"Estou planejando minha fuga", Nick (Kai Luke Brummer) brinca com sua mãe nos momentos iniciais do evocativo Moffie, de Oliver Hermanus. Este sensível jovem de 18 anos deve deixar sua casa para cumprir o serviço militar no dia seguinte e seria sensato seguir seu plano, porque estamos na África do Sul, em 1981, e ele está prestes a entrar no inferno escaldado de uma sádico treinamento do exército, de dois anos, destinado a moldar jovens em soldados prontos para lutar contra o comunismo e o "perigo negro" que se dirigem para a fronteira com a Angola.
A viagem de trem de Nick para o quartel, onde ele passa por brincadeiras de garotos adolescentes bebendo, brigando e vandalizando, cria o clima para o ambiente tóxico exclusivamente masculino em que ele está prestes a entrar. O longa é baseado na autobiografia de André Carl van der Merwe.
É claro, porém, que há mais acontecendo do que brincadeiras de macho quando o trem para em uma estação rural e um grupo de jovens se pendura na janela para lançar calúnias racistas e jogar um saco de vômito num homem negro.
Relutância em participar do racismo da era do Apartheid não é a única coisa que diferencia Nick de seus colegas. Ele é gay, ou um 'moffie' - gíria homofóbica do Afrikaans que é traduzida como 'bicha' nas legendas. Seu temível sargento berra repetidamente a palavra ao expor as leis da base. A pena por ser pego em uma posição comprometedora com outro recruta varia de punição corporal cruel a uma visita ao temido Ward 22, uma instalação anárquica que parece ter sido modelada em asilos para lunáticos da Grã-Bretanha vitoriana.
O caos deste campo de treinamento é pontuado por um flashback ensolarado de um momento formativo no despertar sexual do jovem Nick. No entanto, quando as atividades de treinamento incluem nadar nu no lago local, sessões suadas de vôlei sem camisa e treinamento de sobrevivência, onde os soldados se aninham em trincheiras de terra para se aquecer, controlar seus impulsos naturais não é tão fácil. É durante o último exercício, que Nick compartilha uma noite íntima com o robusto Dylan (Ryan de Villiers). Este encontro desperta os desejos reprimidos do protagonista, mas também coloca os dois homens em perigo.
Moffie desequilibra-se desde os segundos iniciais, graças à partitura de Braam du Toit que induz ataques cardíacos, com cordas atonais que parecem emanar da cabeça ansiosa de Nick. A fotografia ricamente texturizada e desbotada pelo sol, de Jamie Ramsay, combina com a intensidade musical, favorecendo close-ups de mão tão íntimos que você pode ver os poros dos atores suando. Faixas clássicas de Bach e Vivaldi em sua forma mais barroca contribuem para a atmosfera febril do filme.
Nenhum comentário:
Postar um comentário