qualidade levemente satírica, às vezes zombando dos excessos desleixados dos moradores de rua e às vezes deturpando o comportamento ridículo de diletantes ricos que se jogam no lixo por diversão. O efeito da soma de todo esse acampamento no nível da sarjeta é que Trash parece um filme de John Waters sobre dependentes. (Para quem não sabe, muitos dos personagens da clássica canção de Lou Reed "Walk on the Wild Side", notadamente uma certa trans chamada Holly e um bonitão chamado Joe, foram inspirados por membros da turma de Warhol.)
Contendo vários momentos de risada em voz alta, Trash é um retrato horrível de Nova York, quando era cheia de viciados e prostitutas. Assistir os protagonistas chafurdar na imundície traz uma estranha sensação, que é complementada pelos outros dois filmes dessa escatológica , porém única, trilogia.
Dá pra falar que nao quer ver o filme mas achou o comentário excelente?
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