Depois de expandir sua franquia para Tailândia, Reino Unido, Canadá, Holanda e Oceania, chegou a vez do premiado reality RuPaul’s Drag Race desembarcar na Espanha. Produzido pela AtresMedia Premium, a primeira edição do programa teve a missão de manter o formato original, que já apresenta certo desgaste, porém com tempero ibérico.
Na ausência de sua hostess oficial, o programa foi conduzido por Supremme DeLuxe, uma carismática e humanizada surpresa, e contou no painel de jurados com, os criadores da série Veneno, o casal Javier Calvo e Javier Ambrossi, ´Los Javis’, além da estilista em ascensão na Europa, a blasé Ana Locking. Coube a produção adaptar os bordões de RuPaul para o espanhol, como “Felicidrags” , “No la Cagueís” e terminar cada edição do programa entoando o icônico hino gay da Espanha, “A quien le importa”.
Barcelona, Madri, Valencia, as Ilhas Canárias e outras regiões da Espanha foram representadas. The Macarena, Drag Vulcano, a trans boliviana Inti, Arantxa Castilla La Mancha, a conceitual Hugáceo Crujiente, Dovima Nurmi, Sagittaria, a genérica de Aquaria, Pupi Poisson, a mais famosa do cast, Killer Queen e Carmen Farala, competiram semanalmente pela coroa.
Os desafios foram similares com os do formato americano, com números musicais, costura, comédia, roast, uma sátira da série espanhola Física o Química, o makeoker com um time de Rugby e um famigerado Snatch Game, onde as personagens mais conhecidas eram a Duquesa de Alba e a Monalisa, de Hugáceo Crujiente, que mal sabia sorrir. Parece que a equipe de roteiristas ainda precisa melhorar e usar referências, que mesmo espanholas, sejam mais universais.
Por outro lado, a passarela trouxe a tão esperada autenticidade hispânica ao programa. Ícones como a Veneno e Rosalia foram homenageadas, além das Drags precisarem recriar suas raízes espanholas e reinventarem, em roupas, obras de grandes pintores do país, como Dalí, Velásquez e Miró.
No episódio Mocatriz, divertido conceito para Modelo, Cantante y Actriz, inspirado na música de Ojete Calor, banda do ator Carlos Aceres, de Os Amantes Passageiros, a boliviana Inti, não suportou as críticas e desistiu da competição, deixando o palco para Dovima Nurmi brilhar enquanto todos os outros integrantes celebravam a canção.
Além de Carlos Aceres, convidados relevantes participaram da bancada: Paca la Piraña, Bad Gyal, Alaska, um dos maiores ícones LGBTQIA+ no país, Jon Kortajarena, a comediante Suzi Caramelo e a ganhadora do Drag Race Holanda: Envy Peru. As drags Samantha Hudson e Kika Lorace participaram do Snatch Game e o ator Brays Efe, de Paquita Salas, atuou como coach num desafio de comédia.
Pela primeira vez na herstória de Drag Race todas as músicas dubladas foram em espanhol: teve Mónica Naranjo, La Veneno, Bad Gyal, Fangoria, Ojete Calor, Rosalia e Chenoa. O pouco número de episódios, no entanto, impediu de explorar grandes divas do passado, como Lola Flores e Sara Montiel, ainda que o melhor ficasse guardado para o final.
Popular na Espanha, Pupi Poisson, conhecida por ser caricata e muito irreverente, acabou recebendo a faixa de Miss Simpatia. Carmen Farala, Sagittaria e Killer Queen chegaram à grande final. O último maxi challenge foi apresentado por uma irreconhecível Valentina, no telão. As drags iriam fazer um próprio clipe de U wear it well, música de RuPaul, coreografado por Carmelo Segura. Apesar de simples o vídeo ficou bonito, com as três terminando a dublagem no palco principal, para depois desfilarem seus melhores trajes drag.
Antes da decisão final, Carmen Farala, Killer Queen e Sagittaria tiveram que interpretar o sucesso La Gata bajo la lluvia, de Rocío Durcal, com todas as participantes reunidas no palco. Uma música maravilhosa para fechar a primeira edição do programa, apostando nas raízes e se apropriando do formato. Carmen Farala, além do trajeto impecável, consistente e maior número de vitórias, durante todo o programa, fez a performance mais impressionante, com a implacável troca de peruca, e acabou ganhando o cetro, a coroa e o prêmio de 30.000 euros.
Apesar dos detalhes a serem lapidados, a verdade é que poucos poderão dizer que Drag Race España não foi uma boa adaptação do formato original. No meio do caminho entre o estilo americano e o humor e as referências espanholas, o programa enfrenta agora um novo desafio: atrair a atenção do grande público. No final das contas, seria maravilhoso se as mensagens mais do que necessárias que as concorrentes têm lançado sobre leis trans, combate ao bullying ou as realidades de sexualidade e gênero, alcancem uma audiência que realmente precise aprender sobre isso.
Por essa exposição, muito divertido e interessante
ResponderExcluirFelicidrags